Corte Arbitral do Esporte recebe inúmeras cartas e proibição olímpica da Rússia pode atrasar

  • 03/03/2020

Cartas chegam à Corte Arbitral do Esporte diariamente agora. Grande parte da correspondência vem do Comitê Olímpico da Rússia pedindo à Corte para anular ou reduzir a proibição de quatro anos para o país participar de esportes globais imposta no ano passado pela Agência Mundial Antidoping (WADA).

Mas há também cartas de organizações interessadas no resultado e outras favoráveis à Rússia: a organização que administra o hóquei no gelo, os Comitês Olímpicos europeus e a Federação que engloba as associações internacionais de esportes globais, um grupo influente no meio dos organismos esportivos e organizadores de eventos.

Durante semanas os interessados têm feito à Corte intervenções relacionadas ao caso da Rússia - com perguntas sobre o procedimento, pedidos de esclarecimento, indagações sobre o processo de rotina. Mas de acordo com pessoas com conhecimento da correspondência, o volume de cartas desacelerou tanto o processo de arbitragem que a perspectiva de interferir numa terceira Olimpíada vem crescendo.

Sem um veredicto final da Corte, poderá ser impossível implementar a proibição - imposta depois da Rússia ser acusada pelo maior escândalo de doping na história dos esportes e tentar encobrir a situação - nas Olimpíadas de Tóquio este ano.

Em fevereiro, a Corte informou que o painel de árbitros que examina o caso acrescentou cinco organizações e diversos atletas russos como partes intervenientes. "Um cronograma para registro de pedidos por escrito foi estabelecido e irá até meados de abril de 2020", informou a Corte em um comunicado.

"As diretivas no tocante à realização da audiência serão estabelecidas numa etapa posterior", acrescenta o comunicado, esclarecendo que essa audiência não será realizada antes do final de abril e não será pública.

No momento, a Corte estabeleceu provisoriamente cinco dias para os trabalhos, entre 26 de abril e oito de maio. Mas essas datas podem ser mudadas à medida que as intervenções junto à Corte aumentam.

"Os aspectos procedimentais podem retardar a parte substantiva do caso", afirmou Gregory Ioannidis, advogado britânico envolvido em diversos casos em andamento na Corte. Uma decisão final deve demorar até quatro meses após a audiência, disse ele. Neste caso, potencialmente, qualquer decisão será tomada bem depois do início dos jogos, no final de julho.

A Rússia é representada pelo escritório de advogados Schellemberg Wittmer, com sede em Genebra, que já defendeu vários atletas russos acusados de doping. Phillipe Bärtsch, sócio do escritório que também representou a Rússia em casos de doping, não se manifestou sobre o assunto.

A Agência Antidoping Mundial (WADA) e o Comitê Olímpico Internacional (COI) também não comentaram. Sem uma resolução da Corte, as autoridades russas, os uniformes e a bandeira russa estarão em Tóquio e o COI enfrentará um novo período tenso e turbulento por causa de consequências aparentemente sem fim de um escândalo que está hoje no seu quinto ano.

As atuais penalidades impostas à Rússia, que no papel são as mais rigorosas jamais determinadas, foram implementadas depois de o WADA determinar que as autoridades russas manipularam e apagaram dados que poderiam no final ter permitido aos investigadores de casos de doping confirmarem as identidades de uma centena de atletas envolvidos.

Com base nessas penalidades, a Rússia não pode enviar uma equipe para campeonatos mundiais de qualquer esporte importante e foi barrada de duas Olimpíadas, embora tenha sido aberta a possibilidade de atletas russos, individualmente, competirem.

Se uma decisão não for dada antes dos Jogos de Tóquio, isso irá criar ainda mais confusão para o WADA, e seus membros indicaram que os critérios de entrada deveriam ser determinados pelo COI.

Se a proibição não for corroborada pela Corte a tempo para as Olimpíadas de Tóquio, qualquer decisão tomada afetará os Jogos Olímpicos de Paris em 2024, como também as Olimpíadas de Inverno de Pequim em 2022.

"Não sei qual a melhor situação nesta atual circunstância que é muito ruim", disse Margarita Pakhnotskaya, vice-diretora geral da agência antidoping da Rússia. "É como escolher entre algo ruim e algo ainda pior". / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

Com inf, Tariq Panja, The New York Times | Foto: Andrej Isakovic/AFP

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