Governo facilita crédito e renegocia dívidas de pequenos negócios
- 23/04/2024
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou, nesta
segunda-feira (22), a medida provisória (MP) que cria o Programa Acredita, um
pacote de ações de acesso a crédito e renegociação de dívidas de
microempreendedores individuais (MEI) e micro e pequenas empresas. Com o
objetivo de estimular a geração de emprego e renda e o desenvolvimento
econômico, o programa também prevê ampliação de crédito para mulheres
empreendedoras e incentivos a investimentos estrangeiros em projetos
sustentáveis.
“Nós precisamos fazer alguma coisa para ajudar as pessoas
que têm um pequeno comércio, que têm um pequeno restaurante, um pequeno bar, e
que durante a crise [econômica da pandemia] de covid essa pessoa se endividou e
não consegue sair dessa dívida”, disse Lula durante a cerimônia no Palácio do
Planalto.
“Não tem nada mais imprescindível para uma sociedade,
qualquer que seja ela, se desenvolver, se ela não tiver condições de ter
oportunidade e se ela não tiver crédito”, afirmou o presidente. “Banco não foi
preparado para receber pobre, para receber as pessoas que não chegam de terno e
gravata e não chegam bem vestidos. O que nós estamos fazendo é criando as
condições para, independentemente da quantidade, da origem social, do tamanho
dos negócios, as pessoas tenham o direito de ter acesso ao sistema financeiro e
pegar um crédito”, acrescentou Lula.
O incentivo à renegociação de dívidas é inspirado no
Desenrola Brasil, programa do Ministério da Fazenda que tem como público-alvo
pessoas físicas com o CPF negativado e que foi prorrogado até 20 de maio. Já o
Desenrola Pequenos Negócios tem como público-alvo os MEI, as microempresas e as
pequenas empresas com faturamento bruto anual até R$ 4,8 milhões e que estão
inadimplentes com dívidas bancárias.
Até o fim deste ano, os pequenos empresários poderão
renegociar as dívidas que estavam inadimplentes até o dia da publicação da MP,
previsto para esta terça-feira (23), na publicação regular do Diário Oficial da
União. Por meio do programa, o governo federal vai autorizar que o valor
renegociado possa ser contabilizado para a apuração do crédito presumido dos
bancos nos exercícios de 2025 a 2029
“Isso significa que os bancos poderão elevar seu nível de
capital para a concessão de empréstimos”, explicou a Presidência. Segundo um
comunicado, esse incentivo não gerará gasto extra para o governo este ano. Nos
próximos anos, o custo estimado em renúncia fiscal é de R$ 18 milhões em 2025;
R$ 3 milhões em 2026 e sem nenhum custo em 2027.
De acordo com dados do Serasa Experian, cerca de 6,3 milhões
de micro e pequenas empresas estavam inadimplentes em janeiro de 2024, maior
número da série iniciada em 2016.
O Programa Acredita também cria o programa de crédito
ProCred 360 destinado a MEI e microempresas com faturamento anual limitado a R$
360 mil. A iniciativa estabelece condições especiais de taxas e garantias por
meio do Fundo Garantidor de Operações (FGO), administrado pelo Banco do Brasil.
Para esse público, o programa oferece juros fixados em Taxa
Selic mais 5% ao ano, uma taxa menor que a do Programa Nacional de Apoio às
Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe). Hoje, a Selic, a taxa
básica de juros, está em 10,75% ao ano. Além disso, o programa permite o
pagamento de juros no período de carência, “contribuindo para uma melhor
organização financeira dos tomadores de crédito”.
Para as empresas de porte médio, com faturamento de até R$
300 milhões, a medida reduz os custos do Programa Emergencial de Acesso a
Crédito (Peac), com 20% de redução do Encargo por Concessão de Garantia (ECG).
Eixos
O Programa Acredita está baseado em quatro eixos principais.
O primeiro é o Acredita no Primeiro Passo, política destinada a famílias de
baixa renda inscritas no Cadastro Único (CadÚnico); os informais; as mulheres
que recebem o Bolsa Família; os pequenos produtores rurais que acessam o
Programa de Aquisição de Alimentos (PAA); e o apoio ao programa Fomento Rural.
Esse eixo será desenvolvido no âmbito do Programa Nacional de Microcrédito
Produtivo Orientado.
O sistema de garantia de crédito será realizado por meio do
FGO-Desenrola e terá uma fonte de R$ 500 milhões em recursos para investimentos
este ano. O FGO-Desenrola é um instrumento de garantia destinado às
instituições financeiras que operam com crédito para regularização de dívidas
dos beneficiários do Faixa 1 do Desenrola Brasil.
“Uma importante diretriz do programa de microcrédito é que,
pelo menos metade das concessões devem ser destinadas a mulheres”, explicou a
Presidência, destacando as dificuldades de acesso ao crédito no Brasil por
mulheres. “Apenas 6% das empreendedoras contaram com auxílio de instituições
financeiras para abrir seus negócios, e a maioria, o equivalente a 78%, começou
a empreender com recursos próprios, segundo o Sebrae [Serviço Brasileiro de
Apoio às Micro e Pequenas Empresas]”, acrescentou.
