Estado pede autorização da Assembleia Legislativa para desestatização da Ferroeste
- 06/08/2024
O Governo do Estado mandou nesta segunda-feira (5) um
projeto de lei para a Assembleia Legislativa com um pedido de autorização para
iniciar o processo de desestatização da Ferroeste. A empresa, cuja participação
estatal é atualmente de 99,6% (o restante das ações pertencem a 46 empresas
nacionais, três estrangeiras e seis pessoas físicas), administra o trecho de 248
quilômetros entre Guarapuava e Cascavel.
O principal objetivo é potencializar os investimentos no
modal ferroviário, promover redução de custos logísticos para o setor produtivo
e apoiar a expansão das cooperativas e da produção agropecuária do Paraná nos
próximos anos. Os ganhos também passam pela potencial redução do consumo de
combustível fóssil e dos acidentes em rodovias, desenvolvimento da matriz
econômica estadual e fortalecimento do comércio exterior, todas matrizes
contempladas no Plano Plurianual, além da redução da interferência política e
incremento de arrecadação.
O projeto de lei também caminha ao lado de duas tendências
nacionais: aumento da movimentação de granéis agrícolas por ferrovias – esse
foi o segmento que mais registrou expansão em 2023 –, e crescimento dos
investimentos em modais alternativos ao rodoviário – atualmente a Ferroeste
representa apenas 0,1% do investimento do setor em todo o País, que chegou a R$
6,4 bilhões em 2022.
Com a aprovação da lei, o Governo do Estado vai contratar um
estudo para apontar a melhor modelagem do processo, que deve ser concretizado
em um leilão na B3, em São Paulo. A ideia é que o negócio contemple um pacote
de novos investimentos na ferrovia e no terminal da empresa em Cascavel, na
região Oeste, modernizando as estruturas já existentes. Esse raio-x também vai
apontar o valor da empresa (valuation) e embasar apresentações a investidores,
além de ajudar a construção do edital. Todo esse processo pode levar até 18
meses.
Um dos principais ativos da Ferroeste atualmente é a
concessão da ferrovia entre Guarapuava e Dourados, no Mato Grosso do Sul, por
mais cerca de 60 anos (a concessão de 90 anos do governo federal começou a
valer em 1998). Esse período é prorrogável por mais 90 anos. O trecho
Cascavel-Dourados nunca foi construído, mas o processo de desestatização vai
deixar essa possibilidade para o novo controlador.
A concessão também vai permitir a exploração de demais
ramais ferroviários para garantir a viabilidade da ferrovia, de acordo com as
regras da Agência Nacional de Transporte Terrestre (ANTT). A Ferroeste já
recebeu autorizações do governo federal para exploração de ramais conectados à
sua malha: Guarapuava - Paranaguá, Cascavel - Foz do Iguaçu, Cascavel - Chapecó
e Maracaju (MS) - Dourados (MS).
Outro ativo é o Estudo de Viabilidade Técnica, Econômica e
Ambiental (EVTEA) da ampliação do Terminal Multimodal no Oeste. Ele foi feito
pela Paraná Projetos e entregue à Ferroeste neste ano. O estudo orienta uma
modernização que contempla pavimentação do pátio, sinalização, iluminação,
controle de acesso, construção de um espaço público para caminhoneiros e
melhorias estruturais para atender as cooperativas e produtores que exportam
por Paranaguá.
FERROESTE E O SETOR – A Ferroeste transportou 1 milhão de
toneladas entre Cascavel e Guarapuava em 2023 com destino ao Porto de Paranaguá
e ao Exterior e vice-versa, no sentido importação. Os principais produtos
escoados foram soja e proteína animal e os importados vão de insumos agrícolas,
adubos e fertilizantes a cimento e combustíveis. A pauta de exportação
representa 80% da movimentação.
