Governo retoma Programa Cataforte com R$ 103,6 milhões para catadores
- 10/07/2024
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou nesta
quarta-feira (10) a retomada do Programa Cataforte, com recursos de R$ 103,6
milhões por meio de editais e prioridade para as redes que têm mulheres na
liderança. O programa se destina ao fortalecimento de cooperativas e
associações de catadores de recicláveis, sua inserção socioeconômica e a
agregação de valor na cadeia de resíduos sólidos.
“É preciso que a gente leve, de uma vez por todas, à
sociedade brasileira, a não enxergar vocês [catadores de recicláveis] nas ruas
como catadores de papel e material reciclável ou como puxadores de carrocinha.
É importante que a sociedade veja vocês e respeite vocês como cidadãos
brasileiros que estão fazendo um serviço tão ou mais importante do que o
serviço que aquela pessoa faz. Porque, muitas vezes, vocês estão catando a
sujeira que eles jogaram na rua, muitas vezes vocês estão limpando uma coisa
que eles deveriam limpar. E isso vale mais do que a quantidade de dinheiro que
foi anunciado aqui”, disse Lula.
Além do Cataforte, o governo e outros entes federais
apresentaram um conjunto de ações voltado ao universo dos catadores, que
totalizam R$ 425,5 milhões. Entre as ações, a regulamentação da Lei de
Incentivo à Reciclagem; o programa de gestão de resíduos sólidos e saneamento
de Itaipu Binacional e da Petrobras; e o projeto de reestruturação de
organizações de catadores em municípios do Rio Grande do Sul, estado fortemente
afetado por inundações no mês de maio de junho deste ano.
As iniciativas foram apresentadas, no Palácio do Planalto,
durante a quarta reunião ordinária do Comitê Interministerial para Inclusão
Socioeconômica de Catadoras e Catadores de Materiais Reutilizáveis e
Recicláveis (CIISC).
Lula cobrou do ministro da Secretaria-Geral, Marcio Macêdo,
que coordena o CIISC, a criação de uma comissão para acompanhar a execução dos
projetos e garantir que o dinheiro chegue na ponta, a quem precisa. “Tudo isso
tem que ter um acompanhamento sistematizado”, defendeu Lula. “Só faz sentido se
vocês tiverem acesso, se esse dinheiro estiver rodando, se estiver gerando mais
empregos, mais salário, mais gente trabalhando, mais organização na cooperativa
e mais tranquilidade e cidadania para vocês exercerem a nobre profissão de vocês”,
acrescentou o presidente.
O CIISC é coordenado pela Secretaria-Geral da Presidência em
articulação com 19 ministérios, bancos públicos e estatais. O comitê tem o
objetivo de coordenar a execução e realizar o acompanhamento, monitoramento e
avaliação do Programa Diogo de Sant'Ana Pró-Catadores e Pró-Catadoras,
promovendo a inclusão social e econômica desses profissionais em políticas
públicas.
Inclusão social
A estimativa é que o número de catadores em atividade no
país seja de 800 mil, sendo 70% do gênero feminino, entre indivíduos atuando de
forma independente e cooperados. São mais de 2 mil associações organizadas em
todo o país, somando 86,9 mil cooperados dedicados à coleta de reciclagem.
A representante da Confederação Nacional de Cooperativas de
Trabalho e Produção de Recicláveis (Conatrec) Lucia Oliveira da Silva
lembrou da importância da reciclagem
para o resgate da cidadania dos trabalhadores. “Não reciclamos materiais
recicláveis, reciclamos vidas, porque sem os personagens que têm dentro das
bases hoje, não teria esse evento, e nós não estaríamos aqui”, disse.
“É muito satisfatório ser catadora de material reciclável,
ser uma mulher negra. E, quando a gente chega dentro das cooperativas, a
maioria são mulheres e, por serem mulheres guerreiras, estamos à frente de
muitas coisas, muitos assuntos e conseguimos chegar num patamar altíssimo”,
acrescentou.
