Uso de imunoterapia contra o câncer avança, apesar de custos e limitações
- 17/06/2018
Um dos caminhos mais promissores para o tratamento do câncer utiliza o próprio sistema imunológico dos pacientes para destruir os tumores. Após sete anos da liberação das primeiras drogas no mundo, a imunoterapia inspira otimismo e avança nas clínicas, apesar do custo alto e da eficácia restrita.
Várias novas abordagens experimentais de tratamento - como a imunoterapia celular - estão obtendo resultados promissores, mas ainda permanecem bem distantes da clínica oncológica. Por outro lado, de acordo com os especialistas ouvidos pelo Estado, os tratamentos que se baseiam em drogas imunoterápicas já são aplicados rotineiramente nos consultórios. Cinco delas foram aprovadas no Brasil para diversos tipos de câncer, como melanoma, linfoma de Hodgkin e tumores de pulmão, bexiga e cabeça e pescoço.
A maior parte dessas terapias envolve as drogas conhecidas como "bloqueadores de checkpoint". Basicamente, elas obstruem um receptor das células do sistema imunológico que é utilizado pelos tumores para se tornarem invisíveis às defesas do organismo.
"Há muito tempo já se imaginava que o sistema imunológico poderia atacar o câncer, especialmente alguns tipos de tumor mais 'visíveis' para ele, como o melanoma e o câncer de rim. Mas os medicamentos que existiam para isso tinham eficácia muito baixa. O que mudou radicalmente a maneira como enxergamos a imunoterapia para o câncer foi o lançamento das primeiras drogas bloqueadoras de checkpoint", disse o médico William William, diretor de oncologia clínica da Beneficência Portuguesa, em São Paulo.
As primeiras drogas imunoterápicas começaram a chegar ao mercado em 2011. Segundo William, com essa alternativa disponível, logo ficou evidente que imunoterapia se tornaria extremamente importante para o tratamento do câncer.
"Mas a grande surpresa veio quando começamos a usá-las para outros tipos de tumor para os quais a imunoterapia não parecia tão promissora no início, como pulmão, bexiga e cabeça e pescoço. O câncer de pulmão ilustra bem essa evolução. Antes, a única alternativa para esse tipo de câncer era a quimioterapia. A imunoterapia chegou inicialmente como uma opção para os casos nos quais a quimioterapia havia falhado. Há cerca de um ano, as drogas imunoterápicas já começaram a ser utilizadas como uma estratégia inicial", explicou.
Uma das ressalvas é que os métodos que, mesmo sendo bem mais eficazes que as drogas imunoterápicas antigas, os bloqueadores de checkpoint, utilizados de forma isolada, funcionam para só 20% dos pacientes.
"Já ficou bem claro que a maior parte dos pacientes não se beneficiam. No entanto, a imunoterapia tem uma enorme vantagem: quando ela funciona, os benefícios são de longo prazo - ao contrário do que ocorre com a quimioterapia - e os efeitos colaterais são bem menores", explicou William.
De acordo com o médico Vladmir Cordeiro de Lima, do departamento de oncologia clínica do hospital AC Camargo, em São Paulo, o baixo número de potenciais beneficiados pela imunoterapia não impede que ela seja considerada uma revolução.
"De fato, temos um novo paradigma no tratamento do câncer e a imunoterapia é usada de forma rotineira nos consultórios. O potencial para cura existe, mas atualmente as drogas imunoterápicas realmente não funcionam para a maioria dos casos. Um dos grandes atrativos é que elas têm funcionado bem para doenças metastáticas e já começam a ser aplicadas em fases mais precoces do tratamento", disse Lima.
Segundo Lima, quando a imunoterapia funciona, a sobrevida dos pacientes pode chegar a ser três vezes maior. "É pouco, mas é muito melhor do que tínhamos antes", afirmou.
Estratégia. Além da eficácia limitada, outro problema com as drogas imunoterápicas, segundo os especialistas, é o preço incrivelmente alto. Uma única caixa de pembrolizumab, por exemplo, que é um dos medicamentos aprovados no Brasil para melanoma em estágio avançado, custa cerca de R$ 18,8 mil. Um tratamento de um ano pode chegar a R$ 582 mil.
"Os pacientes que conseguem a cobertura desses medicamentos nos planos de saúde são exceções pontuais. As operadoras de saúde não preveem o pagamento do tratamento imunoterápico", disse Lima.
Segundo Lima, o barateamento das tecnologias na área de saúde não ocorre de forma tão rápida como ocorre com a informática, por exemplo. O oncologista Artur Katz, do Hospital Sírio Libanês, também não acredita que o preço cairá.
"Essas drogas são extraordinariamente caras no mundo todo e esse é um grande problema global. Infelizmente, não podemos ter acesso a elas pelo SUS. Dificilmente o preço cairá, porque quando uma novas geração de medicamentos é lançada, em vez da queda do preço, o que acontece é que a geração antiga fica obsoleta", explicou Katz.
Para William, o alto custo deve ser avaliado em relação à efetividade dessas drogas. "A relação custo-benefício precisa ser sempre levada em conta. Além disso, há muitos imunoterápicos sendo lançados e esperamos que a competição leve a uma redução de custos a longo prazo."
ESTADÃO
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