Golpe da pirâmide financeira ressurge no Paraná com 'disfarce feminista'

  • 14/10/2019

O velho golpe da pirâmide financeira reapareceu em diversas cidades do Brasil e também em Curitiba com uma nova roupagem e com um alvo bem definido: as mulheres engajadas no feminismo. Com vários nomes, “Mandala Feminina”, “Flor da Abundância” , “Tear dos Sonhos” “ Engrenagens dos Sonhos” , “Fractal Astra”, “Mandala da Prosperidade”, “Tear da Abundância” tem como disfarce o discurso de empoderamento feminino e misticismo, criando uma espécie de círculo de mulheres dispostas a se ajudar. A promessa é investir R$ 5 ou R$ 6 mil e receber R$ 35 mil ou R$ 40 mil, um ganho de mais 600%, um lucro impossível em qualquer modalidade.

M.S., 36 anos, comerciante, três filhos, separada há 1 ano, depois de 12 anos de um relacionamento abusivo, é uma das vítimas e não quis fazer boletim de ocorrência depois de perder R$ 5 mil. “Entrei num grupo do Facebook a convite de uma colega, que também acreditou na coisa toda. A proposta de entrar na pirâmide não é feita de cara. Primeiro, os golpistas infiltrados no grupo, com perfis muito convincentes.. Depois o grupo seguiu para o Whatsapp para ficar mais ágil, íntimo e onde o golpe de fato aconteceu. Após o golpe, percebi que de umas 50 mulheres, umas 10 deveriam ser fakes. ”, conta ela.

De acordo com a vítima, os perfis envolvem todos com histórias semelhantes de mulheres fortes, muitas sozinhas com filhos, outras solteiras, mas todas com perfil feminista, engajado e disposto a ajudar as demais. Os grupos também têm muitas mensagens místicas de autoajuda: “Elas estabelecem a empatia. Você passa a confiar no grupo, conta problemas do dia-a-dia, angústias profundas. Esse processo dura uns dois ou três meses. A gente chega a acreditar nas mensagens, nas coisas místicas, acredita que a nossa vida está melhorando. Daí a mandala surge para valer”.

No caso de M.S., ela fez uma doação de R$ 5 mil para entrar no que chamam na camada mais externa da mandala, chamada fogo. “Elas explicaram que o dinheiro foi para a chamada ´mulher água´ e que a cada semana, com novas integrantes, que nós mesmos levávamos, o grupo aumentava e em no máximo um mês e meio eu receberia R$ 35 mil”, afirma ela.

Segundo ela, o que dava mais veracidade ao golpe é que a ´sortuda´ da vez agradecia `a graça encontrada` e contava os planos do que iria fazer com o dinheiro: pagar dívidas deixadas pelo ex-marido, pagar um curso de atualização, viajar com os filhos. “Daí, passaram uns 20 dias, tudo desapareceu, o grupo, os perfis, e se você não salvou os nomes ou não conhece ninguém pessoalmente não tem nem o contato das outras vítimas. Quando notei, me senti envergonhada, porque me considero uma pessoa bem instruída, mas me deixei levar por serem só mulheres, por terem me oferecido um lugar que parecia ideal para o momento que eu vivia. Falavam o que eu queria ouvir, davam o colo que eu precisava. Faziam eu acreditar e isso me mantia lá, tipo uma seita. Nem meus pais e irmãos sabem que eu caí nessa. Tenho muita vergonha”.

Sozinha

R.C, 28 anos, voltou para o Brasil há um ano depois de morar nos Estados Unidos durante cinco anos e ter deixado para trás um noivo que a trocou por outra. Por aqui, teve que recomeçar não só a carreira profissional, como o círculo de amigos. “Muitas das minhas amigas casaram, me senti meio isolada, e nesse processo, como estava pensando em abrir um negócio voltado para mulheres, com uma pegada feminista e exotérica, dois assuntos que adoro e defendo, acabei entrando em um grupo convidada por uma prima. Depois de um mês no grupo, já me sentia parte de algo, mais que isso, de um coletivo de mulheres, cheias de histórias e tudo com ar misterioso, mensagens de prosperidade, com nome de mandala. O Whatsapp e o Facebook criam esse falsa atmosfera de intimidade e nessa nem pensei duas vezes antes de doar R$ 6 mil com a promessa de receber R$ 36 mil no final, já estava envolvida emocionalmente com todos os personagens”, conta.

“Como todas ali, e não sei quem era real ou não, porque minha prima acabou saindo antes, contei o que pretendia fazer com o dinheiro extra. Algumas ou alguns (não sei se eram homens e mulheres) chegaram a dar dicas para o negócio que eu iria abrir”, conta R.C. Segundo ela, o grupo se desfez da noite para o dia quando tinha arrecadado, pelas suas contas, uns R$ 50 mil. “Perfis apagados, tudo desapareceu. Eu tentei investigar a conta na qual eu depositei e descobri que ela foi fechada uns cinco dias depois que o grupo sumiu. O nome, claro, era bem comum. Coisa de gente profissional. Fiquei com medo e mudei perfil, troque telefone, mas não fui na polícia, porque entendi que eu errei e muito feio. Penso que poderia ter sido pior, sei lá, e se fosse um golpe pior, se eu tivesse dado meu endereço”, relembra R.C.

Delegado alerta sobre abordagens de desconhecidos
O delegado titular da Delegacia de Estelionato de Curitiba , Emmanoel David, disse que não houve nenhum Boletim de Ocorrência sobre essa nova modalidade de pirâmide financeira neste ano, até porque muitas vítimas de estelionato têm vergonha da exposição quando percebem o golpe e sabem que como tudo é feito pela internet, a dificuldade da polícia é grande.

Mas, alerta ele, que as pessoas devem ficar atentas a abordagens de desconhecidos. “Nos últimos anos cresceu bastante o número de golpes aplicados pelas redes sociais e as pessoas devem ficar atentas as abordagens de desconhecidos”, diz. Ele ressalta que não há milagres. “Ganhos exorbitantes e em curto prazo não existem, não se a atividade for legal”, afirma. “Ainda que no mercado existam investimentos de grandes riscos, como no mercado de ações, não há como se ganhar 3%, 4% de rendimento ao dia em investimentos”, conta.

David afirma que este tipo de promessa deve ser visto com desconfiança. “Geralmente são pirâmides financeiras em que a base é que ‘paga’ o rendimento aqueles que estão no top”, esclarece. Na dúvida, a orientação é procurar informações sobre a empresa ou pessoa até mesmo na internet. “Busque site de relações, se tem endereço físico, procure fazer uma visita para checar a existência da empresa e guarde todos os comprovantes de depósitos e procure manter os registros sobre as conversas realizadas com o esse investidor”, diz.

Os comprovantes dos depósitos e as conversas, após a realização de uma ata notorial, feita em cartório, podem ser usadas para fundamentar possíveis processos investigativos, de ordem civil ou criminal. “Via de regra, as pessoas precisam entender que milagres e ganhos rápidos não existem” , conclui.

Com inf, Bem Paraná.

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