Número de vítimas de desastre aéreo em Vinhedo sobe para 62
- 10/08/2024
A companhia aérea Voepass confirmou, na manhã deste sábado
(10), a 62ª morte na queda de avião em Vinhedo (SP), na sexta-feira (9).
Trata-se de Constantino Thé Maia.
De acordo com a empresa, o nome de Constantino não estava na
lista de passageiros embarcados por uma "questão técnica identificada pela
companhia referente às validações de check-in, validação do embarque e contagem
de passageiros embarcados".
"Em respeito à identidade do passageiro e de sua
família, a VOEPASS decidiu confirmar a informação de que Constantino estava a
bordo do voo 2283 somente quando não houvesse dúvidas", diz a nota da
aérea.
Segundo a família, que já considerava a vítima desaparecida
desde sexta-feira, Constantino tinha 50 anos, morava no Rio Grande do Norte e
era representante comercial de várias empresas do ramo de construção civil.
O avião caiu na tarde de sexta-feira em um condomínio
residencial do bairro Capela, em Vinhedo. As 62 pessoas que estavam na aeronave
morreram - foi o maior desastre aéreo do país em número de vítimas desde 2007.
Até a publicação, 21 corpos foram retirados dos escombros.
Eles foram levados para o Instituto Médico Legal (IML) de São Paulo, onde serão
identificados.
A perícia realizada durante a madrugada foi feita pelo
gabinete de crise montado no local do acidente é formado pelas polícias
Federal, Militar, Civil, Científica, além de Cenipa, Corpo de Bombeiros, Defesa
Civil e representantes da companhia aérea Voepass. Um scanner 3D utilizado pela
Polícia Federal é uma tecnologia moderna que acelera a localização dos corpos.
Porta-voz do Corpo de Bombeiros, Maycon Cristo detalhou como
foi feito o trabalho. Primeiro, foi realizada uma perícia na parte externa da
aeronave e, posteriormente, iniciou-se um trabalho "mais meticuloso"
de recorte do avião para a retirada de partes que estão em locais de difícil
acesso.
"A gente considera um documento, aparelho celular,
posicionamento na aeronave, tudo isso para colaborar para a identifcação.
Considerando toda essa coleta de evidências, aí a gente retira o corpo, coloca
no carro e leva para o IML de São Paulo para concluir a identificação",
explicou.
Cronologia
A aeronave voou por 1 hora e 35 minutos sem qualquer
registro de ocorrências, até fazer uma curva brusca, despencar 4 mil metros em
aproximadamente 1 minuto e sumir do radar, após explodir no terreno de uma casa
em um condomínio residencial.
Ainda não se sabe o que causou o acidente, mas a queda em
espiral sugere a ocorrência de um estol — que acontece quando a aeronave perde
a sustentação que lhe permite voar —, segundo especialistas.
Veja, abaixo, da decolagem à queda, a cronologia do acidente:
A aeronave decolou às 11h46 e o voo seguiu tranquilo até
12h20.
Após 24 minutos, subiu até atingir 5 mil metros de altitude
às 12h23, e seguiu nessa altura até as 13h21, quando começou a perder altitude.
Nesse momento, a aeronave fez uma curva brusca.
De acordo com a Força Aérea Brasileira (FAB), a partir das
13h21 a aeronave não respondeu às chamadas do Controle de Aproximação de São
Paulo, bem como não declarou emergência ou reportou estar sob condições
meteorológicas adversas.
Às 13h22 – um minuto depois do horário do último registro –
a altitude estava em 1.250 metros, uma queda de aproximadamente 4 mil metros.
A velocidade dessa queda foi de 440 km/h.
O Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DECEA) informou
que o 'Salvaero' foi acionado às 13h26 e encontrou a aeronave acidentada dentro
de um condomínio.
Quem são as vítimas?
A Prefeitura de Vinhedo confirmou, por volta de 15h30 da
sexta-feira, que não havia sobreviventes. O governo do Paraná lamentou a morte
de pelo menos oito servidores e profissionais ligados diretamente ao estado.
São docentes e médicos da Unioeste, um professor da rede estadual e um
funcionário da Sanepar.
O programador de 41 anos Rafael Fernando dos Santos, de
Florianópolis, e a filha dele, Liz Ibba dos Santos, de 3 anos, estavam na
aeronave. Segundo familiares, Rafael tinha ido a Cascavel para buscar a menina,
que passaria o dia dos pais na capital de Santa Catarina.
Dentre as vítimas também estão o árbitro de judô Edilson
Hobold, de 52 anos; o representante comercial Ronaldo Cavaliere, de 43 anos;
além do casal formado pelo policial rodoviário federal Hiales Carpine Fodra, de
33 anos, e a fisiculturista Daniela Schulz Fodra.
As médicas residentes de oncologia clínica Arianne
Albuquerque Estevan Risso e Mariana Comiran Belim também faleceram.
A comissária de bordo Rubia Silva de Lima, que morava em
Bonfim Paulista, também faleceu no acidente.
Quais as hipóteses?
