Falta protocolo contra violência de gênero na mídia latino-americana
- 07/08/2024
Em 14 países da América Latina e do Caribe, incluindo o
Brasil, 75% dos jornalistas conhecem pelo menos um caso de violência de gênero
contra colegas ou relatam episódios contra si. Apesar da proporção elevada, a
maioria dos veículos (57%) não possuem protocolos que ajudem na prevenção de
episódios de agressão física ou moral e assédio sexual, ou possam orientar atuação
quando houver algum caso.
Os dados constam da pesquisa “Meios sem Violência: a
urgência de políticas de abordagem e prevenção”, realizada pela Asociación
Civil Comunicación para la Igualdad de Argentina, com apoio da Federação de
Jornalistas da América Latina e do Caribe (FEPALC) e da Organização das Nações
Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).
Constrangimento
O estudo registrou 96 casos de violência de gênero. O
constrangimento psicológico e verbal é a forma mais comum de violência, com
65,5% de episódios lembrados por jornalistas que participaram da pesquisa. Há
relatos de assédio sexual (28%); assédio digital (21%); maus-tratos (19%);
agressão física (12,5%) e alguma forma de violência econômica (5%).
Quase a metade das situações de violência (48%) ocorreu nas
redações e estúdios dos veículos de comunicação. Mais de um quarto (27%) se deu
nas redes sociais ou pelo correio eletrônico; 15,5% dos episódios combinam
ambiente físico e virtual; e 9,5% se deram em coberturas externas ou em viagens
de trabalho das jornalistas.
Perfis dos agressores
O levantamento traça dois perfis dos agressores. Há os
agressores “offline”, como aqueles que ocupam cargos elevados na hierarquia da
empresa (envolvidos em 49% dos episódios relatadas); aqueles com o mesmo nível
hierárquico (27%) e homens de fora da redação, mas com influência sobre o
veículo (9%).
Além desse tipo, há os agressores “online”, como dirigentes
governamentais e políticos (31,5% das situações); homens do meio jornalístico
(22%) e de organizações antigênero (15%). A maioria desses agressores (54,5%),
dos dois perfis, não sofreu punição.
A pesquisa ouviu jornalistas de 95 veículos digitais,
audiovisuais (TV), impressos (jornais e revistas) e sonoro (rádio) entre
dezembro do ano passado e março deste ano. Participaram da pesquisa mulheres
(86,1% das respondentes); homens (11,1%) e pessoas trans (2,8%)
Segundo o resumo executivo da pesquisa, apenas 18,5% dos
entrevistados afirmaram que em seus veículos de comunicação existem áreas
especializadas para lidar com a violência. O setor é mais comum em grandes
meios de comunicação.
Pró-equidade
A Empresa Brasil de Comunicação (EBC), a qual a Agência
Brasil é ligada, mantém em atividade o Comitê de Pró Equidade de Gênero e Raça.
A empresa pública também participa da Rede de Equidade, formadas por
organizações que promovem políticas de inclusão e diversidade; e executa o
programa pró equidade de gênero e raça do governo federal.
Para avaliação da violência das redações, a pesquisa aplicou
questionários nos jornalistas sobre suas percepções a respeito de situações de
violência nas organizações noticiosas; e analisou 27 protocolos de violência gênero
de mídia de toda a região.
Como resultado do trabalho, a Asociación Civil Comunicación
para la Igualdad de Argentina propõe um modelo de protocolo que pode servir
como referência para ações de prevenção e contrárias à discriminação, ao
assédio e à violência no trabalho jornalístico. Todo material está disponível
neste site.
EBC | Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
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