Abertura Nacional do Plantio da Soja: saiba os principais desafios para a temporada

  • 17/09/2018

A safra 2018/2019 de soja foi aberta oficialmente no Brasil nesta segunda-feira, dia 17, em evento realizado em Terenos, Mato Grosso do Sul. Como é de costume, o Projeto Soja Brasil listou os principais desafios para a temporada – o principal alerta fica para a comercialização e custos de produção, que devem trazer dor de cabeça aos produtores. Para um dos principais palestrantes do evento, o analista de mercado Alexandre Mendonça de Barros, fatores políticos, econômicos e legislativos, como a nova tabela do frete, podem afetar gravemente a rentabilidade do setor.

Antes de as palestras começarem durante a Abertura Nacional do Plantio da Soja, as lideranças do setor saudaram a presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), deputada federal Tereza Cristina, presente no encontro. “Esse grande evento, que marca a abertura do plantio, é a demonstração da importância deste setor ao país. Também parabenizo a Aprosoja, que faz um belo trabalho para a agricultura e fico orgulhosa de ter uma entidade como essa para nos dar suporte. Uma safra excelente para todos”, diz ela.

Cenário atual para os brasileiros

Durante a palestra “Perspectivas do mercado da soja, cenário político e macroeconômico”, Mendonça de Barros já abriu falando que existem pontos de incertezas na parte econômica desta safra, começando pela guerra comercial entre China e Estados Unidos. “O conflito ninguém sabe até onde vai dar. O embate mudou o modo como a soja é precificada no mundo, com queda forte das cotações na Bolsa de Chicago e a elevação dos prêmios no Brasil”, diz ele.

Os prêmios, aliás, atingiram o maior patamar da história, afirma o analista. Entretanto, se por um lado eles são bons para remunerar melhor os agricultores, eles dificultam o interesse dos compradores.

Há também um problema relacionado aos prêmios futuros negociados nos portos: eles não estão seguindo as elevações atuais, já que ninguém sabe se em março, na época da colheita no Brasil, o conflito entre chineses e norte-americanos continuará.

“Os prêmios futuros negociados nos portos não estão nos mesmos patamares dos atuais, eles estão cotados como se não existisse a guerra entre os dois países. Se juntar isso às cotações em baixa na Bolsa, não vale a pena negociar futuro no porto. Por essa e outras razões que falo para os produtores abrirem os olhos e ficarem atentos à comercialização”, conta Mendonça de Barros.

Para ajudar os produtores na tarefa de se preparar para a safra, o analista separou alguns pontos importantes que merecem reflexão:

Guerra comercial: “se ela recuar, o preço vai subir na Bolsa de Chicago e o prêmio vai cair no Brasil. Por isso há uma certa desconfiança que é perigoso travar o prêmio futuro sem essa definição”;

Tabela do frete: “essa é uma situação absurda, um caminho lamentável tomado pelo governo brasileiro, que distorce os preços, ainda mais em um raio acima de 500 km dos portos, os preços novos estão muito acima dos normais do mercado. Quem quer fixar o preço futuro da soja tem que colocar a tabela como referência, porque pode gerar custos muitos elevados, caso seja considerada constitucional no futuro. Com isso ninguém quer vender e os negócios não acontecem”;

Eleições no Brasil: “o país está com forte endividamento e todo mundo está esperando para saber se o próximo presidente eleito será reformista ou fará políticas populistas”.

O presidente da Aprosoja Brasil, Bartolomeu Braz aproveitou o momento para pedir aos produtores mais atenção na votação deste ano. “Nós queremos nos próximos dias convoco os produtores do Brasil responsabilidade na hora de votar, conhecendo as propostas dos candidatos, buscando pessoas que tem planos para a agricultura. Temos que nos unir para mostrar a importância desse processo produtivo para o país”, diz.

Antecipar ou não as vendas da soja?

Para Mendonça de Barros, o Brasil iniciará esta safra com menos vendas antecipadas do que o normal, já que os custos estão bastante elevados e, na hora de vender, o dólar pode atrapalhar a vida dos brasileiros. “O real saiu de um patamar de R$ 3,20 e foi para um de R$ 4,20. Nesta safra será difícil dizer qual será a rentabilidade do produtor. Ela pode ser muito boa lá em março se, na hora de vender, o dólar seguir elevado. Mas se cair, será pior”, afirma.

Com isso, o analista diz que é arriscado fazer muitos negócios antecipadamente neste ano. Para ele, a colheita americana será grande mesmo e não dá para saber se o presidente americano, Donald Trump, recuará e fará um acordo com a China.

