A trajetória do professor santa-helenense Osmar Carlesso, por João Rosa Correia
- 22/08/2018
Em
comemoração aos 50 anos da fundação da Escola Estadual Graciliano Ramos –
Ensino Fundamental Séries Finais de Santa Helena, que ocorrerá no mês de março
de 2019, estamos realizando entrevistas com personagens que trabalharam nesta
escola: ex-diretores, professores/funcionários aposentados, como forma de
homenageá-los pelos serviços prestados à mencionada instituição de ensino.
Responsável
pelas entrevistas, Prof. João Rosa Correia.
Entrevistado: Professor Osmar
Manieri Carlesso - Matemática
Quinta-feira 22 de março de
2018, eu Professor João Rosa Correia entrevistei o Professor Osmar Manieri
Carlesso em sua residência à Rua Paraguai 2057 (área central de Santa Helena
Paraná). Relatou os seguintes aspectos de sua história. Portanto, vejamos a
trajetória histórica deste educador santa-helenense. Apresentou os nomes de
seus pais: João Manieri e Orlanda Carlesso Manieri, ambos descendentes de
italiano e seguidores do catolicismo.
A família do Professor Osmar
por parte de pai, era constituída de 14 pessoas. Destes, alguns nasceram na
Itália na região da Calábria e outros no Estado de São Paulo/Brasil. Ressaltou
que seu pai João Manieri, era o caçula e nasceu no interior paulista. Na Itália,
os familiares do Professor Osmar trabalhavam na agricultura. Emigraram para o
Brasil por volta de 1900. Significado de
emigração: é o ato de deixar o
local de origem (a pátria) com intenção de se estabelecer em um país estranho. Assim
que chegaram em terras brasileiras, esses imigrantes passaram a trabalhar de agregado
na cafeicultura no município de Penápolis (SP). Significado
de imigrantes: entrada de indivíduo ou grupo de indivíduos estrangeiros em
determinado país, para trabalhar e/ou para fixar residência, permanentemente ou
não; agregado – aqui representa pessoa que executa serviços em
uma propriedade agrícola, mas não tem um contrato de trabalho.
Naquela época o café
despontava como um produto de alto valor comercial no mercado europeu e norte
americano. A valorização, aliada à grande procura desta mercadoria (café),
estimulava os cafeicultores a expandir os negócios, por isso necessitavam de
muita mão de obra para trabalhar nas lavoura cafeeiras no Estado de São Paulo.
O governo brasileiro facilitava e incentivava a entrada de imigrantes europeus
no país.
Neste contexto histórico que
ocorreu a emigração da família Manieri para o Brasil. Professor Osmar nasceu em
Penápolis no dia 08 de Março de 1949. Faz parte de um núcleo familiar de 11
irmãos, sendo 04 femininos e 7 masculinos. Destes, três in-memoria. No ano de
1951, seus pais migram de Penápolis
(SP) para Paiçandu PR, onde passaram a trabalhar em um sítio de café de 5
alqueires na condição de agregados. Migração:
é o deslocamento de indivíduos dentro de um
espaço geográfico, de forma temporária ou permanente.
Após dois anos (1953) trabalhando
nesta localidade, João Manieri consegue acumular certa quantia em dinheiro, com
isso adquire 5 alqueires de terras na localidade de São Tomé que pertencia ao
município de Cianorte (norte do Paraná). De Paiçandu à São Tomé a família Manieri
deslocaram de caminhão, porque entre essas duas “cidades” existia estradas que
possibilidade trafegar com automotores. Há época, o vilarejo de São Tomé
contava com uma venda de secos e molhados (armazém que negociava cereais,
alimentos e demais utensílios domésticos).
As terras adquiridas por João
Manieri ficava 8 km de distância do lugarejo de São Tomé e 23 quilômetros de
Cianorte. Ao precisar comprar alimentos e/ou qualquer utilidade doméstica em
São Tomé, era preciso percorrer a cavalo enfrentando trilhas (picadas) abertas
na mata, porque estrada inexistia.
Ao fixar residência na área rural
de São Tomé, João Manieri providenciou a construção de um local para abrigar a
família. A cobertura da moradia era de lona emprestada do tio de Osmar. Quanto
a alimentação, cozinhavam em panelas de ferro assentadas sobre tijolos expostas
no “pátio da casa”, pois era eminente o risco de pegar fogo se preparassem os
alimentos no interior da improvisada residência. O improvisado “fogão” permanecia
acesso toda noite, com a finalidade de espantar as onças que rondava o local,
lembrando que a região do norte paranaense naquela época (década de 1950) era
formada por extensas florestas nativas, por isso, repletas de animais
silvestres.
