Apesar de proibida, venda de cigarros eletrônicos continua no Brasil
- 07/07/2023
Apesar de ser proibida a comercialização, importação e
propaganda de cigarros eletrônicos no Brasil, boa parte dos jovens brasileiros
usa esse produto. A proibição foi determinada pela Resolução da Diretoria
Colegiada (RDC) número 46/2009 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(Anvisa). Não há, portanto, autorização no Brasil para quaisquer dispositivos
eletrônicos para fumar, os chamados DEFs, independentemente de sua composição e
finalidade.
Em julho de 2022, a Anvisa manteve a proibição da importação
e a venda dos DEFs, ou vapes, no Brasil, mas a compra continua ocorrendo pela
internet e em pontos de venda do comércio, incluindo camelôs, além de festas e
boates.
Nesta quinta-feira (6), a Anvisa reiterou à Agência Brasil
que a importação de DEFs, acessórios, refis e essências desses produtos é
proibida no Brasil e que o descumprimento da norma é passível de sanções. As
penalidades previstas variam de advertência a multas, conforme a gravidade do
fato e o porte da empresa, de acordo com o previsto nas leis nº 6437/77 e 9294/96. Em caso de propaganda irregular,
além das penalidades, as empresas são notificadas a retirar o site com conteúdo
irregular da internet.
No âmbito das ações de fiscalização, tendo como fundamento o
princípio da descentralização político-administrativa, cabe primordialmente às
vigilâncias sanitárias locais a fiscalização de tais produtos, conforme prevê o
Artigo 7º da Lei nº 8.080 /1990, cominado com a Lei nº 9.782/1.999, que define
o Sistema Nacional de Vigilância Sanitária. A Anvisa, contudo, "vem
reforçando e integrando as ações de fiscalização em cooperação com estados e
municípios e atuando na capacitação das vigilâncias sanitárias locais”. A
Anvisa informou ainda que não possui competência legal para regular o uso
individual de cigarro eletrônico.
De acordo com relatório divulgado em maio do ano passado
pelo sistema Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas
por Inquérito Telefônico (Vigitel), do Ministério da Saúde, pelo menos um a
cada cinco jovens de 18 a 24 anos usa cigarros eletrônicos no Brasil. Do mesmo
modo, a última pesquisa Covitel, desenvolvida pela organização global de saúde
pública Vital Strategies e pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel), mostra
que os adultos jovens apresentaram as maiores prevalências de experimentação de
cigarro eletrônico (19,7%) e de narguilé (17%), no país, no ano passado. O
consumo desses produtos é considerado modismo no Brasil e segue comportamento
observado em outros países, como Estados Unidos e Reino Unido, onde é permitida
a comercialização.
CDC
Estudo recente, divulgado no fim de junho pelo Centro de
Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC), informa que as vendas
mensais de cigarros eletrônicos aumentaram 46,6%, passando de 15,5 milhões de
unidades, vendidas em janeiro de 2020, para 22,7 milhões, em dezembro de 2022
naquele país. Esse incremento considera somente as vendas de varejo, excluindo
o comércio online.
A sondagem mostrou que os e-cigarros com sabores são os
preferidos do consumidor, evoluindo de 29,2% para 41,3%. A indústria está
também em franca expansão, diz o CDC. O número de marcas que oferecem produtos
eletrônicos à base de tabaco subiu de 184 para 269, alta de 46,2%. Já a
Pesquisa Nacional de Tabaco Juvenil de 2022, aponta que mais de 2,5 milhões de
estudantes do ensino fundamental e médio dos Estados Unidos disseram usar o
cigarro eletrônico, com um a cada quatro alunos relatando usar diariamente o
vaporizador.
No Reino Unido, escolas estão trocando detectores de fumaça
por sensores de calor para evitar o disparo de alertas, em razão do uso de vape
pelos alunos, em especial nos banheiros das instituições, informou o jornal
britânico Daily Mail. Na St George's Academy em Sleaford, em Lincolnshire, a
diretora Laranya Caslin estimou que um em cada quatro alunos na faixa etária de
11 a 18 anos deixa as aulas habitualmente para usar o e-cigarro, visando a
aumentar os níveis de nicotina no organismo.
