Gestão Bolsonaro promete liberar ensino domiciliar por medida provisória
- 24/01/2019
O governo do presidente Jair
Bolsonaro (PSL) incluiu na lista de metas para os cem primeiros dias do governo
a regulamentação do ensino domiciliar por meio de medida provisória.
A prática havia sido considerada
ilegal no final do ano passado pelo STF (Supremo Tribunal Federal). Na ocasião,
a maioria dos ministros entendeu que, por falta de regulamentação, ela não
poderia ser considerada um meio lícito para os pais garantirem o direito dos
filhos à educação.
Com a medida provisória, irá se
regularizar a situação das famílias que ensinam seus filhos em casa. Segundo
estimativa divulgada no ano passado pela Aned (Associação Nacional de Educação
Domiciliar), elas somavam cerca de 7.500 na ocasião.
Parte delas é composta por
pessoas que discordam da linha educacional oferecida nas escolas por motivos
religiosos.
Já educadores contrários à medida
citam a frequência a instituições educacionais como um direito da criança e
enfatizam a escola como um espaço importante de socialização.
A Aned afirmou nesta quarta-feira
que ajudou a construir o texto da medida provisória junto com o governo
Bolsonaro.
A entidade diz ter procurado em
dezembro o ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodriguez, para a edição da MP.
Posteriormente, assessores da pasta teriam afirmado que o tema teria mais
relação com a área de direitos humanos e família do que com a educação formal.
Por isso, a medida ficou a cargo
da área da ministra Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos).
A Aned diz ter feito uma proposta
de redação, que está sob análise da pasta e da Casa Civil. "Estamos
trabalhando para que essa tramitação seja rápida", diz a entidade, que
sugere que o texto pode ser um aval provisório enquanto o Congresso não aprova
um projeto de lei.
"Apenas para constar, a MP
tem total força de lei [e] vai nos deixar tranquilos, no mínimo, durante o
primeiro semestre de 2019. Enquanto isso, estaremos buscando as articulações
necessárias para garantir que se torne definitivamente regulamentada a educação
domiciliar, devolvendo à família brasileira a liberdade de escolher como educar
seus filhos", diz o texto da organização.
Ensino Domiciliar no Supremo
A educação domiciliar ganhou
adeptos a partir de 2016, quando o ministro do STF Luís Roberto Barroso
suspendeu todas as decisões judiciais que impediam os pais de educar seus
filhos em casa.
Na votação do STF, motivada por
um pedido de uma família do município de Canela (RS), ele foi o único a deliberar
pela legalidade da prática.
A família da cidade gaúcha gaúcha
foi à Justiça após a Secretaria de Educação do município negar um pedido para
que a menina, à época com 11 anos, tivesse aulas em casa.
Barroso argumentou que crianças
educadas em casa tem outras oportunidades de socialização e que, segundo
pesquisas, não teriam deficiência na formação intelectual.
O ministro Alexandre de Moraes
abriu a divergência na votação e foi acompanhado por sete magistrados: Rosa
Weber, Luiz Fux, Ricardo Lewandowski, Gilmar Mendes, Marco Aurélio, Dias
Toffoli e Cármen Lúcia. Eles consideraram que, para que a opção pelo ensino em
casa fosse válida, teria de estar prevista em lei.
Desse grupo, Fux e Lewandowski
foram além: para eles, o "homeschooling" seria inconstitucional mesmo
que houvesse lei para regulamentá-lo.
Lewandowski destacou a
importância da escola para a convivência com a diversidade. "Quando se
formam bolhas nas quais ecoam as mesmas ideias, o que é comum nas redes
sociais, o entendimento mútuo se torna cada vez mais difícil, contribuindo para
a fragmentação da sociedade, para a polarização e para o extremismo",
disse.
Já Edson Fachin divergiu
parcialmente, e propôs dar um ano para o Congresso legislar sobre o assunto,
mas foi vencido. Celso de Mello não participou da sessão.
Folhapress
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