Professor Osmar fez questão
de dizer que seu pai sempre trabalhou com a atividade cafeeira. Dos cinco
alqueires iniciais que João Manieri havia adquirido em 1953, há de destacar que
com o transcorrer dos anos trabalhando na cafeicultura no norte paranaense e
ganhando dinheiro com este produto, conseguiu comprar 40 alqueires de terra em
São Tomé. Sempre que adquiria uma nova área de terra, imediatamente plantava café.
O empenho que dispensava aos cafezais, os tornou um dos fortes produtores do
cereal da região de seu domicílio (norte paranaense). Todavia, João Manieri e
esposa também tiveram a preocupação de cuidar da educação escolar dos filhos.
Assim que Osmar Manieri
atingiu a idade de frequentar os bancos escolares o encaminhou à Escola Rural Barão
do Rio Branco que ficava em São Tomé pelo qual completou antigo primário (1ª a
4ª Série) em 1960, (atualmente corresponde ao Ensino fundamental Séries
Iniciais 1º ao 5º Ano). Pela falta de ensino ginasial onde residiam (hoje
Ensino fundamental Séries Finais – 6º ao 9º Ano), Osmar ficou por uns anos sem
frequentar a escola. Fora dos bancos escolares, Osmar passou a auxiliar os pais
nos trabalhos cafeeiros.
Preocupados com a formação
intelectual dos filhos e interessados concedê-los estudos, em 1966 João Manieri
e família transfere residência para Cianorte. Neste ano Osmar participou do
exame de admissão que era exigido na época aos que pretendiam ingressar no
ensino ginasial. Aprovado frequentou a 5ª Série (atualmente 6º Ano) em Cianorte.
Entretanto, seus pais encontraram dificuldades de adaptação naquela cidade e
retornam no final de 1966 a viver no sítio em São Tomé. No ano seguinte (1967)
inicia-se no município de Japurá (sede administrativa do distrito de São Tomé)
o ensino ginasial. Japurá ficava 7 Km distante de São Tomé e este trajeto Osmar
tinha que percorrer de carroça diariamente para chegar à Escola.
Diante dessa dificuldade de
locomoção, em 1968 João Manieri adquiriu um JEEP com a finalidade de facilitar o
deslocamento do estudante Osmar até a instituição de Ensino em Japurá, o que
lhe permitiu concluir em 1969 o Ginásio (atualmente 9º ano). Em 1970 tem início
o Ensino Normal (atualmente Formação de Docente) em São Tomé, e Osmar passa a
frequentar este estudo na cidade de origem, no entanto, logo depois solicita
sua transferência para Japurá por ficar mais próxima do sítio onde residia.
Nesta cidade no ano de 1972 concluiu a formação de professor (Ensino Normal).
De posse do diploma de
professor “primário”, foi contratado em 1973 pela Prefeitura Municipal de
Japurá para lecionar na Escola Rural Rio Branco que anos anteriores estudara.
Neste mesmo ano (1973) prestou vestibular para o curso de Matemática (nível
Superior) na FAFIMAN – Faculdade de Filosofia de Mandaguari. Aprovado, cursou a
Faculdade concluindo este grau de ensino em Julho de 1976.
Osmar e colegas
universitários fretaram uma Kombi que os transportavam diariamente de Japurá a
Mandaguari até a conclusão do ensino superior. Destacou ainda que participou de
estudo de Pós-Graduação: “Especialização em Didática e Metodologia do Ensino”,
concluído em 08 de fevereiro de 1998 pela UNOPAR – Universidade Norte do
Paraná/Londrina. Residindo na região norte do Paraná, Professou Osmar lecionou
Matemática durante dois anos (1975/1976) no Colégio Estadual Castelo Branco –
2º Grau (Ensino Médio) de Japurá. No dia 21 de Janeiro de 1977 deixa Japurá e
vem à Santa Helena com o objetivo de continuar lecionando Matemática nas
escolas deste município.
A transferência foi motivada
pela incerteza de continuar trabalhando na escola de Japurá, porque a SEED -
Secretaria de Estado da Educação do Paraná impôs mudança da carga horária de
trabalho prevista para o ano letivo de 1977 aos professores. Aqueles (as) que
já lecionavam 32 horas aulas passariam a ministrar 44 horas aulas semanais.
Este acréscimo de 12 horas
de trabalho semanal por professor diminuiria a necessidade do Estado de
contratar novos educadores. Situação que preocupava professores de início de
carreira que era o caso do Professor Osmar. Portanto, o risco de ficar sem
trabalho na área da educação motivou-o migrar de Japurá para Santa Helena. Disse ele que ainda recebeu incentivo
de Antônio de Paulo Moreira que no ano de 1976 lecionou Matemática em Santa
Helena nas Escolas Estaduais: Graciliano Ramos e Castelo Branco.
