Posição de corpos indica que passageiros podem ter sido avisados sobre queda de avião
- 16/08/2024
Em coletiva de imprensa na manhã de quinta-feira (15),
Mauricio Freire, diretor do Instituto de Identificação Ricardo Gumbleton Daunt
(IIRGD) do estado de São Paulo, afirmou que a posição em que a maioria dos
corpos das vítimas do acidente aéreo de Vinhedo foram encontrados mostra que
eles podem ter sido alertados sobre a queda.
A maioria das vítimas estava em posição de
"brace", com a cabeça entre os joelhos, abraçando as pernas. A
posição de segurança diminuiria os impactos em caso de uma aterrissagem
forçada.
"Grande parte das vítimas encontradas estava com as
mãos preservadas. Eu não sei se houve um comando da tripulação de que estavam
em emergência ou se as pessoas perceberam, com essa queda acentuada, mas muitos
corpos estavam naquela posição [de "brace"], o que não aconteceu na
TAM. [Naquele caso] eles estavam na posição normal, quando a aeronave entrou no
prédio", afirmou Mauricio Freire.
Identificação
A força-tarefa de peritos que trabalha no Instituto Médico
Legal (IML) da capital paulista identificou todos os 62 mortos no acidente com
a aeronave da Voepass em Vinhedo, interior do estado, na última sexta-feira
(9).
Os trabalhos foram concluídos na noite da quarta-feira (14).
Os familiares de todas as vítimas já foram comunicados. A informação foi
divulgada nesta quinta-feira (15) em coletiva de imprensa na sede da
Superintendência da Polícia Técnico-Científica (SPTC) na Zona Oeste de São
Paulo.
As identificações dos mortos foram feitas por reconhecimento
de impressões digitais, em sua maioria, e outros meios, como comparações de
radiografias, exames odontológicos de arcadas dentárias, fotos com tatuagens
etc. Não foi necessário o uso do exame de DNA.
"Toda identificação foi possível por análises de
papilas datiloscópicas comparando com documentos pessoais fornecidos pelas
famílias e de arcadas dentárias", disse nesta quinta-feira (15) Claudinei
Salomão, chefe da SPTC.
A partir desta sexta (16), o IML voltará a realizar os
atendimentos normalmente.
Oito estados brasileiros contribuíram para a identificação
dos mortos ao entregar planilhas civis de parte das vítimas para a força-tarefa
em São Paulo.
Das 62 vítimas, 40 delas foram identificadas por meio de
impressões digitais, sete por digitais e outras características físicas e 15
por meio de características físicas.
Do total de mortos, 41 corpos já foram liberados para as
famílias. Os restos mortais de um cão que estava no voo foram entregues à
família dos donos do animal. Os profissionais do IML central continuam
realizando os procedimentos necessários para a liberação dos outros corpos.
Mais de 40 médicos, equipes de odontologia legal, antropologia e radiologia trabalham na identificação dos corpos das vítimas do acidente aéreo, com apoio de equipes do Instituto de Identificação Ricardo Gumbleton Daunt (IIRGD) da Polícia Civil de São Paulo.
Peritos da Polícia Federal (PF) também participaram do
processo de identificação, além da perícia do local. A retirada de corpos foi
realizada por peritos do Instituto de Criminalística (IC) e do IML, com apoio
do Corpo de Bombeiros.
Os destroços da aeronave estão sendo reunidos e levados para
a sede da empresa, em Ribeirão Preto, no interior do estado. A Voepass informou
que vai armazenar o material até que todas as famílias sejam indenizadas.
Caixa-preta
O gravador de voz da cabine do avião ATR-72 registrou
conversas do copiloto sobre "dar potência" à aeronave minutos antes
da queda, além de gritos na aeronave. As informações foram obtidas com
exclusividade pelo Jornal Nacional.
As cerca de duas horas de transcrição foram feitas pelo
laboratório de leitura e análise de dados do Centro de Investigação e Prevenção
e Acidentes (Cenipa), vinculado à Força Aérea.
Investigação
A Aeronáutica apura as causas da queda da aeronave que
atingiu duas residências no Condomínio Recanto Florido, no bairro Capela. Não
há registro de vítimas entre moradores ou de quem estava no solo.
A Polícia Federal e a Polícia Civil também investigam
separadamente as causas e responsabilidades pelo acidente. O Ministério Público
(MP) acompanha as investigações. A companhia aérea afirmou em nota que o avião
que caiu estava apto a voar e sem restrições.
Segundo especialistas ouvidos pela reportagem que viram
vídeos do momento em que o avião caiu, entre as hipóteses para explicar o
acidente está a possibilidade de que as asas da aeronave tenham ficado cobertas
por gelo durante o voo, causando instabilidade e a queda.
De acordo com Humberto Alves Barbosa, professor da
Universidade Federal de Alagoas (Ufal) e coordenador do Laboratório de Análise
e Processamento de Imagens de Satélites (Lapis), no dia do acidente as
temperaturas nas nuvens na região por onde a aeronave passou estavam em torno
de -42ºC.
"Isso traz muita instabilidade do ponto de vista
meteorológico pra qualquer aeronave dentro dessa situação", falou o
professor à TV Globo.
G1 | Foto: Reprodução/EPTV
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