Ainda não se sabe o que causou o acidente, mas a queda em
espiral sugere a ocorrência de um estol — que acontece quando a aeronave perde
a sustentação que lhe permite voar —, segundo especialistas.
O estol é uma situação na qual a asa perde completamente a
sustentação útil, o que causa a queda brusca do avião. A depender da altitude e
da condição, é possível recuperar a altitude em voo.
O estol pode acontecer, por exemplo, por formação de gelo
sobre as asas — e na rota dessa aeronave havia essa formação, segundo pilotos
ouvidos pelo g1 e pela Globonews.
Em entrevista na noite desta sexta, a Voepass afirmou que os
sistemas operacionais da aeronave estavam todos em funcionamento no momento da
decolagem em Cascavel.
Os especialistas avaliam que a formação de gelo sobre as
asas pode ser uma das hipóteses. Apesar disso, todos são unânimes em afirmar
que não existe um único fator que cause um acidente e que é prematuro tirar
conclusões a partir dos vídeos ou das informações divulgadas.
Qual a aeronave que caiu?
Segundo a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), o modelo
que caiu em Vinhedo, ATR-72-500 da VOEPASS, é turboélice com 74 assentos. A
aeronave é fabricada pela ATR, com sede na França, que é uma das maiores
fabricantes de aviação do mundo. Ela estava com a documentação em dia e todos
os tripulantes tinham habilitação válida.
De acordo com a fabricante, o ATR-72-500 pode voar com
velocidade máxima de 511 km/h. O modelo tem 27 metros de comprimento e de
envergadura, além de uma autonomia de voo de 1.324 quilômetros. O peso máximo
que o avião pode carregar em serviço é de 7 mil quilos.
O avião tinha 14 anos de fabricação e era de um modelo
conhecido no mundo da aviação por sua capacidade de operar em aeroportos de
pista curta e de difícil acesso no Brasil e em outras partes do mundo,
especialmente na Ásia, onde houve outros acidentes.
Ficha técnica do ATR-72-500 (segundo a fabricante):
Número de assentos: 74
Velocidade de cruzeiro: 511 km/h
Comprimento: 27 metros
Envergadura: 27 metros
Altura: 7,65 metros
Autonomia de voo: 1.324 km
Como estava o tempo no momento da queda?
Meteorologistas apontaram "áreas de instabilidade"
e 35% de formação de gelo nas proximidades do local onde o avião caiu.
De acordo com o Climatempo, no momento exato em que a
aeronave estava fazendo a aproximação havia um "forte vento" de cauda
- o que aumenta a velocidade do avião em relação ao solo.
"Estimativas de modelos meteorológicos indicam
temperaturas entre -9° a -11° C na altura correspondente a 500hPa na região de
Vinhedo por volta das 13h local", disse o órgão.
O que diz a Voepass?
O CEO da Voepass Linhas Aéreas, Eduardo Busch, concedeu entrevista coletiva na noite desta sexta e afirmou que os pilotos eram experientes e que os sistemas operacionais da aeronave estavam todos em funcionamento no momento da decolagem.
Mais cedo, a companhia aérea comunicou em nota que prioriza
prestar irrestrita assistência às famílias das vítimas e colabora efetivamente
com as autoridades para apuração das causas do acidente.
"A VOEPASS Linhas Aéreas informa que a aeronave PS-VPB,
ATR-72, do voo 2283, decolou de CAC sem nenhuma restrição de voo, com todos os
seus sistemas aptos para a realização da operação".
Investigação
A Força Aérea Brasileira (FAB) informou que oficiais do
Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) estão em
posse das duas caixas-pretas do avião.
Militares do Seripa 4, órgão regional do Cenipa em São
Paulo, chegaram em Vinhedo no final da tarde e, além de recuperar as caixas
pretas, iniciaram os trabalhos de investigação do acidente.
Segundo a FAB, o modelo ATR-72 possui duas caixas-pretas:
uma que era responsável por gravar o áudio da cabine dos pilotos e uma segunda
gravava dados da aeronave. Elas serão levadas para Brasília.
Em nota, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) lamentou
o acidente e disse que vai monitorar "a prestação do atendimento às
vítimas e seus familiares pela empresa, bem como adotando as providências
necessárias para averiguação da situação da aeronave e dos tripulantes".
"A Aaeronave operada pela Voepass acidentada em Vinhedo
(SP) nesta sexta-feira, 9 de agosto, um ATR-72, foi fabricada em 2010 e se
encontrava em condição regular para operar, com certificados de matrícula e de
aeronavegabilidade válidos. O voo contava com quatro tripulantes a bordo no
momento do acidente e todos estavam devidamente licenciados e com as
habilitações válidas.
A Anac continua monitorando a prestação do atendimento às
vítimas e seus familiares pela empresa. Além disso, a Agência segue no
acompanhamento dos desdobramentos das investigações do Centro de Investigação e
Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa)", disse a Anac.
Já a Polícia Federal instaurou inquérito para investigar o
acidente. Um 'gabinete de crise' foi montado pela corporação na casa de um
morador dentro do condomínio onde houve a tragédia.
G1 - Foto: Arquivo pessoal
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