Informações sobre pesticidas na água são manipuladas
- 24/04/2019
Foram, no mínimo, manipulados os dados de um estudo da ONG Repórter Brasil e Agência Pública que apontava uma suposta contaminação da água das torneiras das principais capitais e outras cidades brasileiras com agrotóxicos. É o que aponta o Portal Ciência e Tecnologia Agro (C&T Agro), uma iniciativa de profissionais da área regulatória de produtos fitossanitários, sementes e insumos.
A partir do estudo foram publicadas diversas reportagens em vários veículos de comunicação que apelaram para um tom alarmista. O pânico foi seguido por desmentidos e notas de esclarecimentos das companhias de abastecimento de água em diferentes regiões. O C&T Agro partiu então para uma verificação das informações divulgadas.
De acordo com a iniciativa, foi consultado “o banco de dados do Ministério da Saúde, denominado SISAGUA, e detectou, não apenas divergências entre as informações divulgadas nas reportagens com as existentes no SISAGUA, como também identificou manipulações nas informações”.
“Os valores máximos permitidos (VMP) de pesticidas foram estabelecidos por meio da Portaria nº2.914, de 12 de dezembro de 2011, assinada pelo ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha (atualmente consolidada na Portaria de Consolidação nº 5, de 28 de setembro de 2017). Esta portaria de 2011 atualizou os indicadores que devem ser analisados na água por parte das companhias de abastecimento e determinou os parâmetros de sanidade: microbiológicos, pH, materiais orgânicos e inorgânicos, os valores máximos permitidos para resíduos de desinfetantes e para 27 ingredientes ativos de pesticidas”, explica o C&T Agro.
Segundo eles, dos ingredientes ativos de pesticidas, 11 encontram-se em desuso no Brasil: “O monitoramento da presença destes pesticidas na água deve-se à persistência de algumas substâncias no ambiente”. Confira os problemas identificados nos dados e nas reportagens sobre a suposta contaminação da água de abastecimento:
A metodologia de coleta de água para análise
Nos resultados do SISAGUA são informados três tipos de coleta de água: a realizada nos pontos de captação (antes de passar pelo tratamento), a coleta na saída do tratamento (logo após ter sido tratada) e a coleta no sistema de distribuição. Os resultados dos três tipos de coleta são inseridos e divulgados conjuntamente. Ocorre que para muitos casos, a depender das características do pesticida e dos procedimentos de tratamento aos quais a água é submetida em cada região, os pesticidas podem ser reduzidos ou eliminados durante o tratamento. Por isso não é correto analisar conjuntamente os resultados de todas as coletas.
A metodologia analítica para realizar as análises
A norma do Ministério da Saúde, que estabeleceu os valores máximos permitidos para pesticidas não detalha a metodologia de análise que deve ser utilizada para cada ingrediente ativo, havendo a possibilidade de resultados diversos devido à falta de padronização de metodologias para identificação e quantificação dos pesticidas na água. A falta de padronização na metodologia torna os dados pouco comparáveis e suscetíveis tanto de falso negativos quanto de falsos positivos. Quem de nós nunca recorreu a um segundo exame para confirmar ou descartar o diagnóstico de uma doença?
Falta de padronização no preenchimento do SISAGUA
O banco de dados do Ministério da Saúde é preenchido com as informações geradas pelas empresas de abastecimento de água, mas não há uma padronização no preenchimento das informações. Cada notificante decide, por exemplo, o número de zeros que agrega após a vírgula. Para identificar “um micrograma” constam pelo menos seis formas diferentes inseridas no banco de dados: 1; 1,0; 1,00; 1,000; 1,0000 e 1,00000. Verificamos que nas reportagens feitas por pessoas leigas em estatística e não habituadas com este tipo de informação, em muitos casos três zeros após a vírgula foram considerados como “um mil microgramas”, quando na realidade referiam-se a “um micrograma”.
Como ocorreu a manipulação dos dados nas reportagens
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