Gaeco prepara recurso contra decisão que soltou da prisão Beto Richa
- 17/09/2018
Contrariados pela decisão do
ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que mandou soltar o
ex-governador Beto Richa (PSDB), familiares e aliados na última sexta-feira
(14), procuradores do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado
(Gaeco) preparam recurso para revogar a determinação. O procurador Leonir Batisti afirmou ontem ao Bem Paraná
que ainda não há previsão de data para o recurso. O pedido ao STF deve ser
baseado no risco que há, segundo o MP, de interferência nas investigações, e na
existência de fatos novos. O principal delator do esquema, Tony Garcia, amigo
de infância de Richa, procurou o Gaeco em maio deste ano e teve a colaboração
homologada pelo juiz Fernando Fischer, da 13ª Vara Criminal de Curitiba, em
agosto.
As irregularidades no Programa
Patrulha do Campo teriam ocorrido entre 2011 e 2014 e para Gilmar Mendes as
prisões em período eleitoral foram fora de prazo. “Os fatos que deram ensejo à
prisão ocorreram durante os anos de 2010 a, no máximo, 2013, ou seja, há
longínquos 5 anos da data da expedição da ordem de prisão”, despachou Gilmar.
Batisti nega e afirma que fatos novos deram base aos pedidos de prisão. “Não há
qualquer tentativa de perseguição”, disse.
Interferência — Na ação que pediu
a prisão temporária dos 14 investigados na Operação Rádio Patrulha, que apura
desvios em obras de recuperação de estradas rurais no Estado, os procuradores
ressaltaram que o contador Dirceu Pupo, homem de confiança da família Richa, é suspeito
de tentar atrapalhar as investigações de corrupção, fraudes em licitações e
lavagem de dinheiro. Batisti reforça que uma testemunha foi procurada por
integrantes do grupo de Richa, cientes de que uma investigação, para que ele
não contasse a verdade sobre um pagamento de R$ 1,7 milhão em dinheiro
envolvendo salas de um edifício comercial em Curitiba. O fato envolve uma das
empresas da ex-primeira-dama Fernanda Richa, que também foi presa no dia 11 e
solta na madrugada de sábado (15).
“O grupo das pessoas investigadas
já procurara neste ano, em agosto, pessoas que poderiam ser testemunhas para
que essas pessoas omitissem a verdade ou mentissem aos investigadores para
evitar, então, a responsabilização ou a apuração nesse caso específico,
especialmente consistente, no pagamento de dinheiro vivo de R$ 1,4 milhão na
permuta de um apartamento do conjunto de salas Neo Business em Curitiba”,
afirma o procurador.
Imagens de câmeras do prédio de
número 417, na Rua Carlos de Carvalho, em Curitiba, registram encontro de
Dirceu Pupo - com o corretor de imóveis Augusto Albertini, no último dia 8 de
agosto.
No pedido de prisão, o MP relata
o depoimento do delator Tony Garcia revela a interverência. “Augusto Albertini
disse que Dirceu Pupo o orientou sobre o que deveria falar; que não tinha
entendido como ameaça, mas como ‘faça assim e pronto’, que o deixou preocupado;
que segundo Augusto, não teria constado na escritura pública de compra e venda
dessas salas o pagamento da ‘volta’ em dinheiro, como se tivesse sido uma
permuta simples pelo imóvel de Balneário Camboriú; que o pagamento em dinheiro
teria sido feito para outra pessoa ‘por fora’; que esse encontro entre Augusto
Albertini e Dirceu Pupo foi na imobiliária do Augusto que fica no mesmo prédio
onde fica o escritório do colaborador”, diz a ação.
As suspeitas são de que Pupo
procurou Albertini para tentar combinar com ele o depoimento que ele deveria
prestar às autoridades, caso fosse procurado, sobre a compra de salas
comerciais em Curitiba. O negócio teria envolvido a permuta de um imóvel que a
família tinha em Balneário Camboriú, em Santa Catarina, e uma complementação em
dinheiro em espécie de R$ 1,7 milhão, sem declaração. Segundo investigadores, a
transação pode ocultar dinheiro de propina recebido de desvios em contratos do
governo do Estado, em especial na área de rodovias.
Veto à condução coercitiva baseou decisão
Batisti afirma que a prisão
ocorreu em período eleitoral por tramitação normal do processo.
Beto e Fernanda Richa prestaram depoimento
na sexta-feira (14). Ele ficou em silêncio e ela falou por uma hora. Fernanda
disse que o contador Dirceu Pupo Ferreira era o responsável pelas empresas que
movimentaram recursos sob suspeita. Ao justificar a necessidade de prisão dos
investigados, o Gaeco registra a ação de Pupo. “Ora, se solto e sem o
conhecimento da investigação o representado (Dirceu Pupo) já está atuando para
dissimular as provas, imagine caso sejam decretadas medidas restritivas contra
o grupo criminoso”. Para os promotores, “não é preciso esforço para perceber
que a atuação criminosa”.
Gilmar Mendes concedeu a
liberdade a Richa menos de uma hora depois de o juiz Fernando Fischer
transformar a prisão temporária em preventiva..
Quando saiu da prisão do Regimento da Polícia Montada, em Curitiba, no sábado, Beto Richa não quis comentar as acusações. “Continuo de cabeça erguida, respondendo todas as acusações sem menor dificuldade”, disse. A defesa de Richa foi procurada, mas não respondeu aos pedidos da reportagem. A defesa de Dirceu Pupo não foi localizada.
Bem Paraná
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