Eles se conheciam desde os
tempos de estudantes de Magistério em Japurá e por isso tornaram-se bons amigos.
Comentou Professor Osmar que o Professor Antônio iria para São Paulo cursar
Engenharia Mecânica e as aulas de Matemática que lecionava certamente seriam
dele, pois em Santa Helena havia uma carência de professores nesta área do
saber. Sendo assim, (fevereiro de 1977) Professor Osmar em contato com a
direção da Escola Estadual Graciliano Ramos e Castelo Branco conseguiu
assegurar as aulas de Matemática que desistira o Professor Antônio. Obs.
Pela amizade entre eles possibilitou
que por uns meses morassem no mesmo quarto do Hotel Paludo de Santa Helena,
enalteceu Prof. Osmar. Em 1978 Professor Osmar tornou-se vice-diretor da Escola
Estadual Graciliano Ramos, sendo diretor Nelson Kolling. Entre 1979/1980 foi
designado diretor da referida Escola pela SEED- Secretaria de Estado do Paraná. Além de administrar o Graciliano Ramos,
respondia pela extensão de ensino de São José das Palmeiras. Paralelamente ao
cargo de diretor escolar, lecionava 44 horas aulas como suplementarista
(espécie de Professor PSS da atualidade).
O excesso de horas de
trabalho lhe atribuído pelo Estado, obrigava-o a permanecer três turnos nas
escolas (manhã, tarde e noite). Ao ser aprovado no concurso de Professor
Estadual (1980), passou a trabalhar 20 horas aulas em sala de aula
(extraordinárias) no Colégio Estadual Humberto de Alencar Castelo Branco e 20
horas (concurso) na direção da Escola Graciliano Ramos. Entre 1986 à 1988
trabalhou na inspetoria de ensino de Santa Helena. No município o inspetor de ensino
tinha a responsabilidade em acompanhar
a aplicabilidade da política educacional da Secretaria da Educação do Paraná –
SEED.
Obs. As inspetorias de ensino foram extintas
na gestão do governo Roberto Requião na década de 1990. No lugar dessas
inspetorias, o Estado criou o cargo de documentador escolar. O profissional da
educação ao ser nomeado para esta função ficava e ainda fica na prerrogativa de
ligação entre os interesses educacionais no município com o NRE – Núcleo
Regional de Ensino de sua jurisdição, bem como representar o chefe do NRE nos
eventos escolares que este não puder se fazer presente. Com
a extinção das inspetorias de ensino, Professor Osmar reassume em 1992 as 40 aulas
de Matemática, na Escola Estadual Graciliano Ramos.
No período de 1993 à 2000
comandou a Secretaria de Educação de Santa Helena nas gestões política/administrativa
de Júlio Morandi/Silom Schmidt e Silom Schmidt/Aquiles Mafinni. Nestas
administrações foram implantadas dois importantes centros educacionais, que
atendia santa-helenenses e demais brasileiros de diversas regiões do país
interessados em estudar nestas escolas, que são: Supletivo transformado em
CEEBJA – Centro Estadual de Educação Básica para Jovens e Adultos (Ensino
Fundamental e Médio) e a extensão da UNIOESTE, com os cursos de Pedagogia, Educação Física e Ciências da
Computação.
Obs. Importante registrar
que a infraestrutura da UNIOESTE/SH foram construídas totalmente com os
recursos do município. Por conta dessas escolas, Professor Osmar sente
realizado quanto educador, porque a Secretaria de Educação do município encontrava
sob sua responsabilidade quando da implantação destas instituições de ensino em
Santa Helena.
Afirma ele que demandou
enorme esforço da equipe de trabalho do setor de educação municipal até que
fosse possível regularizar toda documentação exigida pelo setor educacional do Estado
do Paraná e da União para liberar a abertura e funcionamento das turmas de
estudantes das referidas instituições de ensino. Entende Professor Osmar que
toda energia empregada para concretização destas escolas, não foram em vão, porque à anos Santa Helena vem
colhendo os “frutos” deste investimento financeiro dispendido pela
municipalidade.
Entretanto, por questões
políticas/econômicas a extensão da Unioeste de Santa Helena, ficou desativada durante
alguns anos. A partir de 2014, o poder público de Santa Helena repassou toda
infraestrutura que abrigava a UNIOESTE de Santa Helena à UTFPR – Universidade
Tecnológica Federal do Paraná, no qual oferece curso de Biologia, Ciências da
Computação e Agronomia, completou Osmar.
Importante
destacar também, que em 1996 Professor Osmar (PMDB) candidatou e concorreu à vereador,
nestas eleições conseguiu ficar primeiro suplente para a Câmara Municipal.