O presidente do Movimento Eu Sou Catador, Sebastião dos
Santos, lembrou que o trabalho de reciclagem no Brasil “nasce da fome, da
pobreza e da exclusão social e econômica”, e cobrou que todos os catadores
tenham acesso a direitos como aposentadoria, licença maternidade, descanso
remunerado e moradia digna. Para ele, o evento com o presidente Lula ratifica a
importância do trabalho da categoria, “rompendo o paradigma de que reciclagem é
coisa de gente preta e pobre”.
“Reciclagem é um avanço da cidadania ambiental, um avanço de
uma sociedade justa e igualitária”, afirmou.
Santos ressaltou que 60% dos catadores ainda se encontram
dentro dos lixões. “É desumano a situação que os catadores vivem, é degradante,
desumano, insalubre. Mas são esses catadores, tanto eles como os catadores
individuais de ruas, que contribuem com 90% dos materiais recicláveis que
chegam na indústria. Ou seja, somos nós, catadores, os protagonistas da
reciclagem desse país”, disse.
“Setenta e três por cento [73%] dos catadores são mulheres
negras, que, assim como minha mãe, são o único sustento de suas famílias. O pagamento
pelo serviço ambiental prestado não deve ser um sonho, deve ser uma justiça
social para aqueles que trabalham e fazem com que o Brasil seja o maior
reciclador de latinha de alumínio do mundo”, acrescentou.
Para o ministro da Secretaria-Geral, Marcio Macêdo, é um
desafio atender com as políticas públicas os catadores e catadoras que não são
cooperados, que estão nas ruas à mercê das intempéries do dia a dia.
“Reconhecer a relevância do trabalho de coleta e a importância do papel dessas
pessoas para reciclagem e tratamento adequado dos resíduos que produzimos é um
primeiro passo”, disse.
“Eles não são apenas coletores de materiais recicláveis, são
agentes de transformação social e ambiental, contribuindo diariamente para a
preservação do meio ambiente, para economia circular e para inclusão social.
São homens e mulheres que muitas vezes, à margem do sistema formal de emprego,
desempenham um papel essencial na cadeia produtiva da reciclagem, promovendo a
sustentabilidade e reduzindo os impactos ambientais negativos”, acrescentou.
Banco do Brasil
A Fundação Banco do Brasil também quer facilitar o acesso a
programas sociais por catadores não associados ou em situação de rua. Com
investimento de R$ 6,2 milhões, o projeto Conexão Cidadã tem unidades móveis
com agentes que prestam apoio jurídico, como assistência legal para obtenção de
documentos, resolução de problemas judiciais e esclarecimento sobre direitos e
deveres; assistência de saúde com primeiros socorros, check-up, vacinação e
apoio psicológico - apoio emocional e psicológico para ajudar a lidar com o
estresse e a discriminação - à essa população.
O projeto é coordenado em parceria com a Associação Nacional
dos Catadores (Ancat). Inicialmente, seis veículos vão circular por Belém, Belo
Horizonte, Brasília, Curitiba, Recife e Aracaju.
O Sebrae Nacional também colaborará com o programa
oferecendo serviços nas unidades móveis, como capacitação profissional,
formalização como microempreendedor individual e melhoria da gestão de
negócios.
Novo Cataforte
A retomada do Programa Cataforte terá um aporte de R$ 103,6
milhões e tem como objetivo central fortalecer e estruturar cooperativas e
associações de catadores de recicláveis, ampliando a participação dessas
organizações na coleta seletiva e logística reversa. A iniciativa envolve
bancos públicos, fundações, ministérios e estatais. Podem concorrer aos
recursos projetos de todas as regiões do país. Os editais darão prioridade, por
meio de pontuação, às redes que têm mulheres na liderança.
Do total de recursos do programa, a Caixa Econômica Federal,
o BNDES e o Banco do Brasil, via Fundação Banco do Brasil, vão investir R$ 75
milhões para diagnósticos socioeconômicos, assessoria técnica, aquisição de
equipamentos e modernização da infraestrutura.
