Operação Mustela que também investiga Ademir Bier resulta em afastamento de médica no Paraná

  • 16/10/2019

Uma médica que atua em hospital de Campina Grande do Sul, Região Metropolitana de Curitiba, foi afastada das atividades exercidas no Sistema Único de Saúde (SUS) pela Justiça a partir de denúncia criminal oferecida pelo Ministério Público do Paraná, por meio da 1ª Promotoria de Justiça de Campo Largo, por efetuar cobranças indevidas de pacientes para furar a fila. A decisão resulta de investigações da Operação Mustela, deflagrada pelo MPPR em dezembro do ano passado e que trata dessa prática criminosa no SUS em diversas cidades paranaenses.

Segundo apuração da Promotoria, a médica chegava a cobrar R$ 9 mil por paciente para priorizar o atendimento a procedimentos realizados na rede pública. A mediação dessas cobranças era feita por agentes públicos, que se utilizavam das posições políticas que exerciam na negociação dos procedimentos médicos em troca de prestígio público. Os fatos denunciados ocorreram entre os anos de 2016 a 2018 e, segundo a ação penal e até esse momento, ao menos sete pessoas foram vítimas das cobranças ilegais da profissional de saúde.

Investigação – A médica e outros quatro agentes públicos foram denunciados pelo crime de concussão (exigir vantagem em razão da função que exerce). Além do afastamento dela do SUS, a decisão, proferida pela Vara Criminal de Campo Largo, impôs a proibição de os réus manterem qualquer contato com as vítimas.

O esquema criminoso começou a ser investigado pelo Ministério Público em 2017. A partir de depoimentos de vítimas e informações obtidas por meio de interceptação telefônica e quebra de dados, a Operação Mustela foi deflagrada em dezembro de 2018, com o apoio do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco). À época, foram cumpridos mandados de buscas e apreensão e de prisão temporária contra alguns dos envolvidos. Médicos de outro hospital, de Campo Largo, já foram afastados das funções no SUS em decorrência de várias denúncias oferecidas pelo MPPR.

Autos: 0011074-88.2019.8.16.0026

Confira matéria anterior sobre a operação:

14/08 - Operação Mustela já resultou em denúncias de 43 pessoas (seis delas médicos afastados do SUS) por 49 crimes de concussão contra 44 vítimas

Investigação do ex-deputado Ademir Bier 

Trechos de conversas telefônicas gravadas pelo Ministério Público do Paraná (MP-PR) mostram o envolvimento do ex-deputado estadual Ademier Bier (PSD) no esquema de compra e venda de lugares na fila do Sistema Único de Saúde (SUS) no estado. 

As transcrições dos áudios, obtidos com exclusividade pela RPC, mostram conversas do deputado e de um assessor dele, chamado Paulo Roberto Mendes de Moraes, conhecido como Paulinho, tratando sobre as consultas com pacientes. 

Segundo o MP-PR, na fraude flagrada pela Operação Mustela, pacientes procuravam assessores ou servidores públicos para que eles conseguissem "furar a fila" do sistema público de saúde.

De acordo com o Ministério Público, estes agentes entravam em contato com médicos, que davam prioridade aos pacientes indicados mediante a uma cobrança que variava de R$ 2 mil a R$ 8 mil, dependendo da complexidade e urgência do procedimento.

Transcrições das conversas 

Em uma delas, um dia antes do primeiro turno das eleições, Bier promete arranjar tratamento para uma mulher com a perna quebrada.

"Tá todo mundo correndo por causa da campanha de amanhã, mas eu vou encaminhar pra uma pessoa pra poder tentar resolver isso lá, tá bom?", disse o deputado na gravação. 

Segundo o MP-PR, Paulinho era a pessoa que recebia a maior parte dos pedidos. 

Uma das transcrições mostra um homem pedindo uma consulta ao assessor.

"Eu estava falando com a secretária do Ademier Bier a respeito de uns exames que uma vez o Ademir Bier já me ajudou, e agora eu estava precisando de novo. Eu estou na fila do SUS desde dezembro", disse.

"Olha, você tem que fazer o seguinte, na segunda-feira você vai no escritório dele, lá em Rondon", afirmou o assessor.

Em outra conversa, Paulinho avisa que o atendimento tem um custo.

"Tem que pagar uma consulta no valor de quatrocentos reais com o cirurgião, que faz cirurgia pelo SUS", explicou Paulinho.

Para o ministério público são pagamentos irregulares que o assessor chama de "pacotinhos". 

"Pelo SUS é complicado. Eu geralmente consigo esses pacotinhos lá, na média de R$ 2 mil", disse o assessor do deputado em uma das gravações. 

Em outras conversas, o assessor pede votos para os pacientes atendidos pelo esquema. 

"Eu vou olhar depois lá se você arruma uns votinhos pra mim. Olha o número do meu deputado no meu Whatsapp", disse Paulinho. 

O MP-PR ainda está analisando documentos e gravações, mas acredita que deputado mantinha o esquema há bastante tempo.

Ademier Bier, que já foi prefeito de Marechal Cândido Rondon e deputado estadual por cinco mandatos, não foi reeleito. 

Em outra conversa, o assessor lamenta a derrota de Bier nas urnas e faz um balanço dos trabalhos. 

"A gente fazia dez anos que estava trabalhando pro Ademir, fazendo esse tipo de trabalho, eu mesmo atendi muito mais de quinze mil pessoas. Eu encaminhei mais de dez mil cirurgias. E assim mesmo o povo não quis", afirmou em um dos trechos gravados.

O que diz o citado 

Em nota, o deputado nega com veemência o seu envolvimento ou concordância com as situações noticiadas.

Paulo Roberto Mendes de Moraes, o Paulinho, afirma que desconhece hipótese de furo de fila do SUS, e que está absolutamente seguro e tranquilo de que vai provar sua inocência nos autos.

Ademir Bier (PSD) foi convidado pelo governador para ser diretor de obras da Cohapar.

Com inf, G1 / MP | FOTO: PEDRO DE OLIVEIRA/ALEP

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