Duelo de propostas: o que Bolsonaro e Haddad propõem para a economia
- 18/10/2018
Uma das maiores preocupações do
brasileiro é com o emprego. Ou seja, se terá trabalho amanhã ou vou virar mais
um na lista dos 13 milhões de desempregados do país. Por isso é importante
saber o que os candidatos a presidente Jair Bolsonaro (PSL)
e Fernando Haddad (PT) propõem para a economia e gastos públicos. E
também o que pensam sobre política externa, já que o comércio internacional é
uma das formas de promover o crescimento econômico de um país.
O Podcast Eleições, programa
semana da Gazeta do Povo que analisa a sucessão presidencial, discutiu e
comparou as propostas de Bolsonaro e Haddad para a Previdência, impostos,
geração de empregos, expansão do crédito para o consumidor e inserção do país no
comércio internacional. Mediado pelo jornalista Fernando Martins, o
podcast teve a participação do também jornalista Renan Barbosa e dos colunistas
da Gazeta do Povo Pedro Fernando Nery (mestre em economia e
especialista em mercado de trabalho e Previdência) e Pedro
Menezes (fundador e editor do Instituto Mercado Popular).
Gastos públicos e impostos
Pedro Nery destacou que a
contenção de gastos públicos é essencial para o Brasil por uma razão muito
simples: o governo federal não tem mais dinheiro para executar todas suas
atividades e, em pouco tempo, o Estado pode não ter recursos para prover
serviços básicos aos cidadãos. Para este ano, o rombo nas contas federais
previsto pelo governo é de R$ 159 bilhões.
Os planos de governo dos dois
candidatos, nesse ponto, são bem distintos. O de Bolsonaro prevê zerar o
déficit no primeiro ano de gestão para ter superávit a partir do segundo – o
que implica corte de despesas. Haddad fala em revogar a Emenda Constitucional
do Teto de Gastos, que impede que o governo gaste mais num ano do que a
inflação do ano anterior.
Nery disse entender que o plano
de Haddad, na questão dos gastos, é mais coerente do que o de Bolsonaro. O
petista não promete cortar despesas, mas sim atacar a crise fiscal do país por
meio do aumento de impostos – como o que incidiria sobre grandes fortunas.
Segundo o colunista da Gazeta do Povo, isso não significa que o aumento de
tributos proposta no plano do PT será suficiente para cobrir o rombo. Mas
apenas que a proposta de Haddad tem mais coerência, pois Bolsonaro fala, de
modo genérico, em cortar impostos e zerar o déficit – uma conta que não
fecha.
No caso do candidato do PSL, a
principal fonte de receitas novas seriam as privatizações de estatais. Mas isso
demora de ser realizado. Além disso, Bolsonaro também afirma que não vai vender
algumas das mais importantes: Petrobras, Eletrobras, Caixa Econômica e Banco do
Brasil. Para Nery, a proposta de Bolsonaro de zerar o déficit é
inexequível.
Pedro Menezes concordou e citou
estudos segundo os quais o rombo das contas públicas só vai acabar, num cenário
muito otimista, em 2022 – último ano da gestão do próximo presidente. Menezes
disse ainda não acreditar que, diante do problema fiscal do país, Bolsonaro vai
conseguir cumprir sua promessa de reduzir impostos. Para ele, esse é mais um
discurso eleitoreiro do que um compromisso efetivo de gestão.
As propostas de Bolsonaro e
Haddad para impostos, aliás, têm várias semelhanças.
O candidato do PSL fala em
unificar tributos, fixar uma alíquota única de Imposto de Renda de 20% (hoje,
as alíquotas variam de 7,5% a 27,5%) e isentar do IR quem ganha até 5 salários
mínimos (cerca de R$ 5 mil). Ele nega que vá criar impostos. Seu guru
econômico, Paulo Guedes, contudo, falou em recriar a CPMF – o que foi prontamente
rechaçado por Bolsonaro.
