Constituição brasileira é traduzida pela 1ª vez para língua indígena
- 21/07/2023
Trinta e cinco anos após promulgada, a Constituição
brasileira foi traduzida pela primeira vez para uma língua indígena: o
nheengatu. Patrocinada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e pelo Conselho
Nacional de Justiça (CNJ), a nova versão da Carta Magna foi lançada nesta
quarta-feira (19) no município de São Gabriel da Cachoeira (AM), em uma
cerimônia na maloca da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro
(FOIRN).
Presente no evento, a presidente do STF, ministra Rosa
Weber, diz que a tradução marca um momento histórico. “Traduzir a Constituição
para um idioma indígena é um símbolo do nosso compromisso de garantir que todos
os povos indígenas tenham acesso à justiça e conhecimento das leis que regem
nosso país, fortalecendo sua participação na vida política, social, econômica e
jurídica”, explicou.
A Constituição em nheengatu foi feita por um grupo de 15
indígenas bilíngues da região do Alto Rio Negro e Médio Tapajós, em promoção ao
marco da Década Internacional das Línguas Indígenas (2022-2032) das Nações
Unidas. O último levantamento de línguas indígenas do Brasil registrou que as
305 etnias brasileiras mantêm vivos 274 idiomas no país, segundo o Censo de
2010.
“(As línguas) conseguiram sobreviver mesmo diante de
sucessivos ataques desde o início do processo de colonização desse território,
que já era casa de inúmeros povos indígenas antes de ser chamado de Brasil. Por
isso, preservar e valorizar a diversidade linguística brasileira é fundamental
para a construção de uma sociedade plural e inclusiva”, destacou a ministra do
STF Rosa Weber.
Os indígenas presentes na cerimônia comemoraram a tradução
da Constituição. Lucas Marubo, do povo marubo, destacou que a tradução abre um
precedente para que outros povos também tenham seus direitos traduzidos.
“Momento histórico para os povos indígenas”, destacou. Já a tradutora Inory
Kanamari, do povo kanamari, lembrou que é a primeira indígena da sua etnia a
exercer a advocacia. “Estamos num país com diversidade imensa e não escuto
nossas línguas nos espaços. A gente precisa fazer parte”, concluiu Inory.
Língua-Geral Amazônica
A presidente do STF Rosa Weber disse que a escolha da língua
nheengatu se deu devido a importância dela para região amazônica. “Partiu da
percepção de que esta língua historicamente permitiu a comunicação entre
comunidades de distintos povos espalhados em toda a região amazônica, até a
fronteira com o Peru, Colômbia e Venezuela, e chegou, segundo historiadores, a
ser prevalente no Brasil, até ser perseguida e proibida”, explicou.
Chamada de Língua Geral Amazônica, o nheengatu é a única
língua ainda viva hoje que descende do tupi antigo, tendo traços que a
relacionam com o tupi falado na costa brasileira. “Aprendi que o nheengatu é
uma língua do tronco do tupi-guarani e legou para a língua brasileira milhares
de vocábulos, o nosso sotaque nasal e com prevalência de vogais, que em
conjunto com a herança de outros idiomas indígenas e dos idiomas africanos,
caracteriza a nossa língua como única e uma das mais ricas do mundo”, concluiu
Weber.
Também participaram do lançamento da Constituição em
Nheengatu a ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, e a presidente da
Fundação Nacional do Índio (Funai), Joenia Wapichana.
Com Inf: EBC | Foto: Fellipe Sampaio/SCO/STF
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