CPI vai apurar falhas de planos de saúde de pessoas com deficiência
- 24/05/2024
A Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj)
instaurou, nesta quinta-feira (23), comissão parlamentar de inquérito (CPI)
para investigar o descumprimento de contrato de planos de saúde de pessoas com
deficiência. A CPI foi requerida pelo deputado Fred Pacheco (PMN) em março
deste ano e logo obteve as assinaturas necessárias de acordo com o regimento
interno da Alerj.
Publicada hoje em edição extra do Diário Oficial do Estado,
a instauração da CPI foi resultado de intensa campanha feita pelo parlamentar,
que recebeu reclamações de mães e pais de pessoas com deficiência (PCDs).
Dentre as diversas manifestações neste período, estão a ida de uma comitiva ao
Tribunal de Justiça para exigir o rápido cumprimento de decisões judiciais a
favor dos PCDs.
“Esta é uma vitória do povo do Rio, mas é principalmente uma
vitória das mães e pais de PCDs, que lutam com tanta bravura. Desde o ano
passado, vínhamos tentando uma solução para que tratamentos não fossem
interrompidos. Não funcionou, então vamos instaurar a CPI e resolver isso”,
disse Pacheco, que é cantor e compositor cristão e vocalista da banda DOM.
Segundo a fisioterapeuta Fabiane Alexandre Simão, de 45
anos, que preside a Associação Nenhum Direito a Menos, a instauração da CPI
será um alento para mães e pais de pessoas com deficiência. Ela é mãe de
Daniel, de 9 anos, que sofre de paralisia cerebral e transtorno do espectro
autista.
“A CPI dos Planos de Saúde é de suma importância, pois vai
tirar o pano que esconde o que está por trás das medidas que as operadoras
estão colocando em prática. Os planos estão negando direito à saúde e,
consequentemente, à vida dos nossos filhos, e os deixam em risco de morte,
sem possibilidade de tratamento médico”,
disse a fisioterapeuta.
No dia 15 deste mês, um grupo de mães protestou, em frente
ao Palácio Guanabara, sede do governo estadual, contra o cancelamento
unilateral do plano de saúde Amil de pessoas com transtorno do espectro
autista. De acordo com as manifestantes, isso vem ocorrendo em outros estados e
envolve outras empresas de planos de saúde.
Fabiane Simão, que participou desse ato, disse que o
problema já está atingindo pessoas em home care (atendimento médico
domiciliar), que dependem do suporte total de vida, de respirador. "E eles
querem cancelar esses planos, querem retirar o home care”, afirmou.
O especialista em direito do consumidor e saúde e membro da
comissão de Direito Civil da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de Campinas,
Stefano Ribeiro, disse que o cancelamento unilateral, em casos de tratamento de
saúde, como ocorre com os autistas, é ilegal, e o usuário pode exigir seus
direitos.
“O beneficiário pode, sim, recorrer à Justiça, com obrigação
de fazer pagamento do plano, para que ocorra a manutenção desse contrato, para
que não seja encerrado até a finalização do tratamento. Isso também sem
prejuízo de pedir indenização por danos morais, a depender dos transtornos e
constrangimentos que esse beneficiário foi obrigado a suportar”, informou.
ANS
Em junho de 2022, a Agência Nacional de Saúde (ANS) ampliou
as regras de cobertura para os casos de transtornos globais do desenvolvimento,
como, por exemplo, o transtorno de espectro autista. A decisão foi tomada em
reunião da diretoria colegiada da agência. Assim, torna-se obrigatória a
cobertura para qualquer método ou técnica indicada pelo médico para o
tratamento do paciente que tenha um dos transtornos globais do desenvolvimento.
Os transtornos globais do desenvolvimento são caracterizados
por um conjunto de condições que geram dificuldades de comunicação e de
comportamento, prejudicando a interação dos pacientes com outras pessoas e o
enfrentamento de situações cotidianas. Eles englobam o transtorno do espectro
autista/asperger, o transtorno desintegrativo da infância (psicose), síndrome
de Rett e transtorno com hipercinesia associada a retardo mental e a movimentos
estereotipados, entre outros.
A normativa aprovada também ajustou o Anexo II do Rol para
que as sessões ilimitadas com fonoaudiólogos, psicólogos, terapeutas
ocupacionais e fisioterapeutas englobem todos os transtornos globais de
desenvolvimentos.
Segundo o diretor-presidente da ANS, Paulo Rebello, a
agência já discutia sobre terapias para tratamento do espectro autista em um
grupo de trabalho criado em 2021. “Com base nessas discussões e considerando o
princípio da igualdade, decidimos estabelecer a obrigatoriedade da cobertura
dos diferentes métodos ou terapias não apenas para pacientes com transtorno do
espectro autista, mas para usuários de planos de saúde diagnosticados com
qualquer transtorno enquadrado como transtorno global do desenvolvimento”,
disse.
EBC | Foto: Unicef/ONU
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