Insumos mais caros e queda no consumo põe em risco margem de produtores de aves e suínos

  • 13/04/2020

Produtores de frangos e suínos devem ter margem ainda mais apertada neste ano por causa da pandemia do coronavírus. Além da elevação no preço de insumos para a ração animal, como soja e milho, outro desafio é a queda brusca nas compras dos consumidores, afetados pela quarentena e pela crise.

"Com a perspectiva no início do ano de melhora da economia, as expectativas eram bastante positivas em relação aos preços para o mercado de aves e, principalmente, de suínos. No entanto, a crise pode acarretar uma demanda interna menor do que esperávamos", afirma a analista de mercado da Scot Consultoria, Juliana Pila.

Segundo o indicador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea-Esalq/USP), o preço do quilo do frango comercializado pelo produtor em São Paulo foi de R$ 3,22, em março, para R$ 3 até 8 de abril, uma retração de 6,8%. Já o valor do quilo dos suínos reduziu 12,3% no período, de R$ 5,75 para R$ 5,04.

Por outro lado, a cotação da saca de 60 kg de milho vêm em alta desde fevereiro. Naquele mês, o preço estava em R$ 50,99. Na parcial de abril, passou para R$ 57,89, aumento de 13,53%. Já a tonelada do farelo de soja em Campinas (SP) saiu de uma média de R$ 1.539,37 em março para R$ 1.656,06 em abril, alta de 7,6%.

“Com a paralisação de bares e restaurantes, a demanda interna está muito incerta. A cadeia de frangos e suínos se ajusta rápido, mas o momento está bem desfavorável para o produtor e a margem está muito estreita nesse período”, informa o Cepea.

Importação de insumos

Esse cenário de preços em São Paulo começa a refletir na cadeia produtiva de todo o país. Por isso, algumas empresas processadoras de carne da região Sul estão importando milho dos vizinhos Paraguai e Argentina para a ração animal na produção de aves e suínos, segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA). 

Considerado pontual pela entidade, esse movimento acontece justamente porque os preços para o cereal no mercado interno atingiram patamares muito acima do padrão de comercialização.

"Durante a passagem da entressafra, as empresas começaram a importar do Paraguai e da Argentina. Algumas fizeram contrato estendendo essa importação de milho até junho para reduzir um pouco o preço, que está muito alto e equivale a quase 70% da ração que é dada para os frangos" Francisco Turra, presidente da ABPA.

O preço da saca de 60 kg do cereal registrado pelo indicador da Esalq/BM&FBovespa bateu os R$ 60,14 ao final de março no Porto de Paranaguá (PR), maior valor nominal da série histórica. Para se ter ideia, esse indicador registrava R$ 38,43 para a mesma saca de 60 kg ao final do mesmo mês do ano passado, uma valorização de 56,4%.

Estoque menor

Uma das empresas que fez esse movimento de abastecimento no exterior foi a JBS, maior companhia de proteína animal do mundo. A empresa confirmou a compra de 200 mil toneladas de milho argentino.

“Os altos custos do milho brasileiro verificados nos últimos meses têm exigido a adoção de medidas alternativas de aquisição no mercado externo”, afirma a JBS, por meio de nota. “A decisão da companhia está baseada na melhor competitividade apresentada na importação do cereal do país vizinho em relação ao custo atual do grão no Brasil”, completa.

Francisco Turra, presidente da ABPA, diz que a compra de milho de países vizinhos teve início em março e deve seguir até o fim da colheita da segunda safra de milho, em junho. Por conta da forte exportação em 2019, o estoque de passagem para a entressafra foi de 8 milhões de toneladas, quando deveria ser de ao menos 15 milhões para não afetar os preços.

Quebra no RS

Além da exportação, outro fator contribuiu muito para essa alta no preço do insumo para ração animal. Embora não seja um dos maiores produtores do país, o Rio Grande do Sul é responsável por boa parte das 25,6 milhões de toneladas de milho produzidas durante a safra de verão.

No entanto, este ano os produtores gaúchos sofreram com a estiagem e tiveram uma quebra estimada em 20% da produção. Com isso, oEestado deve produzir 4,5 milhões de toneladas. “Essa safra já é pequena, e se tornou ainda menor em função da estiagem”, disse Turra.

Ajustes na indústria

Analista para os mercados de aves e suínos do Cepea, Juliana Ferraz explica que há uma diferença importante no fluxo de funcionamento entre os dois setores, o que muda a estratégia em caso de crise. O mercado de frango é composto, na sua maioria, por grandes indústrias processadoras com a capacidade de encontrar alternativas.

"No início da quarentena, até houve um movimento de alta com a maior procura do frango nos supermercados. Entretanto, passado esse momento, as grandes redes ficaram abastecidas e teve um movimento de queda no preço da ave" Juliana Ferraz, analista do Cepea.

“Quando as grandes indústrias percebem que está sobrando no mercado, elas conseguem fazer um ajuste rapidamente”, completa. O preço do frango congelado em São Paulo passou de R$ 4,97, no dia 9 de março, para R$ 4,36, em 8 de abril, retração superior a 12%.

Suínos

Já o mercado de suínos opera de outra maneira. Além dos grandes players, o setor também conta com milhares de pequenos produtores independentes, que atendem a média e pequena indústria. Essa indústria é fornecedora para segmentos de food service, como bares e restaurantes, que estão paralisados neste momento.

“O suíno é um mercado mais pulverizado comparado à cadeia de frangos. Para um produtor independente em São Paulo, acaba não compensando comprar milho de outro país. Se ele fornece para essa indústria de pequeno e médio, que não exporta, ela suspende os abates e interrompe a compra dos suínos”, conclui Ferraz.

Efeito China

Se há um limite para o aumento de preços no supermercados, já que os consumidores estão com o poder de compra reduzido, parte do problema interno é aliviado com as exportações. A cotação do dólar acima de R$ 5 e o maior apetite chinês pela proteína brasileira, por conta dos prejuízos no rebanho local com a peste suína africana, têm feito o país exportar mais.

Segundo dados da ABPA, as exportações de produtos in natura e processados de carne de frango somaram 349,5 mil toneladas em março, ante as 340,5 mil toneladas no mesmo mês do ano passado. No fechamento do 1º trimestre, os embarques de carne de frango somam 1,02 milhão de toneladas, 8,8% a mais do que as 939 mil toneladas de 2019.

á as exportações de carne suína em março avançaram 31,4% em relação ao mesmo mês do ano passado, passando de 54,8 mil toneladas para 72,1 mil toneladas. No ano, os embarques do setor chegaram a 208 mil toneladas, número 32% acima do obtido no primeiro trimestre de 2019, quando foram exportadas 157,5 mil toneladas.

Entretanto, há um limite para as vendas externas, já que as exportações respondem por cerca de 30% da comercialização de frangos e 20% no caso dos suínos.

“Ou seja, o foco é no mercado interno. Mas, com essa menor demanda e os efeitos econômicos da crise, temos muitas incertezas, e o mercado externo pode ajudar na sustentação do preço das carnes”, diz Juliana Pila, da Scot Consultoria.

Com inf, Fernando Barbosa/Globo Rural | Foto: Ernesto de Souza/Ed. Globo

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