Há exatos 40 anos desapareciam as Sete Quedas em Guaíra

  • 28/10/2022

Há 40 anos em 27 de outubro de 1982 as chuvas que enchiam o Rio Paraná aceleraram a formação do Lago de Itaipu, "afogaram" as Sete Quedas e calaram de vez o ronco dos saltos que era ouvido a 25 quilômetros de distância.

A formação do lago deveria durar cerca de dois meses mas ocorreu em apenas 14 dias após o fechamento das comportas da usina localizada 150 km em linha reta rio abaixo daquelas que eram as maiores cachoeiras em volume d’água do mundo.

Em 1982 Guaíra se assemelhava muito com Foz do Iguaçu, que antes da construção da usina tinha uma população na faixa de 34 mil habitantes, similar à de Guaíra (30 mil em 1980). Além de cachoeiras, ambas também fazem fronteira com o Paraguai, que se tornou polo de compras de brasileiros a partir da década de 1980. 

Foz do Iguaçu cresceu e se tornou um dos principais destinos turísticos do país. Guaíra, por sua vez, estagnou. Famílias inteiras deixaram a cidade, os negócios que cresceram com o turismo da época minguaram, a população diminuiu. Hoje a cidade já supera o luto pela perda das Sete Quedas e tenta encontrar na pesca e nas atrações ecológicas novas atrações para fomentar o turismo.

Como eram as Sete Quedas?

As Sete Quedas foram as maiores cachoeiras do mundo em volume de água. Eram constituídas por 19 saltos, que poderiam ser agrupados em sete grupos distribuídos por um canal principal de 4 km de extensão.

As negociações entre o Brasil e o Paraguai para a construção da Usina de Itaipu se iniciaram na década de 60. Após seis anos de negociações, em 1966 foi firmado um tratado para a construção de uma usina hidrelétrica que aproveitasse o potencial hídrico de Sete Quedas. Além do aproveitamento econômico, a construção da hidrelétrica pôs fim a um litígio fronteiriço entre Brasil e Paraguai, que tinha pretensões sobre a posição exata da fronteira. A divisão territorial se dava na 5ª Queda, na mesma posição onde ainda fica a fronteira.

Turismo e acidente

Próximo do seu desaparecimento, as quedas foram um sucesso turístico e Guaíra chegou a ser a cidade mais visitada do Brasil. Milhares de pessoas, de todas as partes do Brasil e do mundo, iam a Guaíra para presenciar os últimos dias das Sete Quedas. 

Devido à superlotação, em 17 de Janeiro de 1982, ocorreu a queda de uma ponte que dava acesso ao Salto 19, tendo como consequência a morte de 32 pessoas. Seis pessoas sobreviveram, salvas por pescadores de Guaíra.

A investigação apontou duas causas para o acidente: primeiro, a falta de cuidado com a manutenção das pontes, sob o pretexto de que em breve as Sete Quedas seriam inundadas; segundo, o aumento descontrolado da visitação, pois todos queriam ver os Saltos antes de seu desaparecimento para a formação do lago de Itaipu.

As sete quedas em números

19 era número de saltos reunidos em sete grupos

13,3 mil metros cúbicos por segundo era o volume de água, o dobro do das cataratas de Niágara, nos EUA

25 km era a distância até a qual o som das cachoeiras podia ser ouvido

40 metros era a altura da maior parte das quedas

14 dias foi o tempo que demorou, devido às chuvas, para a área ser inundada (a previsão era de dois meses)

Cronologia das Sete Quedas

1525 - O espanhol Aleixo Garcia, percorrendo os caminhos de Peabiru em direção aos Andes, faz o primeiro registro do que seria posteriormente chamado de Sete Quedas. É considerado o primeiro europeu a ingressar no território onde hoje é Guaíra (PR)

1554 - Espanhóis fundam a Ciudad Real del Guayrá, uma vila militar na foz do rio Piquiri, a cerca de 20 km em linha reta de onde eram as Sete Quedas

1631 - O padre Ruiz de Montoya, naquela que é considerada a maior fuga não militar da história, passa pela região com cerca 12 mil índios guaranis que deixaram missões jesuíticas próximas de onde hoje fica o Parque Estadual do Morro do Diabo (SP) fugindo dos ataques de bandeirantes paulistas

Década de 1880 - Fundação da Companhia Matte Laranjeira, que passa a explorar erva mate no Mato Grosso do Sul e a enviar a produção para Buenos Aires pelo rio Paraguai, cruzando o país vizinho

1902 - A empresa instala um porto logístico no local onde hoje é a cidade de Guaíra e passa a enviar a erva-mate a Buenos Aires pelo rio Paraná, para fugir das taxas impostas pelo Paraguai. O local passa a contar com água encanada, uma usina termoelétrica e casas com saneamento para os funcionários da empresa

1917 - Início da operação de um trem da companhia para transportar a produção por terra no trecho não navegável das Sete Quedas

1944 - O presidente Getúlio Vargas estatiza propriedades da Companhia Matte Laranjeira e cria o Serviço Nacional da Bacia do Prata para realizar as operações

1951 - Emancipação de Guaíra, que passa a ser município

Início dos anos 1960 - Com o declínio do ciclo do mate, o Serviço Nacional da Bacia do Prata deixa de operar

1966 - O presidente militar Castelo Branco assina o decreto autorizando a submersão das Sete Quedas para a formação da usina de Itaipu

1979 - Avanço do projeto intensifica o fluxo de turistas em Guaíra, que chega ao auge nas vésperas do fim das cachoeiras

17.jan.1982 - Desabamento de uma passarela sobre um salto das Sete Quedas mata 32 turistas

27.out.1982 - Em apenas 14 dias após o fechamento das comportas de Itaipu, a represa é formada, engolindo as Sete Quedas

5.mai.1984 - Início da operação da usina de Itaipu.

Com Inf: Preto no Branco | Foto: FolhaPress/Arquivo


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