Especialistas pedem mais vacinação contra aumento da dengue no verão
- 22/11/2024
A expectativa de aumento nos casos de dengue no próximo
verão é “bastante preocupante”. A afirmação é do presidente da Sociedade
Brasileira de Infectologia (SBI), Alberto Chebabo. Segundo o médico, a dengue é
uma doença surpreendente, que vem sendo combatida desde a década de 80 com
poucas vitórias. Chebabo defendeu que é preciso ampliar a aplicação de vacinas
contra a doença para permitir a proteção de um número maior de pessoas.
“A gente sabe que vai ser um verão quente e chuvoso. Já está
assim e a gente ainda não chegou no verão, mas a dengue já começa a aparecer na
primavera de forma intensa. Então, a gente tem uma preocupação grande em
relação a essa temporada. A gente espera que a adesão à vacina contra a dengue
seja ampliada e que a gente consiga vacinar uma parte maior da população,
protegendo um número maior de pessoas. Esta é uma doença que traz bastante
danos à sociedade, não só em termos de mortes como a gente tem visto
recentemente, mas em termos de absenteísmo, sofrimento mesmo, de internação, então,
é uma doença que não é simples. Mesmo os que passam por ela, dizem que nunca
mais querem passar por ela”, contou.
O médico foi um dos participantes da coletiva de
apresentação da pesquisa inédita sobre o impacto da desinformação e das Fake
News sobre a dengue, realizada pela empresa multinacional de pesquisa e
consultoria de mercado Ipsos e encomendada pela biofarmacêutica Takeda, com a
colaboração da SBI. Foram entrevistadas 2 mil pessoas para entender as
percepções sobre a dengue, a vacinação em geral e sobre a doença.
“A gente sabe que uma das principais formas é através da
vacinação e espera que o Ministério da Saúde junto com a Takeda, consiga
ampliar a oferta de vacinas pra gente proteger um número maior de pessoas,
ampliar as nossas faixas etárias de vacinação, as cidades beneficiadas com o
programa”, completou.
Também na apresentação, o vice-presidente da Sociedade
Brasileira de Imunizações (SBIm) e presidente do Departamento de Imunizações da
Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), Renato Kfouri, defendeu mais
capacitação de profissionais de saúde para facilitar a comunicação com pessoas
desconfiadas que se recusam a se vacinar. A gente tem feito várias ações de
enfrentamento à hesitação vacinal. Temos várias na Sociedade Brasileira de Pediatria,
de Infectologia, de Imunizações, de gibis com a turma do Maurício de Souza,
eventos presenciais, parcerias com o Instituto Questão de Ciência para entender
este fenômeno social em relação a confiança nas vacinas. É um papel de todos”,
apontou.
O médico infectologista acrescentou que a Organização
Mundial da Saúde (OMS) começa como enfrentamento da hesitação a estratégia
conhecida como 5 letras C “melhorar a confiança na vacina e na estratégica
pública de colocar a vacinação em prática; a complacência, que é a percepção do
risco, precisamos trabalhar mostrando os riscos da doença; a conveniência que é
o acesso e as vacinas precisam estar disponíveis; a comunicação com papel
fundamental da imprensa e o último o contexto que muitas vezes precisa ser particularizado
como no acesso em regiões remotas, de pandemia, políticos, às vezes religiosos
de um povo localizado”, observou.
Pesquisa
Um fato positivo no estudo é que mesmo diante da epidemia da
doença no Brasil neste ano, 88% dos entrevistados disseram que veem a vacina
contra a dengue uma medida eficaz de prevenção.
“Para elas, inclusive a maior parte de notas muito altas
para importância de existir uma vacina contra a dengue no sistema público de
saúde. Essa é uma informação muito importante porque ela nos diz o quanto a
população entende a importância da disponibilização da vacina contra a dengue
no sistema público”, indicou a analista de Pesquisa de Mercado da área de
Healthcare na Ipsos, Juliana Siegmann.
Resultados
Como resultados mais favoráveis da vacinação, 91% prestam
atenção nas campanhas, 90% acreditam que as vacinas em geral trazem benefícios
e 95% dizem verificar a veracidade das informações sobre vacinas. Na avaliação
dos sentimentos despertados pelas informações nas redes sociais sobre vacinas
em geral, 77% falaram que elas trouxeram sensações positivas, como confiança
(42%), tranquilidade (38%) e otimismo (33%). Pelo menos metade (50%) dos
entrevistados se interessou pelo tema. Em movimento contrário, 23% se sentiram
negativamente impactados e relataram ansiedade (16%), desconfiança (15%), medo
(10%) e confusão (9%).
As principais fontes de informação sobre vacinas e dengue
são a TV (59%), as redes sociais (49%) e os postos de saúde (47%). As Fake News
mais comuns em relação à dengue são sobre a eficácia da vacina, a gravidade da
doença, as curas milagrosas e as informações incorretas sobre formas de
contágio.
O estudo da Ipsos apontou também que cerca de 10% dos
pesquisados são descrentes em relação às vacinas em geral, sendo mais propensos
a acreditar em falsas notícias. Nesse grupo, mais da metade tem idade acima de
55 anos, leve predominância masculina e maior presença nas classes C, D e E.
Embora 77% tenham tido contato com a doença, 27% não consideram a dengue grave
ou não sabem.
“Essa pesquisa traz dados muito importantes para todos nós,
para a nossa atuação tanto individualmente, quanto da própria sociedade, para
balizar as nossas ações sempre no intuito de melhorar a forma da gente se
comunicar, entender quais são os desafios que a gente tem nessa comunicação e
direcionar a nossa comunicação para combater principalmente as notícias falsas,
as notícias falsas em relação a vacina de forma geral e, especificamente, em
relação à vacina contra a dengue”, comentou Chebabo.
Ainda para aumentar o poder de convencimento da necessidade
da vacinação, Chebabo destacou que é preciso tirar a vacina do discurso
político. “A doença atinge a todos quem é de um lado ou de outro, quem torce
para um time ou outro de futebol. Todos são atingidos da mesma maneira
independente das suas convicções, sejam religiosas, sejam políticas, sejam em
torcida de algum time de futebol. É um trabalho que temos tentado fazer,
principalmente, na vacina, tirar do discurso político. A gente viu todo o mal
que a gente teve no questionamento em relação à vacina da covid-19, que
respingou no programa e na queda de cobertura de todas as vacinas”, afirmou.
A diretora médica da Takeda, Vivian Lee, lembrou que o
Brasil é o primeiro país a integrar a vacina contra a dengue em um programa
nacional de imunização, que ocorreu em 21 de dezembro de 2023. “Causa para a
gente muito orgulho de fazer parte dessa história”, disse, acrescentando que a
Takeda tem estudos para a produção da vacina da dengue que levaram até 15 anos.
“Isso já rebate e esclarece uma Fake News de que a vacina foi desenvolvida
muito rapidamente”, completou.
Divulgação
A campanha #Sem Sombra de Dengue. Depende de você, que já
está sendo exibida em veículos de comunicação, será divulgada no Dia Nacional
de Combate à Dengue, no próximo sábado (23), quando haverá projeções em vários
locais do Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília e Salvador.
EBC | Foto: PAULO
PINTO/AGÊNCIA BRASIL
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