Desse valor, R$ 25 milhões serão da Caixa, que fará cartas
convite a organizações da sociedade civil para apresentação de projetos com
foco em diagnóstico socioeconômico das cooperativas, assessoria técnica até a
modernização física de galpões. Outros R$ 50 milhões serão ofertados via
chamada pública pela Fundação Banco do Brasil e BNDES para redes de catadores,
para financiamento de bens e serviços, capacitação, implantação e modernização
da infraestrutura física.
Já o governo federal aportará R$ 28,6 milhões para o novo
Cataforte. O Ministério das Cidades fará um edital de seleção de projetos, no
valor de R$ 11,2 milhões, para ações de estruturação e fortalecimento das redes
de catadores de materiais recicláveis. O valor destinado a cada proposta estará
limitado a um mínimo de R$ 120 mil e valor máximo para cooperativas singulares
de R$ 1 milhão.
O Ministério do Meio Ambiente, por sua vez, lançou edital de
R$ 8 milhões, em junho, para apoiar cooperativas e associações e, agora,
conseguiu novo aporte de R$ 9,6 milhões da Funasa para ampliar o edital, que
ficará com um total de R$ 17,6 milhões.
Saneamento
A Itaipu Binacional também investirá R$ 278,4 milhões em
apoio a ações de gestão dos resíduos sólidos e saneamento nos municípios em que
a empresa atua no Brasil. O programa está focado na melhoria da qualidade
ambiental, especialmente nos cuidados com a água, essencial para a geração de
energia limpa e renovável na usina.
As ações são voltadas para diversos públicos na gestão
integrada de resíduos sólidos, principalmente técnicos de meio ambiente e de
unidades de valorização de recicláveis e catadores. O programa está presente em
54 municípios do oeste do Paraná e um em Mato Grosso do Sul.
Rio Grande do Sul
A Petrobras apresentou o Projeto Conexões Sustentáveis:
Fortalecendo a Cadeia da Reciclagem no Estado do Rio Grande do Sul, que será
desenvolvido nos municípios gaúchos de Canoas e Esteio. A iniciativa é para
promover a qualificação e reestruturação de organizações de catadores e apoiar
a organização e inclusão de catadores que atuam de forma individual nesses
municípios.
Serão desenvolvidas ações técnicas, de qualificação,
mobilização social e fomento ao empreendedorismo para mitigar os impactos da
catástrofe climática que atingiu o estado. O projeto terá valor máximo de R$
17,3 milhões, considerando um prazo contratual de 2 anos e 4 meses.
A Petrobras Biocombustíveis também firmará um protocolo de
intenções com a União Nacional de Catadoras e Catadores do Brasil
(Unicatadores) para viabilizar a coleta seletiva de óleos e gorduras
reutilizáveis em todo o Brasil, visando a produção de biodiesel.
TI Yanomami
Os ministérios dos Povos Indígenas e do Trabalho e Emprego
desenvolverão um projeto de R$ 20 milhões voltado para ações de gerenciamento
de resíduos sólidos na Terra Indígena Yanomami, com a construção de um complexo
para o tratamento dos resíduos e estação de transbordo para a cidade de Boa
Vista, em Roraima, onde está localizada a TI.
Também serão realizados cursos de qualificação para o
trabalho e criação de cooperativa indígena com os yanomami.
Incentivo
Durante o evento, o presidente Lula assinou o decreto que
regulamenta a Lei de Incentivo à Reciclagem e estabelece incentivos fiscais e
benefícios para projetos que impulsionem a cadeia produtiva da reciclagem. Além
disso, o decreto cria os fundos de Apoio para Ações Voltadas à Reciclagem
(Favorecicle) e o de Investimentos para Projetos de Reciclagem (ProRecicle), no
âmbito do Ministério do Meio Ambiente, com previsão de renúncia fiscal de R$ 306
milhões no primeiro ano.
O Ministério do Meio Ambiente também publicará portarias
para definir critérios para habilitação de entidades gestoras nos sistemas
coletivos de logística reversa de embalagens em geral.
EBC | Foto: Antônio Cruz/Agência Brasil
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