Haddad também propõe a unificação
de vários tributos como ICMS e PIS/Cofins num único (o IVA, Imposto sobre Valor
Agregado) e promete isentar do IR quem ganha até 5 salários mínimos. Propõe
taxar dividendos e grandes fortunas. Também fala em um imposto regulatório
sobre exportação (para criar um fundo de estabilização cambial e minimizar a
variação cambial, com o objetivo de atender aos exportadores).
Pedro Menezes acredita que a
proposta de ambos os candidatos que mais tem chance de avançar é a unificação
de tributos, pois ela encontra um certo consenso nas mais variadas correntes
políticas do país – e mudanças tributárias têm de ser aprovadas pelo Congresso.
Os participantes do Podcast
Eleições destacaram ainda a dificuldade de ambos os candidatos colocarem em
prática a promessa de isentar IR quem ganha até 5 salários mínimos. Seria uma
perda anual de R$ 60 bilhões para o governo, segundo cálculos do Ministério da
Fazenda.
Reforma da Previdência
Os dois presidenciáveis admitem
que irão fazer uma reforma da Previdência. Mas falam de forma muito genérica
sobre seus planos para conter o rombo nas contas públicas por causa das
aposentadorias – que já consome mais da metade do orçamento federal e, segundo
projeções, em breve chegará a 70%, 80%.
Bolsonaro propõe trocar o atual
modelo de repartição (por meio do qual os trabalhadores da ativa financiam os
pagamentos dos aposentados) pelo sistema de capitalização (no qual cada
trabalhador vai contribuir para sua própria aposentadoria, numa conta pessoal).
A proposta de Haddad é de unificar as previdências do setor público num
primeiro momento para reformar todo o sistema numa segunda etapa.
Para Pedro Menezes, o discurso
dos dois presidenciáveis de não expor em detalhes o que pretendem fazer com as
aposentadorias é calculado para evitar prejuízos eleitorais, já que esse é um
assunto impopular. Tanto ele quanto Pedro Nery concordam que, seja quem for o
eleito, é provável que a reforma que o futuro presidente venha a apresentar
seja parecida com a proposta por Michel Temer – que estabelece idade mínima
para a aposentadoria.
Renan Barbosa afirmou ainda que é
uma incógnita qual será a posição do novo Congresso, que toma posse em
fevereiro do ano que vem, sobre a reforma da Previdência. Segundo ele, ao que
tudo indica, Bolsonaro terá um Parlamento mais alinhado com suas ideias – o que
poderia lhe favorecer na aprovação de sua proposta.
Mas Barbosa destacou que, em
contrapartida, a esquerda historicamente tem mais sucesso em aprovar reformas
no sistema de aposentadorias porque tem mais interlocução com os sindicatos que
rotineiramente se opõem a esse tipo a esse tipo de medida. Isso poderia ser, em
tese, uma vantagem para Haddad.
Criação de postos de trabalho e legislação trabalhista
Bolsonaro e Haddad têm propostas
opostas em relação à legislação trabalhista: o candidato do PSL fala em
flexibilizá-la para criar postos de trabalho; o petista promete revogar a
reforma trabalhista que, no entendimento do PT, acabou com direitos dos
trabalhadores.
A principal proposta de Bolsonaro
é a criação da carteira de trabalho verde e amarela, por meio da qual
jovens seriam contratadas num regime sem os encargos previstos na carteira de
trabalho tradicional (a azul), mas com os direitos assegurados na Constituição.
Pedro Nery diz que, embora a
proposta de Bolsonaro seja genérica, ao menos colocou no debate público a
criação de empregos para os jovens – a parcela da população que mais é afetada
pela falta de trabalho. Pedro Menezes disse que o problema da proposta é
justamente que ela não traz detalhes. E exatamente por causa disso é difícil
saber se a ideia é boa ou ruim.
