Justiça aceita denúncia e torna Richa réu por corrupção passiva e organização criminosa
- 11/02/2019
A Justiça aceitou a denúncia e
tornou réu o ex-governador do Paraná Beto Richa (PSDB) por organização
criminosa e corrupção passiva no âmbito da Operação Integração - que investiga
pagamento de propina a Richa e outros agentes públicos por empresas de pedágio
no Paraná.
A aceitação da denúncia foi
divulgada no domingo (10). O G1 entrou em contato com a defesa do tucano às
7h25 desta segunda-feira (11) e não recebeu um posicionamento até a última
atualização desta reportagem.
Além do ex-governador do Paraná,
outras nove pessoas viraram rés pelos mesmos crimes. Trata-se da denúncia que
investiga o núcleo político.
Segundo o MPF, o esquema desviou
R$ 8,4 bilhões por meio do aumento de tarifas de pedágio do Anel de Integração,
e de obras rodoviárias não executadas. A propina paga em troca dos benefícios,
conforme os procuradores, foi estimada em pelo menos R$ 35 milhões.
Beto Richa chegou a ser preso no
dia 25 de janeiro, na 58ª fase da Operação Lava Jato, mas foi solto por decisão
do presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), ministro João Otávio de
Noronha.
À época, a defesa de Richa
afirmou que ele não cometeu irregularidades e que sempre esteve à disposição
para prestar esclarecimentos.
Não é a primeira vez que Richa vira
réu. A Justiça recebeu a denúncia contra ele, por exemplo, na Operação Rádio
Patrulha, que investiga um esquema de propina para desvio de dinheiro por meio
de licitações no programa "Patrulha do Campo".
O MPF dividiu as acusações em
duas denúncias. Essa envolve agentes públicos, como Beto Richa, Pepe Richa –
irmão do ex-governador e ex-secretário de Infraestrutura e Logística do estado
– e mais outras oito pessoas.
Empresários réus
Já a outra denúncia é relacionada
aos empresários envolvidos no esquema.
Entre os réus 23 réus, estão
ex-presidentes das seis concessionárias investigadas no esquema, além de
funcionários da Agência Reguladora do Paraná (Agepar) e do Departamento de
Estradas de Rodagem (DER).
Todos vão responder por
organização criminosa e corrupção ativa. O juiz Paulo Sérgio Ribeiro rejeitou a
denúncia contra eles pelo crime de lavagem de dinheiro.
O juiz Paulo Sérgio Ribeiro
rejeitou a denúncia pelo crime de lavagem de dinheiro. Ele argumentou que
"há aparente prova da materialidade e indícios de autoria suficientes para
caracterizar a justa causa necessária ao recebimento do denúncia".
No curso das investigações o MPF
apresentou vasto conjunto de provas sobre a materialidade de fatos criminosos
envolvendo a execução de contratos de concessão de rodovias federais no Estado
do Paraná (denominado "Anel de Integração do Paraná"), bem como
indícios suficientes de participação de cada um dos denunciados no esquema
criminoso", declarou.
O esquema
As denúncias sustentam que o
esquema de pagamentos de propina pelas concessionárias de pedágio teve início
há cerca de 20 anos. Conforme os procuradores, a corrupção elevou as tarifas de
pedágio pagas pelos usuários, e fez com que apenas 25% das obras previstas
fossem realizadas.
Em delação, o ex-diretor do DER,
Nelson Leal Júnior, afirmou que as irregularidades começaram em 1997, na
apresentação de propostas das concessionárias, que foram superfaturadas.
Além disso, os investigadores
dizem que o método usado para calcular o investimento que as concessionárias
deveriam fazer em obras nas rodovias permitiu que as empresas se desobrigassem
de concluir obras iniciadas, sob alegação de que já haviam cumprido a meta
financeira estipulada por elas mesmas.
Segundo a Lava Jato, as
concessionárias se comprometeram a duplicar 995,7 quilômetros de rodovias no
início dos contratos, mas até hoje apenas 273,5 quilômetros foram duplicados.
" O prejuízo vai muito além
e se estende sobre toda a cadeia produtiva do estado do Paraná que deixou de se
valer de uma infraestrutura adequada. Nós temos uma infraestrutura de rodovias
muito pior do que nós deveríamos ter", afirmou o procurador Deltan
Dallagnol.
Propina
O MPF afirma que a partir de
1999, ano em que começaram as concessões, as seis empresas responsáveis pelas
rodovias do Anel de Integração passaram a se reunir na sede da Associação
Brasileira de Concessionárias de Rodovias (ABCR) para acordar o pagamento de
propinas a agentes públicos, em troca da celebração de aditivos contratuais
favoráveis às empresas.
No início, as empresas
arrecadavam e distribuíam cerca de R$ 120 mil mensais de propina a agentes
públicos.
Esse valor foi aumentando ao
longo dos anos, seguindo os reajustes tarifários dos pedágios, até chegar a
cerca de R$ 240 mil, conforme o MPF. As empresas ainda mantinham esquemas
paralelos independentes, segundo os procuradores.
Governo Richa
O Ministério Público afirmou que
a partir de 2011, no governo de Beto Richa, os pagamentos de propina foram
direcionados a políticos e agentes públicos do DER e da Agepar - órgão
responsável por fiscalizar as concessões rodoviárias do estado. Entre os
beneficiados estavam Beto e Pepe Richa e Nelson Leal Júnior.
A propina, conforme os
procuradores, era paga sempre em dinheiro em espécie. As concessionárias
entregavam os valores ao então presidente da ABCR, João Chiminazzo Neto, que os
repassava a um operador financeiro responsável por distribuir aos
beneficiários.
No caso de Beto Richa, a acusação
diz que ele recebeu R$ 2,5 milhões em espécie, que foram usados para comprar
imóveis por uma empresa em nome da esposa e um dos filhos do ex-governador.
Governos anteriores
Segundo o MPF, a prática acontece
há 20 anos no estado. Segundo o procurador do Ministério Público Diogo Castor
de Mattos, os crimes prescreveram para gestores públicos anteriores a Richa.
"Do ponto de vista criminal,
nós temos prescrição. O prazo é curto e se a pessoa tem mais de 70 anos, o
período já conta pela metade", afirmou.
G1
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