Perigos
Falando nesta quinta-feira (6) à Agência Brasil, o diretor executivo
da Fundação do Câncer, cirurgião oncológico Luiz Augusto Maltoni, demonstrou
preocupação com os perigos que o avanço desse tipo de derivado do tabaco entre
os jovens brasileiros pode trazer para a saúde.
Na Europa e nos Estados Unidos, onde a venda é permitida, as
indústrias argumentam que os vapes constituem uma maneira de as pessoas pararem
de fumar. Maltoni afirmou que o argumento é falso e está fazendo o efeito
inverso, que é atrair cada vez mais jovens para o hábito de fumar e o consumo
de tabaco. “A permissão para vender o cigarro eletrônico tem criado uma nova
onda de crescimento da indústria do tabaco no mundo.”
No Brasil, ele disse que o volume de jovens e adolescentes
que já experimentaram o cigarro eletrônico em algum momento ou fazem uso desse
produto só não é maior porque existe uma política no país que proíbe o cigarro
eletrônico por normatização. “De certa forma, a gente ainda consegue manter
índices muito inferiores aos de nações onde é liberada a venda”.
Convenção-quadro
Maltoni destacou a reativação da Convenção-Quadro da
Organização Mundial da Saúde (OMS) para o Controle do Tabaco, que tinha parado
de funcionar durante a pandemia da covid-19 e vai voltar agora à carga total. A
convenção é assinada por mais de 100 países que acordaram que o cigarro e seus
derivados constituem item de grande prejuízo para a saúde no mundo e exige
políticas de controle dos signatários. “O ideal é que a gente possa erradicar o
tabagismo do mundo”. Na Convenção-Quadro, há uma série de determinações que
devem ser cumpridas pelos signatários. Maltoni lembrou que o último relatório
sobre controle de tabaco do mundo foi lançado pela OMS no Rio de Janeiro,
porque o Brasil tinha atingido todos os níveis mínimos necessários para controle
do tabaco no mundo. “Foi uma deferência ao Brasil como um dos países que mais
avançaram no controle ao tabaco”. Uma das questões da convenção é o cigarro
eletrônico.
De acordo com o CDC, é alarmante o número de casos de
inflamação aguda de pulmão que o aumento do tabagismo tem provocado nos Estados
Unidos. O diretor executivo da Fundação do Câncer afirmou que não há nenhum
estudo clínico que demonstre que o cigarro eletrônico seja indutor da cessação
do tabagismo. “Pelo contrário, nenhum [estudo] comprovou que é um método eficaz
para a cessação. Existem outros métodos já estabelecidos, que incluem uso de
medicamentos, antidepressivos, aconselhamento individual ou em grupo, uso de
adesivos de nicotina de reposição para que o dependente vá reduzindo a dose.
Tem uma série de mecanismos para ajudar o tabagista a parar de fumar”.
Maltoni insistiu que o cigarro eletrônico é um indutor e tem
foco nos mais jovens para criar dependência. “E, a partir daí, ele se torna não
só um consumidor do cigarro eletrônico, mas também do cigarro convencional. Ele
ressaltou que, além de doenças pulmonares, as substâncias tóxicas presentes no
cigarro tradicional e nos eletrônicos contribuem para as doenças obstrutivas
crônicas (DOCs) e doenças cardiovasculares, além de vários tipos de câncer. “O
cigarro eletrônico tem outro agravante. Como é um composto eletrônico, causa
lixo que não é biodegradável, polui o ambiente, provocando um problema
ambiental cada vez mais significativo”, disse o especialista.
Fora isso, há também um grande número relatado de explosões
que deixam queimaduras em boa parte do corpo das pessoas, acrescentou.
Universidades
Além do trabalho de divulgação para ao público dos
malefícios do tabagismo, em especial do cigarro eletrônico, junto a outros
parceiros, como a Ecoponte, a Fundação do Câncer pretende expandir este ano as
ações realizadas em universidades públicas e privadas, para sensibilizar
professores, pais e alunos sobre como a questão do tabagismo é importante para
a preservação da saúde.
Com Inf: EBC | Foto: Divulgação Ministério da Saúde
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