Menezes ainda afirmou que os
maiores problemas do país para criar empregos são a burocracia e a incerteza
jurídica. E é por isso que ele critica a proposta de Haddad de revogar a
reforma trabalhista, que iria criar um clima de grande incerteza no mercado,
mostrando que as regras não têm estabilidade no país.
Juros mais baixos para o consumidor
Bolsonaro e Haddad têm propostas
muito distintas para baixar os juros e, assim, expandir o crédito para o
consumidor – fator que estimula o crescimento da economia.
O candidato do PSL diz que o
dinheiro arrecadado com a venda de estatais será usado para pagar parte da
dívida pública. Com a dívida pública menor, a taxa de juros Selic naturalmente
vai cair, pois o risco para emprestar dinheiro ao governo se reduz. E isso
faria com que os juros ao consumidor também caíssem.
Já Fernando Haddad diz que irá
promover uma reforma bancária em que cobrará impostos progressivos dos bancos
que não baixarem os juros.
Pedro Nery afirmou que a proposta
de Bolsonaro de reduzir a dívida pública é positiva. Ele ainda disse que a
ampliação da competição entre os bancos também ajudaria a reduzir os juros para
o consumidor – o que poderia ser feito por Bolsonaro vendendo a Caixa ou o
Banco do Brasil a uma instituição de fora (o candidato do PSL, contudo, já
descartou vender esses dois bancos).
Nery também criticou a reforma
bancária de Haddad. Segundo ele, nenhuma experiência internacional semelhante a
essa teve sucesso.
Política de controle de inflação
Bolsonaro se compromete, em seu
plano de governo, com a manutenção do tripé macroeconômico vigente: câmbio
flexível, meta de inflação e meta fiscal. E propõem dar independência do Banco
Central (o que não ocorre atualmente do ponto de vista formal). Haddad fala em
ter um Banco Central com mandato “dual”, ou seja, com o compromisso com taxa de
inflação e de emprego simultaneamente.
Pedro Menezes disse ver com
receio a proposta do Banco Central “dual” do PT. Segundo ele, em todo o mundo
os bancos centrais já se preocupam com a inflação e o desemprego conjuntamente
para sua tomada de decisão. Mas, quando o plano de governo de Haddad coloca
isso como uma novidade, pode estar sinalizando que vai valorizar mais o aumento
dos níveis de emprego do que com a taxa de inflação – o que seria ruim para o
país. Essa percepção é reforçada porque o PT costuma ser crítica ao tripé
macroeconômico – uma política que é comprovadamente eficaz.
Relações exteriores e comércio internacional
Bolsonaro fala em acabar com a
ideologia esquerdista nas relações internacionais. Seu plano de governo afirma
que o Brasil deixará de “louvar ditaduras assassinas e desprezar ou mesmo
atacar democracias importantes como EUA, Israel e Itália”. Em compensação, ele
tem uma posição muito crítica em relação à China (vai vetar, por exemplo, a
venda de estatais para empresas chinesas). Já o plano de governo de Fernando
Haddad fala em priorizar as relações Sul-Sul, sobretudo com os países da
América Latina e África, numa reedição da diplomacia dos governos de Lula e
Dilma Rousseff.
Pedro Menezes e Pedro Nery
disseram que ver como positiva a proposta de Bolsonaro, que sinaliza na direção
de uma maior abertura comercial ao deixar a ideologia política de lado – o que,
contudo, não parece ter sido abandonado pelo plano de Haddad.
Renan Barbosa afirmou que a proposta de Bolsonaro indica uma ruptura com a política internacional do Brasil que, desde a década de 1960, é caracterizada pelo não alinhamento automático principalmente com os EUA, numa tentativa de criar uma “terceira via” nas relações internacionais. Segundo Barbosa, a ideia que norteia o Itamaraty desde então é de que, como o Brasil não é uma potência militar, tem de se juntar a outras nações médias e pequenas para contrabalancear o poder das superpotências no cenário internacional.
Gazeta do Povo
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