Governo federal apresenta PEC da Segurança Pública aos estados
- 06/11/2024
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva esteve em reunião com
governadores nesta quinta-feira (31) no Palácio do Planalto, em Brasília, para
apresentar a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) da Segurança Pública.
“Eu queria que essa reunião fosse uma reunião em que os
governadores não tivessem nenhuma preocupação de falar aquilo que entenderem
que devam falar. É uma reunião em que não existe censura, não existe
impedimento de cada um dizer aquilo que pensa, aquilo que ele acha que é
verdade e, sobretudo, também fazer alguma proposta de solução para que a gente
possa dar encaminhamento nesse assunto”, disse Lula no início do encontro.
De acordo com o ministro da Justiça e da Segurança Pública,
Ricardo Lewandowski, o texto da Constituição Federal de 1988 “precisa ser
aprimorado” para “dar um cunho federativo” ao combate ao crime organizado. A
proposta é alterar a redação dos artigos 21, 22, 23 e 24 - que tratam das
competências da União, privativas ou em comum com os estados, municípios e
Distrito Federal – e o artigo 144 “que estabelece em detalhes quais são os
órgãos que integram o sistema de segurança pública brasileira”, descreveu o
ministro.
Se aprovado no Congresso Nacional, o governo federal deverá
atuar em conjunto com estados e municípios. Um conselho nacional formado pelos
três entes federativos deverá estabelecer normas gerais para as forças de
segurança. Poderá, por exemplo, definir normas administrativas para o sistema
penitenciário e regulamentar o uso de câmeras corporais. O governo federal
garante que a PEC não retira competências e nem fere autonomia dos demais entes
federativos.
Tripé da PEC
A proposta do governo tem como tripé aumentar as atribuições
da Polícia Federal (PF) e da Polícia Rodoviária Federal (PRF), dar status
constitucional ao Sistema Único de Segurança Pública (Susp), criado por lei
ordinária em 2018 (Lei 13.675) e também levar para a Constituição Federal as
normas do Fundo Nacional de Segurança Pública e Política Penitenciária,
unificando os atuais Fundo Nacional de Segurança Pública e o Fundo
Penitenciário.
De acordo com o texto da PEC apresentado aos governadores, a
PRF passa a se chamar Polícia Ostensiva Federal, destinada ao patrulhamento de
rodovias, ferrovias e hidrovias federais. Autorizada, a nova policia também
poderá proteger bens, serviços e instalações federais; e ”prestar auxílio,
emergencial e temporário, às forças de segurança estaduais ou distritais, quando
requerido por seus governadores.”
No caso da Polícia Federal, ela passará a ser destinada a
“apurar infrações penais contra a ordem política e social ou em detrimento de
bens, serviços e interesses da União, inclusive em matas, florestas, áreas de preservação,
ou unidades de conservação, ou ainda de suas entidades autárquicas e empresas
públicas, assim como outras infrações cuja prática tenha repercussão
interestadual ou internacional e exija repressão uniforme, como as cometidas
por organizações criminosas e milícias privadas.” Lewandowski pondera as
mudanças na PF e atual PRF atualizam o que já ocorre “na prática”
A PEC assinala que o Fundo Nacional de Segurança Pública e
Política Penitenciária não poderá ser contingenciado e terá o objetivo de “garantir
recursos para apoiar projetos, atividades e ações em conformidade com a
política nacional de segurança pública e defesa social.”
Padronização
O governo federal ainda quer uniformizar protocolos de
segurança como boletins de ocorrência e certidões de antecedentes criminais, e a
geração de informações e dados estatísticos. Segundo Ricardo Lewandowski, a
intenção é “padronizar a língua mas cada estado no seu sistema”, como foi feito
no Poder Judiciário para compartilhar e alimentar a mesma base de dados.
Na apresentação aos governadores, o ministro garantiu que a
PEC “não centraliza o uso de sistemas de tecnologia da informação; não intervém
no comando das polícias estaduais; não diminui a atual competência dos estados
e municípios; e não cria novos cargos públicos.”
O governo defendeu a necessidade de mudar a Constituição
argumentando que “a natureza da criminalidade mudou. Deixou de ser apenas local
para ser também interestadual e transnacional.”
“Se no passado eram as gangues de bairro, o bandido isolado,
violento que existia em uma cidade ou outra, em um estado ou outro, hoje nós
estamos falando de uma organização criminosa que ganha contornos rápidos de
organização mafiosa no Brasil, já que eles não só estão no crime, mas estão
migrando para a economia real. Estão dando cursos de formação para concursos de
polícia militar e da polícia civil. Estão participando no financiamento das
campanhas eleitorais”, acrescentou Rui Costa, ministro-chefe da Casa Civil.
Trâmites
O governo admite que a PEC poderá ser modificada após as
contribuições dos governadores antes de ser encaminhada ao Poder Legislativo.
Em regra, uma proposta de emenda constitucional deve ser
avaliada separadamente nas duas casas do Congresso Nacional- a Câmara dos
Deputados e o Senado Federa, sucessivamente. Em cada casa, deverá ser submetida
às comissões de Constituição e Justiça para verificar admissibilidade.
Se aceita, a PEC deverá ser discutida em comissão especial.
Aprovada, vai para o Plenário. Tanto na Câmara como no Senado, para ser
aprovada a PEC tem ter ao menos três quintos dos votos em dois turnos de
votação. No mínimo, 308 votos favoráveis dos deputados federais e 49 votos
favoráveis dos senadores. Para aprovação nas duas casas, o governo precisará de
votos favoráveis da oposição.
EBC | Foto: Valter Campanato/Agência Brasil
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