‘Escola sem partido’ acaba não votado pela Assembleia
- 27/12/2018
O polêmico projeto “Escola sem
partido” - que pretende restringir discussões sobre política, sexualidade e
gênero nas escolas públicas – acabou não sendo votado pelos deputados estaduais
na legislatura 2015-2018. A proposta, apresentada por Ricardo Arruda (PSL) e
Felipe Francischini (PSL), chegou a ser aprovada pela Comissão de Educação da
Assembleia em 29 de novembro, mas “estacionou” na comissão de Ciência e
Tecnologia da Casa antes de chegar ao plenário. Uma das bandeiras do grupo
político do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL), a proposta certamente deve
voltar a ser discutida a partir de fevereiro de 2019, quando tomam posse os
novos parlamentares eleitos em outubro.
Arruda chegou a ameaçar ir à
Justiça contra a decisão da direção da Assembleia de encaminhar o projeto à
comissão de Ciência e Tecnologia, alegando “perseguição” política contra a
iniciativa. O presidente da Casa, deputado Ademar Traiano (PSDB), manteve,
porém, o entendimento da Diretoria Legislativa da Assembleia de que a proposta
– por tratar de questão que envolve o ensino público – precisaria de parecer
dessa comissão antes de vir à plenário. “Enquanto não passar pela comissão de
Ciência e Tecnologia eu não coloco em votação”, respondeu Traiano, diante dos
questionamentos do autor.
O projeto reproduz praticamente o
mesmo texto de projetos semelhantes que vêm sendo apresentados por
parlamentares das bancadas evangélicas e de outros setores em câmaras
municipais e assembleias de todo o País, sob a alegação de combater a
doutrinação nas escolas. Ele estabelece a obrigatoriedade de fixação de
cartazes nas escolas informando que é proibida em sala de aula, a prática de
doutrinação política e ideológica, bem como a veiculação de conteúdo ou a realização
de atividades de cunho religioso ou moral que possam estar em conflitos com as
convicções dos pais ou responsáveis pelos estudantes. Prevê ainda que alunos e
pais de estudantes poderão fazer denúncias anônimas contra os professores à
Secretaria de Educação. Os professores ficariam também proibidos de estimular
seus alunos a participar de manifestações, atos públicos e passeatas. Em caso
de descumprimento da norma, eles estariam sujeitos a processos administrativos
e sofrer punições que chegariam à demissão.
Mordaça
Os críticos do projeto afirmam
que ele é inconstitucional, por ferir a liberdade de expressão e de cátedra. A
APP-Sindicato, que representa os professores da rede pública de ensino,
classificam o projeto como “lei da mordaça”. O Conselho Estadual de Educação
emitiu parecer contrário à iniciativa, pedindo sua retirada de pauta por “ferir
os princípios da gestão democrática do ensino”. O Ministério Público Estaudal e
a seção paranaense da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/PR), também se posicionaram
contra a matéria. Em junho deste ano, a Justiça suspendeu votação de projeto
semelhante na Câmara de Curitiba.
A Procuradoria-Geral da República
opinou pela inconstitucionalidade da norma de Alagoas, sustentando, entre
outros pontos, que “a proteção constitucional à livre consciência é
incompatível com quaisquer formas de censura estatal prévia”. O Supremo Tribunal Federal suspendeu
cautelarmente a aplicação de lei similar à “Escola sem partido” no Estado de
Alagoas, mas o julgamento do mérito do
caso foi adiado para o ano que vem.
Impulso
Apesar da resistência, o projeto tende a avançar a partir do ano que vem, já que o PSL de Bolsonaro elegeu a maior bancada da Assembleia, com oito deputados, impulsionado pela votação recorde do deputado federal e deputado estadual eleito, Felipe Francischini (PSL), defensor do “Escola sem partido”.
Bem Paraná
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