Na eleição seguinte (2000)
novamente lançou-se candidato elegendo vereador (PMDB), assumindo a legislatura
(2001 à 2004), compondo com os demais eleitos, a Câmara Municipal de Santa
Helena. Na tentativa de reeleger-se vereador, concorre às eleições de 2004,
porém, ficou segundo suplente. Assumiu a cadeira de vereador no ano de 2008
porque dois vereadores eleitos pelo PMDB resolveram desligar do partido. A lei
eleitoral brasileira da época prévia a perca do mandato àqueles que
desvinculasse da sigla partidária pelo qual fora eleito. O mandato era do
partido, em razão disso foi possível o retorno do Professor Osmar à Câmara de
Vereadores. Se faz necessário salientar que Professor Osmar exerceu os mandatos
de vereador e ao mesmo tempo ministrava 40 aulas de Matemática na Escola
Estadual Graciliano Ramos. Isto era e é perfeitamente conciliável, porque as
sessões da Câmara de Vereadores acontece à partir das 19 horas e nas
segunda-feira de cada semana, ficando assim tempo livre o suficiente para o
professor trabalhar na escola que atua, apontou Osmar. Depois de trabalhar por
35 anos, Professor Osmar aposentou-se ano de 2009. Porém, na gestão do prefeito
Jucerlei Sotoriva (2013 à 2016) desempenhou por três anos consecutivos a função
de assessor pessoal do vice-prefeito
Margon Strarburguer e em 2016 deixou
a assessoria e comandou a Secretaria Municipal de Esportes de Santa Helena. Disse
ainda que a décadas participa do Lions Club de Santa Helena, pelo qual foi
secretário e presidente desse clube de prestação serviços sociais; colaborou com a Igreja Católica Santo
Antônio ocupando o cargo de secretário da Paróquia quando pároco o Padre Gringo
(in-memória).
Outros aspectos narrados
pelo Professor Osmar, chegou solteiro em Santa Helena, no entanto, já era noivo
da então Senhorita Zelma que residia em Japurá. Casaram-se no dia 23 de julho
de 1977 em Japurá. Deste enlace matrimonial tiveram dois filhos: Leandro
Manieri Carlesso e Adriana Manieri Carlesso. Ambos nasceram em Santa Helena
Paraná. A respeito da Sra. Zelma, além de cuidar dos afazeres do lar, tem como
profissão costureira.
Atende aos clientes na residência
do casal e realiza costura em geral. Nas gestões administrativas dos prefeitos:
Júlio e Silom ministrou aulas de corte/costura aos munícipes santa-helenenses. Auxilia de forma voluntária nos
serviços da Igreja Católica Santo Antônio, nas festas do Padroeiro e encontros
de noivos. Quantos aos filhos do casal, Leandro estudou na Escola Municipal
Marechal Deodoro – Ensino Fundamental Séries Iniciais (1º ao 5º Ano) e Escola
Estadual Graciliano – Ensino Fundamental Séries Finais (6º ao 9º ano). Iniciou
e concluiu o Ensino Médio no CEFET de Medianeira. Cursou a Faculdade de
Medicina em Presidente Prudente (SP), ao concluí-la, especializou-se em
Cardiologia.
Atualmente trabalha na área
de formação no município de Santa Fé do Sul (SP). Casado, pai de um filho: Elzo
Manieri com nove anos de idade; Adriana frequentou os bancos escolares de Santa
Helena nas seguintes escolas: Marechal Deodoro (Ensino Fundamental Séries
Iniciais) e Santo Antônio (Ensino Fundamental e Ensino Médio). Formação
Superior, Faculdade de Psicologia em Umuarama (noroeste do Paraná). Trabalha 20
horas pela Prefeitura de Japurá atendendo como Psicóloga e atende clientes numa
clínica particular na cidade de Umuarama local de sua residência.
Mensagem
“Agradeço ao Professor Osmar
e esposa Senhora Zelma, por acreditarem no trabalho de registo que desenvolvo
em prol da memória historiográfica do povo santa-helenense, diante disso, descreveram
a trajetória histórica que já viveram ao longo de suas existências, com
destaque à história dos quarenta e um anos vividos no município de Santa Helena
Paraná. Tenho convicção que o exemplo de luta e determinação que desempenharam
e ainda continuam desempenhando, sejam elas, atividades sociais (voluntárias)
e/ou profissionais na comunidade, demonstrado neste documentário, certamente
servirão para encorajar as gerações do presente e futuras a prosseguir lutando
à favor do bem-estar desta sociedade”. Professor João Rosa Correia.
Ficou sabendo de algo? Envie sua notícia no WhatsApp Xeretando (45)99824-7874
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