Chuvas no Rio Grande do Sul prejudicam o agronegócio
- 09/05/2024
As chuvas que atingiram o Rio Grande do Sul também afetaram
a produção agropecuária. Mortes de animais, perda de lavouras e estragos à
semeadura de pastagens de inverno são alguns dos danos provocados ao
agronegócio do estado.
Antes das chuvas, o Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE) estimava que a produção de cereais, leguminosas e
oleaginosas do Rio Grande do Sul cresceria 46,4% neste ano, em relação ao ano
anterior, e passaria a responder por 13,3% do total nacional, encostando no
Paraná.
O Rio Grande do Sul responde, por exemplo, por 70% da
produção nacional do arroz. Em relação à soja, a lavoura do estado representou
8,4% do país em 2023 e, com o crescimento esperado para este ano, passaria a
representar 14,8%, ficando atrás apenas de Mato Grosso.
O estado também se destaca na pecuária. Em 2023, ocupou a
terceira colocação entre aqueles que mais abateram frangos e suínos. Foi também
o quarto maior produtor de ovos e o quinto entre os produtores de leite.
Ainda não há um quadro completo do prejuízo e, portanto,
quanto isso afetará a estimativa feita anteriormente pelo IBGE.
O presidente da Federação da Agricultura do Rio Grande do
Sul (Farsul), Gedeão Pereira, disse que os impactos foram diferentes em cada
região.
No litoral, por exemplo, houve grande perda de lavouras de
soja e alagamento de silos de arroz. “O litoral foi seriamente impactado na
cultura da soja, que ficou embaixo d’água. Isso é perda total. Mas já pegou
bastante adiantada a colheita do arroz, acima dos 70%, 80%, o que colocou o
arroz a salvo, a não ser por algum silo que ficou com 1 metro de água em sua
base”, afirmou.
Outra área com muitas perdas foi a região central do estado.
“Nos municípios da chamada Quarta Colônia – Santa Maria, Lajeado – a enchente
levou praticamente tudo dos produtores. Não só a possível colheita, como também
o maquinário e animais”.
No norte do estado, o principal impacto para o agronegócio
foram os danos à infraestrutura, que causam problemas no escoamento de produtos
derivados de frango, suínos e bovinos e também na chegada de ração para esses
animais.
“A essa altura do campeonato, nessa região a água já baixou,
mas [o setor] está paralisado. Alguns criatórios estão isolados, ainda sem a
possibilidade de a ração chegar até eles. Os produtores de leite não conseguem
chegar à indústria, às vezes essa indústria está submersa””, ressaltou.
O diretor técnico da Empresa de Extensão Técnica e Extensão
Rural do estado (Emater-RS), Claudinei Baldissera, afirmou que o setor
agropecuário gaúcho foi severamente afetado. O impacto só não foi maior porque,
segundo ele, 76% da soja e 83% do milho plantados no estado já tinham sido
colhidos.
“A área cultivada de soja foi de 6,68 milhões de hectares, então isso significa dizer que ainda temos 1,6 milhão de hectares para serem colhidos. Provavelmente muitas lavouras nem serão colhidas. E a qualidade do grão daquelas lavouras que será possível colher certamente será muito baixa, com valor comercial prejudicado”, explica.
O período de semeadura de grãos de inverno, como o trigo e a
aveia, produtos que têm o Rio Grande do Sul como um dos maiores produtores
nacionais, ainda não começou, portanto não é possível saber se haverá impacto
ou não nessas lavouras.
Segundo Baldissera, pelo menos o plantio de pastagens de
inverno (que servem de alimento para o gado) foi prejudicado, uma vez que as
sementes já estavam em período de germinação.
“Acredito que ainda há tempo [para a semeadura]. Estamos
perfeitamente dentro da janela de plantio, que acontece em junho, julho.
Inclusive, este poderá ser um ano interessante para a lavoura de trigo e outros
cereais de inverno. Mas, claro, houve, sim, algum estrago laminar [do solo],
uma erosão e uma voçoroca que apareceu”, explicou Pereira.
Apesar do peso do Rio Grande do Sul na agropecuária
nacional, nem Pereira nem Baldissera acreditam que haverá grandes impactos no
abastecimento de produtos alimentícios para o resto do país. “Pelo tamanho do
agro no Brasil, pelo tanto que se cultiva, não acredito que haverá impacto
severo [no abastecimento]”, afirmou.
Pereira advertiu, no entanto, que pode haver algum impacto
no fornecimento de arroz e, em um curto prazo, da carne de frango.
“De qualquer maneira, temos estoque suficiente [de arroz]
para chegarmos à próxima safra”, disse o presidente da Farsul. “Pode ter algum
impacto na avicultura. A indústria do frango ficou um pouco abalada, esperamos
que de forma temporária. Aí pode ter sim algum tipo de abalo, no curto prazo,
porque acreditamos que isso possa ser rapidamente restabelecido, uma vez que é
uma indústria muito ágil”.
O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, se reuniu nessa
terça-feira, por videoconferência, com 111 sindicatos rurais e com a Farsul. A
Federação gaúcha apresentou algumas demandas para ajudar o setor agropecuário
do estado a lidar com os estragos.
Entre as reivindicações da Farsul estão a prorrogação das
parcelas de custeio, investimento e comercialização, além de crédito para a
reconstrução da estrutura produtiva e para permitir redução da alavancagem com
credores, com juros mais baixos e de forma simplificada.
O Ministério da Agricultura, por sua vez, anunciou que
importará até 1 milhão de toneladas de arroz para abastecer pequenos mercados,
em periferias das cidades e nas regiões Norte e Nordeste, a fim de evitar
aumentos de preços resultantes de problemas no escoamento e perdas nas
produções do cereal.
Canal Rural | Foto: Foto: Marinha do Brasil/RS
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