Armas furtadas: 7 militares suspeitos são impedidos de deixar quartel
- 23/10/2023
Sete militares estão impedidos de deixar o Arsenal de Guerra
de Barueri, na Grande São Paulo, porque são suspeitos de participarem
diretamente do furto das 21 metralhadoras do quartel do Exército, em setembro.
Outros 13 militares são investigados pela instituição de por participação
indireta no crime, mas podem deixar o local após o trabalho (leia mais abaixo).
O Exército investiga no total 20 militares por suspeita de
envolvimento com o maior desvio de armas da sua história. Nesse grupo tem
soldados a oficiais.
Neste domingo (22), o Comando Militar do Sudeste (CMSE)
convocou entrevista coletiva, na sua sede na capital paulista, para tratar da
investigação e localização de 17 dessas armas furtadas. Nesta semana elas foram
recuperadas pelas polícias do Rio de Janeiro e de São Paulo.
O general Maurício Vieira Gama, chefe do Comando Militar do
Sudeste, também comentou a busca pelas outras quatro metralhadoras que ainda
não foram encontradas. Gama afirmou que desde o início do caso está em contato
direto com a Polícia Civil fluminense e também com a paulista. E que a troca
dessas informações ajudou a recuperar as armas que haviam sido negociadas por
militares com criminosos.
"Nós temos hoje na frente da esfera administrativa, nós
temos aí em torno de 20 militares que respondem disciplinarmente por terem
negligenciado na conferência, na fiscalização, na gerência do controle desse
armamento. Então, são militares que estão respondendo na esfera disciplinar",
disse ao g1 o general Maurício, repercutindo o que havia dito antes na
coletiva.
"Mas isso não exime também de alguns deles responderem
na esfera criminal por participação direta, nesse crime, nesse furto do
armamento. Então são duas coisas distintas. Agora pode ser que tenham militares
que estão sendo investigados nas duas frentes", explicou o general.
Sete militares impedidos de sair
A reportagem também apurou que sete desses militares estão
impedidos de sair do Arsenal de Guerra desde 10 de outubro, quando o
desaparecimento das armas foi confirmado pelo Exército durante inspeção. Há
indícios de que eles teriam participação mais efetiva no crime, colaborando.
Sendo que três deles, desse grupo de sete, seriam os
responsáveis diretos pelo furto, de acordo com a investigação: um teria aberto
o paiol, outro pegou as armas e um terceiro transportou num caminhão militar
para fora do quartel.
Outros 13 militares do grupo de 20 investigados estão
podendo ir para casa e voltar para trabalhar no quartel.
Até a última atualização desta reportagem nenhum militar
investigado pelo sumiço das metralhadoras havia sido punido. Àqueles que forem
considerados culpados por negligência, ou seja, pela participação indireta no
furto das metralhadoras, receberão penas administrativas. Elas podem ir da
prisão temporária por 30 dias.
Os militares apontados na investigação por terem
envolvimento direto no furto responderão criminalmente na Justiça Militar.
Nesse caso, se forem punidos, poderão ser presos preventivamente até que sejam
julgados. E também poderão ser expulsos da instituição.
Aproximadamente 50 militares já foram ouvidos, mas não
necessariamente todos são investigados. Cerca de 40 militares estão
"aquartelados", entre eles, homens e mulheres. Ou seja, ficam se
revezando com outros para permanecerem no Arsenal de Guerra por dias seguidos.
Até sábado (21) eram 160 "aquartelados" e antes disso toda a tropa de
480 militares ficou proibida de deixar o quartel.
A medida, segundo o CMSE é que eles possam colaborar com as
investigações internas para esclarecer o sumiço das metralhadoras. Por esse
motivo, quem está "aquartelado" tem o celular confiscado para não se
comunicar com outros militares enquanto estiver na base.
O Exército trabalha com a possibilidade de que o furto das
13 metralhadoras antiaéreas calibre .50 e das oito metralhadoras calibre 7,62
tenham sido furtadas durante o feriado de 7 de setembro. Câmeras de segurança
do quartel estão sendo analisadas para saber se gravaram a ação criminosa.
Segundo o Instituto Sou da Paz, as 21 metralhadoras furtadas
do quartel em Barueri representam o maior desvio de armas da história do
Exército brasileiro desde 2009, quando sete fuzis foram roubados e depois
recuperados pela polícia de um batalhão em Caçapava, interior de São Paulo.
Suspeitos foram presos à época, entre eles um militar.
Exército alega que colabora com polícias
"Estamos trabalhando em conjunto [com as polícias] e
esperamos aí encontrar essas quatro armas que estão faltando", disse
Maurício durante a coletiva no Comando Militar do Sudeste.
A declaração do general é uma resposta indireta a Secretaria
da Segurança Pública (SSP) e a Polícia Civil de São Paulo. O secretário
Guilherme Derrite e o delegado Marcelo Prado haviam dito à imprensa que a
localização das nove metralhadoras, na sexta-feira (20), em São Roque, interior
paulista, ocorreu após trabalho do setor de investigação das forças de
segurança.
Em nenhum momento citaram que tinham recebido informações do
serviço de inteligência do Exército para ajudar a encontrar e recuperar o
armamento. Quando questionado, o delegado ainda negou que os militares tivessem
compartilhado dados: "Nada o Exército passa..."
oram recuperadas num lamaçal em São Roque cinco
metralhadoras calibre .50 e quatro metralhadoras 7,62. Houve troca de tiros com
dois criminosos, que iriam entregar o carregamento para uma facção. Os bandidos
fugiram. Uma viatura policial foi atingida por três disparos, mas ninguém se
feriu.
No Rio de Janeiro, a Secretaria da Segurança e a Polícia
Civil fluminense confirmaram que estavam trocado informações com o Exército
quando recuperaram oito metralhadoras (quatro .50 e outras quatro 7,62). As
armas tinham sido abandonadas, possivelmente por criminosos.
Armas iriam para facções
As outras quatro metralhadoras que ainda não foram
recuperadas são de calibre .50 e podem derrubar aeronaves. Tento o Exército
quanto as polícias sabem que os militares de Barueri foram cooptados pelo crime
organizado. O destino das armas, segundo as investigações, seriam facções
criminosas, como o Comando Vermelho (CV), no Rio, e o Primeiro Comando da
Capital (PCC), em São Paulo.
Apesar de o Exército informar que as armas furtadas, que são
de meados dos anos 1960 e 1990, serem "inservíveis" e estarem
passando por manutenção, não compensando financeiramente recuperá-las,
especialistas disseram à reportagem que elas podem voltar a funcionar.
Principalmente se caírem nas mãos de criminosos.
Por causa do desaparecimento das armas, o tenente-coronel
Rivelino Barata de Sousa Batista, diretor do Arsenal de Guerra, foi exonerado
na semana passada pelo Exército. Ele será transferido para outro quartel e
continuará na ativa. Em seu lugar, assume o novo diretor, o coronel Mário
Victor Vargas Júnior, que comandará a base em Barueri.
Com Inf: G1 Foto: Divulgação/Polícia Civil / Leslie
Leitão/TV Globo
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