PF deflagra operação contra racismo, ameaça, incitação e terrorismo praticados na internet
- 10/05/2018
Polícia Federal (PF) deflagrou, na manhã desta quinta-feira
(10), operação contra crimes praticados na internet. Uma pessoa foi presa, em
Curitiba. Há oito mandados de busca e apreensão em outras cidades.
Entre os crimes investigados pela Operação Bravata (que
significa intimidação), estão racismo, ameaça e incitação. A prática de terrorismo
também é investigada.
O G1 apurou que o alvo de prisão é Marcelo Mello, já preso e
condenado pelos mesmos crimes. (Veja abaixo). Ele ainda não tem advogado
constituído no processo.
"Marcelo reiteradamente estimula o ódio, o preconceito, ofende a minorias, mulheres, homossexuais, raças, entre outros, bem como estimula os leitores de suas postagens a atuar da mesma forma", afirmou o juiz federal Marcos Josegrei na decisão em que autorizou a operação.
Os mandados judiciais foram expedidos por Marcos Josegrei,
da 14ª Vara Federal de Curitiba. Eles foram cumpridos na capital paranaense, no
Rio de Janeiro (RJ), em São Paulo (SP), no Recife (PE), em Santa Maria (RS) e
em Vila Velha (ES).
O alvo de prisão foi levado à Superintendência da PF, na
capital paranaense, onde ficará à disposição da Justiça. A prisão de Marcelo
Mello é preventiva, ou seja, por tempo indeterminado.
De acordo com a PF, a investigação começou com fatos verificados
na Operação Intolerância, deflagrada em 2012.
Na ocasião, Marcelo Mello e outro homem foram presos
suspeitos de alimentar um site com mensagens que incitavam a violência contra
negros, homossexuais, mulheres, nordestinos e judeus e de incentivar o abuso
sexual de menores.
A partir disso, foi apurado, segundo a PF, que outras
pessoas continuaram a praticar crimes por meio dos mesmos sites e fóruns na
internet, chegando a criar novos ambientes virtuais para a prática destes
delitos.
"Por ocorrem em ambientes virtuais, [as publicações]
atingem um indefinido número de pessoas, tornado imensurável a extensão dos
danos. Ofendem a dignidade humana, igualmente reconhecida como direito
inalienável e protegida por garantias constitucionais", explicou Marcos
Josegrei no despacho.
Esses novos suspeitos podem estar associados aos presos em
2012, conforme a PF.
Ao justificar a prisão preventiva de Marcelo Mello, o juiz
pontuou a "garantia de ordem pública".
"Destacou tratar-se de investigado violento que, mesmo
após sua condenação e prisão no âmbito da Operação Intolerância pela prática de
crimes similares aos investigados no inquérito policial, voltou imediatamente a
cometer inúmeros crimes via internet, mediante postagens destinadas a
disseminar o ódio, o racismo, a discriminação", afirmou o juiz na decisão.
O alvo de prisão
Em 2013, Marcelo Mello foi condenado pela Justiça Federal do
Paraná. Ele cumpria a pena em liberdade.
Dois anos depois, o programa Profissão Repórter foi atrás de
Marcelo Mello, por causa de ataques cometidos contra feministas.
Marcelo Mello era um dos principais agressores de Dolores
Aronovich, conhecida como Lola. Ela é uma das feministas mais atuantes do
Brasil.
O repórter do programa perguntou se ele não tinha medo de
ser preso novamente, e Marcelo Mello respondeu: "Se eu for, vou sair logo.
Em um ano, tô na rua de volta". Ele agrediu a equipe de reportagem.
Confira no vídeo abaixo.
Na decisão em que autorizou a prisão de Marcelo Mello na
Operação Bravata, o juiz ressaltou o fato de o suspeito acreditar que não será
reprimido.
"Além de estar plenamente atuante nos ambientes virtuais, possui o mais absoluto desprezo pelas regras de convivência social e acredita que sua forma ofensiva e criminosa de se manifestar jamais será coibida pelas autoridades competentes".
Os crimes
Os investigados na Operação Bravata podem responder, ainda
de acordo com a PF, pelos crimes de associação criminosa, ameaça, racismo e
incitação ao crime.
A PF ressaltou que os sites e fóruns mantidos na internet
estimulavam a prática de estupro e assassinato de mulheres e negros, entre
outros crimes.
"Condutas da natureza nas investigadas no inquérito policial são graves e inequivocamente ultrapassam, em muito, o limite do direito da liberdade de expressão", afirmou o juiz no despacho.
Segundo a PF, há também evidência de terrorismo, pois os
investigados foram responsáveis por ameaças de bomba encaminhadas a várias
universidades do país.
A soma das penas dos crimes investigados podem chegar aos 39
anos de prisão, conforme a PF.
Lei Lola
A Lei Lola permite que a PF investigue crimes virtuais
contra as mulheres. Ela foi sancionada pelo presidente Michel Temer (MDB) e
publicada no "Diário Oficial da União" em abril deste ano.
Lola Aronovich, que inclusive é vítima de Marcelo Mello, inspirou a lei. Para ela, a mudança é "um primeiro passo" contra ataques misóginos no país.
G1
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