Gestão Bolsonaro propõe novo 'toma lá, dá cá'
- 16/12/2018
Antes de encerrar uma discussão
acalorada na semana passada, Leonardo Quintão (MDB-MG), um dos principais
articuladores políticos do novo governo, puxou Levy Fidélix (PRTB) pelo braço e
o conduziu até debaixo de uma árvore.
Estavam no estacionamento do
prédio que abriga a sede do governo de transição, em Brasília, e se afastaram
dos assessores para terminar a conversa reservadamente.
Sob gestos enfáticos do
presidente da sigla que indicou o vice de Jair Bolsonaro, Quintão pediu calma a
Fidélix e disse que as coisas se resolveriam logo para o PRTB.
O pai do aerotrem, que tem
reclamado publicamente da falta de espaço na nova gestão, é a alegoria perfeita
do "toma lá, da cá" inaugurado pelo governo de Jair Bolsonaro.
Após escolher 22 ministros
ancorados nas chamadas bancadas temáticas do Congresso, o presidente eleito não
conseguiu impedir negociações no varejo para indicações ao segundo e terceiro
escalões.
Nomeado por Onyx Lorenzoni (Casa
Civil) para fazer parte da articulação política, Quintão montou gabinete e
implementou um novo formato de "toma lá, dá cá", que dispensa as
tratativas diretas com presidentes e líderes dos partidos e negocia individualmente
com os parlamentares.
A estratégia de Onyx e seus
aliados é oferecer cargos nos Estados aos deputados avulsos, vendendo a ideia
de que, assim, eles se tornarão uma forte liderança regional.
O objetivo é criar um canal
direto com os parlamentares e tentar fragmentar o poder dos líderes de bancada
-até aqui, fundamentais para a governabilidade no presidencialismo de coalizão.
Nos últimos dias, o time da
futura Casa Civil -formado por deputados do baixo clero que não conseguiram se
reeleger para um novo mandato- tem conversado com integrantes de diversas
legendas e seduzido, principalmente, nomes do PSD e do PR.
Juntas, essas bancadas terão 67
deputados a partir de 2019.
O ex-deputado Valdemar Costa
Neto, condenado no mensalão, por exemplo, lidera o PR para tentar manter
influência no Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes),
responsável pelo setor ferroviário.
As tratativas com o futuro
ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, estão avançadas e o PR
já sinalizou que quer abocanhar também a vice-presidência da Caixa, indicando o
deputado Milton Monti (SP) para o posto.
Na outra ponta, o PSD, de
Gilberto Kassab, foi abordado pelos articuladores do presidente eleito para que
deixasse o bloco formado na Câmara por siglas do centrão, com o objetivo de
isolar o PT e o PSL.
A proposta era que o partido de
Bolsonaro apoiasse um nome do PSD para a liderança do governo na Casa. Onyx e
Quintão foram os principais interlocutores dessas conversas.
Além dele, Danilo Forte (PSDB),
Alberto Fraga (DEM), Ronaldo Nogueira (PTB) e Carlos Manato (PSL) formam a
linha de frente da tropa que tem atuado para costurar a base de apoio para
Bolsonaro.
A partir de 1º de janeiro, eles
querem alocar uma sala no Congresso para ser QG da articulação do novo governo.
Manato afirmou à reportagem que
ele e Quintão inclusive já acertaram com o presidente eleito que começarão a
trabalhar oficialmente logo após a posse, mas não renunciarão ao resto de seus
mandatos, que só terminam em 31 de janeiro.
O salário na Câmara é de R$ 33,7
mil e o cargo que ocuparão no Executivo deve pagar algo em torno de R$ 16 mil.
Para driblar a diferença nos
vencimentos, deputados derrotados nas urnas já pressionam o novo governo para
conseguir participação em conselhos de administração pública que remuneram seus
participantes.
Segundo a assessoria do próprio
presidente eleito, nas últimas semanas ele e sua equipe receberam cerca de 300
parlamentares, com reuniões formais com as bancadas de PSL, PP, MDB, PR, PRB,
DEM, PSDB, PSD e Podemos.
Siglas como PP e MDB tiveram
alguns de seus parlamentares abordados individualmente, mas o comando das
legendas diz que vai esperar o modelo "dar errado logo na primeira
votação".
Em conversa com alguns aliados, o
presidente Michel Temer fez um prognóstico: nomear deputados sem mandato para
negociar cargos e emendas não tem chance de dar certo.
Folhapress
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