Projeto quer suspender salário de militares da ditadura
- 09/01/2025
A deputada federal Fernanda Melchionna (PSOL-RS) apresentou
um projeto de lei que pede a suspensão da remuneração de militares denunciados
por violações de direitos humanos e crimes contra a humanidade praticados no
período da ditadura civil-militar instaurada com o golpe de 1964.
Segundo o texto, protocolado nesta terça-feira (7), na
Câmara dos Deputados, a suspensão de remuneração e proventos será mantida até
que haja decisão definitiva do processo judicial. No intervalo da tramitação, o
militar não terá direito a receber nenhum tipo de subsídio, adicional ou
gratificação relacionados ao seu cargo ou função pública.
O projeto também destaca que, antes de que a suspensão seja
executada, o militar será devidamente notificado e que, conforme asseguram a
Constituição Federal e a legislação brasileira, terá direito ao contraditório e
à sua própria defesa perante a Justiça. A interrupção do pagamento da
remuneração e proventos pode ser cancelada, caso haja elementos suficientes que
provem sua inocência quanto aos crimes imputados ao militar.
A proposta da parlamentar prevê que em caso de absolvição
definitiva, transitada em julgado, ou seja, quando a sentença judicial é de
absolvição do acusado e foram esgotados todos os recursos possíveis, o militar
terá direito ao pagamento retroativo dos valores suspensos, devidamente
corrigidos pela inflação.
No documento protocolado, a parlamentar menciona que a
proposta tem como respaldo o Estatuto dos Militares (Lei nº 6.880/80), em que
são descritos tanto os direitos como deveres dos membros das Forças Armadas.
Fernanda Melchionna (foto) diz que o Brasil deve honrar os
compromissos que sela com a comunidade internacional, no que diz respeito à
salvaguarda dos direitos humanos e ao combate à impunidade.
"O caso de Rubens Paiva, ex-deputado torturado e morto
em 1971, ilustra a relevância da medida. Ele nunca mais foi visto após ser
levado para prestar depoimento em 1971, período da ditadura militar, podendo
ser considerado um caso de desaparição forçada. Apesar das graves acusações e
do reconhecimento formal das violações, militares denunciados pelo crime, como
o general José Antônio Nogueira Belham, continuam recebendo remunerações
públicas, mesmo diante de fortes evidências de seu envolvimento neste crime de
lesa humanidade", exemplifica.
Rubens Paiva teve sua história recontada no filme Ainda
estou aqui. O longa-metragem foi dirigido por Walter Salles e protagonizado por
Fernanda Torres, que venceu o Globo de Ouro no último domingo (5), e Selton
Mello, que interpreta Rubens Paiva.
A deputada disse ainda que apresentou o projeto após as
notícias dos valores pagos aos militares denunciados no assassinato de Rubens
Paiva. "Recentemente, veio à tona a realidade que o Brasil paga R$ 140 mil
por mês aos militares denunciados pelo assassinato de Rubens Paiva. Isso é uma
vergonha. Esse privilégio tem que acabar", afirmou à Agência Brasil.
A proposta também 'incorpora o reconhecimento de violações
documentadas por decisões da Comissão Nacional da Verdade, criada pela Lei nº
12.528/2011, que investigou e reconheceu graves violações de direitos humanos
ocorridas no Brasil, especialmente durante o regime militar. Conferir a
importância merecida e validar as recomendações da Comissão da Verdade em
relação aos militares que atuaram durante o período da Ditadura Militar e
praticaram crimes contra os direitos humanos e crimes contra a humanidade
reforça o dever do Estado de agir em conformidade com o Direito Internacional e
com os princípios de verdade e reparação".
EBC | Foto: ZECA RIBEIRO/CÂMARA DOS DEPUTADOS
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