Dia do estudante é marcado por mobilizações em todo o país
- 11/08/2023
Entidades estudantis vão às ruas em diversas cidades do país
pedindo melhorias na educação, desde a educação básica até a pós-graduação.
Neste dia do estudante, as principais reivindicações são a revogação do Novo
Ensino Médio, mais assistência estudantil para todas as etapas de ensino,
direitos previdenciários para os mestrandos e doutorandos, além da defesa do
orçamento da educação.
A mobilização nacional é convocada pela União Brasileira dos
Estudantes Secundaristas (Ubs), pela União Nacional dos Estudantes (UNE) e pela
Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG). “A gente vai às ruas pela
garantia dos direitos dos estudantes”, diz a presidenta da UNE, Manuella
Mirella. O presidente da ANPG, Vinícius Soares, acrescenta: “O dia 11 é o Dia
do Estudante, então, historicamente as entidades estudantis convocam as
jornadas de lutas em defesa da educação”.
Neste ano, o Novo Ensino Médio está no centro do debate. As
entidades estudantis pedem a revogação da Lei 13.415/2017, que institui o novo
modelo para a etapa. As escolas começaram a implementar os novos currículos no
ano passado. O ensino médio passa a contar com uma parte do currículo comum,
definida pela Base Nacional Comum Curricular, que estabelece o mínimo que todos
os estudantes devem ter acesso. Na outra parte do currículo, os estudantes
escolhem itinerários formativos, dependendo da capacidade de oferta de cada
rede de ensino.
Desigualdade
Um dos argumentos dos estudantes é que o modelo gera muita
desigualdade, especialmente entre escolas públicas e privadas. Isso porque a
parte comum seria insuficiente, por si só, para que os estudantes pudessem, por
exemplo, ter acesso a uma universidade. A formação completa dependeria do
aprofundamento nos itinerários que, por sua vez, dependem das condições e da
infraestrutura de cada localidade.
De acordo com a presidenta da União Brasileira dos
Estudantes Secundaristas (UBES), Jade Beatriz, na prática, os estudantes acabam
tendo aulas que não lhes acrescentam e deixam de ter conteúdos que poderiam
ajuda-los a ingressar no ensino superior.
“Os estudantes falaram da dificuldade de não ter todas as
matérias de base, de estarem com medo do Enem [Exame Nacional do Ensino Médio]
por conta disso”, diz e acrescenta que eles buscam também a garantia de que “os
itinerários, as matérias que são dadas além das matérias de base, sejam de
qualidade e não só para preencher espaço com aulas de brigadeiro caseiro, aulas
de como fazer bolo de pote ou o que seu dinheiro pode fazer por você. Todo esse
tipo de matéria a gente deixou claro que precisa ser substituída por matérias
que façam sentido”.
Revisão do Novo Ensino Médio
O Ministério da Educação (MEC) comprometeu-se a rever o Novo
Ensino Médio. No primeiro semestre deste ano foi aberta a Consulta Pública para
Avaliação e Reestruturação da Política Nacional de Ensino Médio. Na
segunda-feira (7), o MEC divulgou o sumário com os principais resultados da
consulta. Ao todo, foram recebidas mais de 11 mil contribuições entre 9 de
março a 6 de julho.
Entre as propostas de mudança estão a ampliação da carga
horária da parte comum, a recomposição de componentes curriculares e o fim da
educação a distância (EaD) para a Formação Geral Básica, com exceção da
educação profissional técnica, que terá oferta de até 20% nesse formato. A EaD
também poderá ser aplicada em situações específicas, como no caso da pandemia.
As mudanças, no entanto, ainda demorarão para chegar na sala
de aula. Enquanto isso, a lei segue em vigor. O documento apresentado pelo MEC
será encaminhado para apreciação do setor educacional e dos órgãos normativos
para que, até o dia 21 de agosto, enviem as considerações para a pasta
consolidar as propostas na versão final do relatório. Esse documento será
enviado para apreciação do Congresso Nacional.
Segundo o MEC, as propostas para o ensino médio também serão
apresentadas para as Comissões de Educação da Câmara dos Deputados e do Senado
Federal, para que possam contribuir com o relatório final, com base nas
informações coletadas em audiências públicas realizadas pelas casas
legislativas.
Beatriz ressalta que os estudantes pedem a revogação
imediata do modelo atual para que um novo seja implementado. Ela diz que está
otimista com o processo conduzido pelo MEC.
“A gente viu que foi muito escutado. A gente tem visto de
forma positiva, mas para conseguir que seja aprovado esse novo modelo, precisa
da revogação da reforma. A gente está com expectativa positiva de que pode dar
certo”.
Assistência estudantil
Outra pauta defendida pelos estudantes é a ampliação da
assistência estudantil, tanto na educação básica, sobretudo para estudantes de
escola em tempo integral, quanto para aqueles que já estão na universidade,
para que consigam concluir a formação. A
intenção é que, sobretudo os estudantes em condições de vulnerabilidade, tenham
acesso a alimentação, transporte, moradia, além de uma bolsa para que possam
concluir os estudos.
“A permanência, para os estudantes, é garantir que eles
cheguem na universidade e que consigam se manter na universidade. É a luta pelo
passe livre [no transporte público], é a construção de restaurantes
universitários, que é uma das políticas mais importantes para a permanência dos
estudantes. É também garantir que tenham condições de comprar material, de
tirar uma xérox”, diz a presidenta da UNE.
Mirella enfatiza que ainda é muito caro se manter na
universidade. “Por isso nossa luta pela permanecia é fundamental para que se
consiga construir uma universidade do futuro, com os estudantes e povo
brasileiro nela, com negros e negras, com indígenas, quilombolas”.
Na pós-graduação, a principal pauta é que os pesquisadores
possam contar o tempo em que se dedicam à formação e a produção de conhecimento
em mestrados e doutorados como tempo para aposentadoria pelo Instituto Nacional
do Seguro Social (INSS). “A previdência é uma demanda de 40 anos da
pós-graduação no Brasil. Hoje, um jovem cientista passa dois anos no mestrado e
quatro anos no doutorado e esse tempo não é contabilizado para nosso tempo de
previdência. Ou seja, são seis anos atrasando a entrada no mercado formal de
trabalho. Essa demanda surge para pavimentar um caminho de valorização do jovem
pesquisador no Brasil”, diz, o presidente da ANPG, Vinícius Soares.
Dia do estudante
Ao todo, segundo dados do Instituto Nacional de Estudos e
Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), são mais de 47 milhões de
estudantes na educação básica, etapa que vai da educação infantil até o ensino
médio, e quase 9 milhões no ensino superior. Apenas os estudantes da educação
formal - sem contar aquelas pessoas que seguem fazendo cursos e melhorando a
formação - representam mais de um quarto de toda a população brasileira.
A data do dia do estudante faz alusão ao 11 de agosto de
1827, quando o imperador D. Pedro I instituiu os dois primeiros cursos
brasileiros de ensino superior na Faculdade de Direito de Olinda (PE) e na
Faculdade de Direito do Largo São Francisco (SP), nas áreas de ciências
jurídicas e ciências sociais. Também no dia 11 de agosto, em 1937, na Casa do
Estudante do Brasil, no Rio de Janeiro, foi fundada a União Nacional dos
Estudantes, que nesta sexta-feira, comemora 86 anos.
O dia do estudante tornou-se um marco do direito à educação,
garantido na Constituição Federal, junto com o direito a saúde, a alimentação,
o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência
social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos
desamparados.
Com Inf: AEN | Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil
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