“Fazer trocas é uma das melhores alternativas para esta safra, ainda mais com esse cenário de incertezas cambiais. É complicado generalizar e dizer o que todos devem fazer, o produtor deve avaliar a sua situação e entender se o que vou dizer se encaixa em seu perfil. Num ambiente de tantas incertezas, a troca é uma das ferramentas mais adequadas, pelo menos daquela parcela dolarizada dos custos”, afirma Mendonça de Barros

Com ou sem glifosato?

Além da parte econômica, os produtores de soja do país vivem temerosos com outro impasse: a proibição de alguns importantes agroquímicos, como o paraquat e o glifosato.

Segundo o pesquisador da Embrapa Soja Dionísio Gazziero, se a proibição do glifosato acontecer de uma hora para a outra, o Brasil terá sérios problemas. “Teríamos não só um problema agroeconômico, com a alta dos custos de produção e uso excessivo de outros produtos que não tem a mesma eficiência, como também teríamos um impacto ambiental, pois a manejo voltaria a era das grades pesadas, muito mais prejudicial a natureza do que produtos como este, que são usados em países muito mais rigorosos como EUA, Japão e também a Europa”, afirma.

Para que se possa entender, antes dos anos 1980, a agricultura brasileira não fazia o plantio direto. Na prática, acreditava-se que usar as grades para destruir as plantas invasoras e a queima da palha limpavam a área e deixavam o solo pronto para receber a soja.

“No início foi complicado, muitos produtores testavam o plantio direto em um ano e abandonavam e voltavam a passar o arado no seguinte. De maneira geral, dava para perceber os benefícios, economizava-se horas de uso de máquinas, combustível e o número de pessoas que trabalhavam ali. Outra vantagem perceptível foi o controle das erosões, problema grave da época, causado pelo uso excessivo de grades pesadas e niveladoras, sem falar que isso causava compactação do solo”, conta Gazziero.

Por isso tudo a área de pesquisa defende um olhar diferente e imparcial sobre o glifosato e também o paraquat. “Não posso dizer que temos dependência do glifosato, porque temos outros produtos. Sem ele o sistema teria que mudar ou mesmo voltar a usar grades, que seria um retrocesso. Neste momento não temos um produto com a mesma característica do glifosato para combater as plantas daninhas”, garante.

Futuro das biotecnologias

A adoção da biotecnologia agrícola foi um dos fatores que mais contribuiram para que o Brasil ganhasse relevância não só na exportação de soja, como também na produção. À época do lançamento da primeira variedade transgênica no Brasil, uma soja tolerante ao herbicida glifosato, algumas regiões do país, especialmente o Sul e parte do Cerrado, tinham graves problemas com essas invasoras. “As opções ao uso desses herbicidas não eram muitas, de modo que o controle estava ficando cada vez mais difícil e caro. Com a entrada da soja geneticamente modificada (GM), passou a ser possível usar o glifosato na cultura da soja. Essa tecnologia foi muito interessante para resolver ou minimizar os problemas agronômicos relacionados à resistência”, conta a diretora-executiva do Conselho de Informações sobre Biotecnologia (CIB), Adriana Brondani.

Para o futuro próximo, uma das tendências apontadas pela entidade é a diversificação das tolerâncias a herbicidas em variedades transgênicas de soja, milho e algodão. “Isso fará com que os produtores tenham ainda mais opções no manejo e permitirá a proteção das culturas e ganhos de produtividade”, conta.

Outro aspecto importante é a introdução de características de tolerância à seca na soja e no milho. “Cana-de-açúcar com aumento de biomassa, tolerância a herbicidas e resistência a insetos. Sem falar do enorme potencial que pode vir das novas técnicas de edição genética, resultando em plantas melhoradas que poderão elevar ainda mais o nosso potencial agrícola”, finaliza Adriana.

Máquinas em campo

Mesmo antes do amanhecer do dia em Terenos (MS), apesar de fraca, a chuva já era contínua e assim seguiu durante todo o evento na manhã desta segunda-feira, dia 17. Com isso, o famoso comboio de plantadeiras da Massey Ferguson, que abriria simbolicamente a semeadura da oleaginosa, não aconteceu, até para evitar a compactação do solo.

Mas nenhum produtor presente lamentou o fato, afinal as chuvas são bem-vindas neste momento. O próprio presidente da Aprosoja Brasil, Bartolomeu Braz, fez questão de ressaltar isso. “Essa chuva veio abençoar o plantio da soja em todo o Brasil. Que não falte água para as plantas e disposição aos produtores. Boa safra”, diz.

Canal Rural

Ficou sabendo de algo? Envie sua notícia no WhatsApp Xeretando (45)99824-7874

0 Comentários



Deixe seu comentário

* Seu comentário passará por uma avaliação antes de ser postado no site.
* Para que seja vinculada uma imagem sua no comentário é necessário cadastro no GRAVATAR