O modal ferroviário é fundamental para o setor produtivo do
Oeste, o mais distante do Litoral, porque garante transporte de carga de
maneira mais rápida e barata. No entanto, a operação da Ferroeste não é
sustentável sem que o Estado disponibilize, há vários anos, recursos para
cobrir os déficits, ainda que desde 2019 a empresa tenha registrado lucros
operacionais. O prejuízo acumulado, de acordo com as demonstrações financeiras,
era de R$ 172 milhões em dezembro do ano passado, cenário que limita os
investimentos necessários para a modernização.
São 30,6 mil quilômetros de ferrovias concedidas pelo
governo federal no Brasil atualmente, sendo cerca de 20 mil quilômetros ativos.
Para fazer frente ao aumento da cobertura do serviço, os investimentos
sugeridos no Plano Nacional de Logística 2035 giram em torno de R$ 168 bilhões,
muito aquém da capacidade da União ou qualquer ente federado.
Além desses fatores, há uma reorganização geral do setor de
transporte ferroviário desde o Marco Legal das Ferrovias, em 2021, que vem
ressoando no setor e apresenta uma gama de oportunidades, principalmente para o
setor privado, que tem velocidade de investimento mais rápido do que o setor
público. A nova legislação permite que os investidores interessados tenham
acesso ao mercado mediante autorização de prestação do serviço e aceita que as
operadoras ferroviárias se reúnam para autorregular a prestação do serviço,
incrementando a competição no setor.
No Paraná, há grande necessidade de movimentação de cargas
por intermédio dos modais terrestres porque envolvem elevados volumes, sejam de
granéis sólidos, granéis líquidos ou mesmo cargas gerais – conteinerizados ou
não. O agronegócio tem papel fundamental na economia do Estado, especialmente
na comercialização, interna e externa, de produtos como soja, milho, açúcar e
seus derivados; criação e beneficiamento de frangos, suínos e bovinos; e na
cadeia de industrialização de outros produtos, como papel/celulose, madeira,
cimento, calcário e fertilizantes.
Na outra ponta, a Portos do Paraná, que bateu recorde de
movimentação em 2023, com mais de 65 milhões de toneladas, também se prepara
para o aumento do transporte pelo modal, principalmente com a construção do
Moegão, novo sistema que vai centralizar as descargas dos trens que chegam ao
porto, permitindo o descarregamento simultâneo de até 180 vagões, em três
linhas independentes. O investimento é de R$ 542 milhões.
HISTÓRICO – A Ferroeste foi concebida como empresa privada
com foco no transporte de grãos agrícolas e insumos para plantio em 1988 e
assumiu, por meio do Decreto 96.913, a outorga de concessão para construção e
exploração de ferrovia de Guarapuava até Cascavel, dentro dos limites do
Paraná, se estendendo à região de Dourados, no Mato Grosso do Sul.
Posteriormente ela foi transformada em sociedade de economia mista.
As obras de construção da ferrovia duraram alguns anos e em
apenas em 1996 a empresa foi autorizada a iniciar o transporte no trecho
ferroviário. Em dezembro daquele ano, dois dias antes da abertura definitiva do
tráfego, o Governo do Estado alienou o controle da empresa e foi criada a
Ferrovia Paraná S/A – Ferropar, mas em pouco tempo a Ferroeste foi
reestatizada.
Desde que ela foi criada existe a intenção de construir a
ferrovia ligando o Paraná ao Mato Grosso do Sul, mas até o momento a
implantação desse projeto de importância estratégica ao desenvolvimento
econômico estadual e nacional não ocorreu por ausência de capacidade de
investimento, inexistindo indicativos de que a receita gerada atualmente pela
companhia será suficiente. Essa limitação requer uma solução, sendo também uma
potencial consequência positiva da desestatização.
AEN | Foto: Albari Rosa/Arquivo AEN
Ficou sabendo de algo? Envie sua notícia no WhatsApp Xeretando (45)99824-7874
0 Comentários