De acordo com os dados, do total de empreendedoras, 54,9%
conciliam as tarefas domésticas e de negócio, sendo um dos fatores apontados
por elas que afetam o seu desempenho. Mais de 70% das empreendedoras têm
dívidas, sendo que 43% estão com parcelas atrasadas. As mulheres que se
enquadram nessa estatística são predominantemente negras, das classes D e E,
com faturamento de até R$ 2,5 mil e que empreendem por necessidade.
Em relação ao Cadastro Único, atualmente há cerca de 95
milhões de pessoas inscritas. Entre janeiro de 2018 e junho de 2022, apenas 1
milhão de famílias do CadÚnico tiveram acesso ao microcrédito produtivo. Nesse
período, foram feitas 5,6 milhões de operações que totalizaram R$ 32,5 bilhões
em transações, com valor médio de R$ 5,74 mil. A taxa de inadimplência entre as
pessoas do CadÚnico anual é inferior a 1,7%.
Dívidas e crédito
O segundo eixo do programa é o Acredita no seu Negócio,
voltado às empresas por meio do Desenrola Pequenos Negócios e ProCred 360,
detalhados anteriormente. Além deles, o Acredita também prevê uma modernização
do Pronampe para permitir a renegociação das dívidas e a criação de melhores
condições para mulheres empreendedoras. A partir da MP, quem está inadimplente
de dívidas do Pronampe poderá renegociá-las com os bancos, mesmo após a honra
das garantias, permitindo que estes empresários voltem ao mercado de crédito.
As empresas que tiverem o Selo Mulher Emprega Mais e as que
tiverem sócias majoritárias ou sócias administradoras poderão pegar empréstimos
maiores, de até 50% do faturamento bruto anual do ano anterior.
Ainda dentro do eixo Acredita no seu Negócio, o Sebrae
expandirá as linhas de crédito no âmbito do Fundo de Aval para a Micro e
Pequena Empresa (Fampe). Nos próximos três anos, o objetivo é viabilizar mais
de R$ 30 bilhões em crédito.
Para isso, o Sebrae capitalizou o fundo, que alcançou um
patrimônio líquido de R$ 2 bilhões para serem alavancados para novas operações.
A estratégia é ampliar a quantidade de instituições operadoras, sendo os quatro
bancos públicos federais, os principais sistemas cooperativistas, as agências e
bancos de desenvolvimento regionais e, por meio do Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), os bancos privados.
Crédito imobiliário
Já o eixo Acredita no Crédito Imobiliário visa a criação do
mercado secundário para crédito imobiliário. De acordo com o governo, o Brasil
apresenta uma baixa oferta de crédito imobiliário, equivalente a 10% do Produto
Interno Bruto (PIB), enquanto em países de renda média a oferta gira entre 26%
a 30% do PIB.
Dessa forma, tendo como público-alvo o mercado imobiliário e
setor de construção civil, o programa beneficiará especialmente as famílias de
classe média, que não se qualificam para programas habitacionais populares,
como o Minha Casa, Minha Vida, mas para quem o financiamento tradicional a
taxas de mercado é muito caro.
Em ocasiões diferentes, o presidente Lula já havia defendido
a criação de um programa habitacional que atendesse à classe média.
O papel da Empresa Gestora de Ativos (Emgea) para atuar como
securitizadora no mercado imobiliário será expandido com a criação do mercado
secundário para crédito imobiliário.
“Isso permitirá que os bancos possam aumentar as concessões
de crédito imobiliário em taxas acessíveis para a classe média, suprindo a
queda da captação da poupança. Ao permitir a securitização, os bancos abrem
espaço em seus balanços para liberar novos financiamentos imobiliários”,
explicou o governo.
A Emgea também poderá revender essas carteiras para o
mercado.
Projetos sustentáveis
Por último, o quarto eixo do programa é o Acredita no Brasil
Sustentável, que tem como base o Eco Invest Brasil - Proteção Cambial para
Investimentos Verdes (PTE). O objetivo é incentivar investimentos estrangeiros
em projetos sustentáveis no Brasil.
De acordo com o governo, dada a volatilidade da moeda
brasileira, o custo da proteção cambial para prazos mais longos é tão alto que
inviabiliza investimentos ecológicos em moeda estrangeira. Com isso,
praticamente não existem soluções no mercado nacional para prazos acima de 10
anos. Para suprir essa lacuna, será criado a Proteção Cambial para
Investimentos Verdes (PTE).
“A iniciativa visa incentivar investimentos estrangeiros em
projetos sustentáveis no país e oferecer soluções de proteção cambial. Deste
modo, os riscos associados à volatilidade de câmbio podem ser minorados e não
atrapalham negócios que são cruciais à transformação ecológica brasileira”,
explicou a Presidência, destacando que o programa não se propõe a interferir no
mercado de câmbio e trabalhará para alavancar os recursos já disponíveis no
país.
O Eco Invest Brasil tem como parceiros o Banco
Interamericano de Desenvolvimento (BID) e o Banco Central. O público-alvo são
os investidores estrangeiros, as empresas de projetos sustentáveis, o mercado
financeiro e as entidades governamentais envolvidas em sustentabilidade. Serão
fornecidas linhas de crédito a custo competitivo para financiar parcialmente
projetos de investimentos alinhados à transformação ecológica que se utilizem
de recursos estrangeiros.
EBC | Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
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