Tecnologia acelera a criação de lambari de cativeiro
- 17/04/2018
Lambari, para muito pescador, foi a primeira experiência de
pegar um peixe. Ele é conhecido, mas com pouco valor comercial. Agora, esse
peixinho está virando o jogo. Encontramos criadores que estão investindo em
tecnologia para criar lambari em cativeiro, que vai ser vendido como isca de
pesca.
Pescador de água doce, por melhor que seja, tem sempre uma
história antiga com lambari. Para muitos, foi o primeiro peixe de sua vida.
Pelo formato, a cor das nadadeiras e a bravura com que se defende, muitos
consideram o lambari o verdadeiro dourado em miniatura. Pescador nenhum se
sente diminuído ao pescar um lambari.
Até uns anos atrás, lambari valia menos que nota de R$ 1. Não era assunto de pescador sério: só interessava depois de passar pela frigideira. Três fatos recentes, porém, estão transformando o lambari em um objeto da piscicultura:
1º - a reprodução artificial e a criação em cativeiro que
transformam o lambari-isca em negócio regular e importante.
2 - A possibilidade
de sua venda em supermercado como carne.
E 3 - o instrumento
que permite ao aficionado pescar o ano todo em lagos e represas, mesmo em tempo
da piracema.
No Museu de Zoologia de São Paulo, aprendemos como surgiu o
lambari para a ciência no mundo:
Há quase 300 anos atrás, um naturalista sueco pretendeu
colocar em um livro a descrição de todos os animais e plantas que existiam no
mundo até então. Com nome, sobrenome e endereço. Duas curiosidades: primeira, o
lambari de rabo amarelo já está nesse livro, aqui na página 311. Segunda
curiosidade: o autor falou do lambari como uma espécie de salmão. Hoje se sabe
que o lambari pertence a um gênero específico, com quase uma centena de
espécies.
Professor Heraldo é autor da descrição de mais de 60 peixes
de água doce no Brasil, inclusive de uma espécie do lambari. O lambari pertence
ao gênero astyanax e só existe na América, do Rio Grande (na fronteira dos
Estados Unidos com o México) até perto da Patagônia, no extremo sul da América
do Sul. No Chile não tem porque a água é muito fria. No caso do rabo amarelo, a
espécie se chama astyanax bimaculatus, por causa de duas máculas, ou manchas,
que tem no corpo.
Em Buritizal, nordeste do estado de São Paulo, quase divisa
com Minas, funciona um abatedouro industrial de lambari. E um sistema integrado
de recria e engorda desse peixe.
Jomar Delefrate, nascido em Buritizal, mexia com fábrica de
sorvetes até que decidiu comprar um terreno perto da cidade para fazer
piscicultura principalmente com rede. Foi vendo, porém, que a cada redada para
tirar o pacu ou tilápia, vinha uma certa quantidade de lambaris.
“Você fica curioso com isso, como é que apareceu esse peixe
no tanque. Daí, fomos descobrir, fomos analisar, esses peixes são trazidos
pelas pernas dos pássaros, eles pousam nos pequenos riachos e trazem esses ovos
para represa. Grudado no pé. E esses ovos que acabam proliferando nos tanques”,
diz ele.
Foi juntando os lambaris num tanque especial para vender
como isca. A coisa foi no boca-a-boca, de um pescador para outro, e logo Jomar
observou que esse lambari variante não ia dar pra encomenda. Resolveu, então,
mexer apenas com lambari.
Hoje, além dos seus 40 tanques próprios, Jomar opera com
outros 200 também de lambari, de parceiros que fazem engorda. Jomar adaptou um
trator comum para fazer o trato nos seus tanques. O peixame se entusiasma só
com o barulho do trator. Os lambaris ficam nos tanques até a fase de adultos.
Esses tanques são de matrizes que vão servir à reprodução
assistida. Elas foram colhidas no Paranazão, no rio Grande e em rios do Sul de
Minas. Objetivo é um híbrido de bom tamanho. No momento da reprodução, faz-se a
coleta nos tanques, separando os machos das fêmeas.
A instalação do Jomar tem um laboratório onde se faz a
reprodução artificial dos lambaris. E entra aqui uma vantagem adicional desse
peixinho: é que ele reproduz praticamente o ano todo, exceto os dias muito
frios de inverno. Responsável pela reprodução nos tanques de Jomar é seu filho,
Tiago, agrônomo que trabalha com lambaris desde a faculdade.
A estimulação das fêmeas é feita com a injeção de hormônios
de reprodução dos peixes. No caso, hormônio da carpa. O produto vem da Hungria.
São feitas duas aplicações para a desova. "Logo após a segunda aplicação,
eles vão realizar a dança do acasalamento e a fêmea vai soltar todo o ovo que
tem presente na sua barriga”, diz o agrônomo Thiago Delefrate.
Aí é hora do macho trabalhar... Ele fertiliza os ovos que vão então dar origem aos alevinos. A eclosão dos ovos se dá em 3 a 4 dias, quando nasce o lambari ainda em forma de larva. No primeiro dia, o que a gente vê no tanque são só pontinhos se mexendo. O ideal seria mandar para engorda apenas as fêmeas, que são maiores e mais fortes que os machos. Mas a sexagem precoce do lambari é um ganho tecnológico ainda não alcançado entre nós. Veja mais detalhes no vídeo acima.
GLOBO RURAL
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