CCJ do Senado aprova aumento de cotas raciais para concurso público
- 08/05/2024
A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado
aprovou, nesta quarta-feira (8), por 17 votos favoráveis contra oito, o turno
suplementar do Projeto de Lei 1.958, de 2021, que prorroga por mais 10 anos a
política de cotas raciais para concursos públicos e processos seletivos para a
administração pública federal, direta e indireta, incluindo fundações privadas
e autarquias.
Como o projeto tramita em caráter terminativo, segue direto
para análise da Câmara dos Deputados, sem precisar da aprovação do plenário do
Senado. O tema terá que passar pelo plenário apenas se nove senadores
apresentarem um recurso contra a matéria em até cinco dias úteis.
O projeto aprovado aumenta dos atuais 20% para 30% o total
das vagas reservadas para cotas raciais, incluindo ainda os grupos dos
indígenas e quilombolas. Atualmente, as cotas raciais para concursos alcançam
apenas a população negra, que inclui pretos e pardos. A lei de cotas para
concursos, de 2014, vence no dia 9 de junho.
O relator do projeto, senador Humberto Costa (PT-PE),
rejeitou as quatro emendas apresentadas pelos senadores Sérgio Moro (União-PR),
Flávio Bolsonaro (PL-RJ), Plínio Valério (PSDB-AM) e Rogério Marinho (PL-RN),
que se manifestaram contra o projeto.
Para Costa, as emendas prejudicam a política de cotas
raciais conforme previsto no projeto de lei. A CCJ ainda rejeitou todos os
destaques apresentados pelos senadores contrários à matéria, mantendo o texto
do relator Humberto Costa.
Pretos e pardos
A única alteração aceita pelo relator foi uma mudança de
redação para trocar a palavra “negro” por “preto e pardo” após manifestação do
senador Plínio Valério, que defendeu que pardo não seria o mesmo que negro. “E,
quando ele for atrás da bolsa e disser que é negro, ele vai ser vítima de
discriminação e acusado de fraudador, porque ele não é negro”, argumentou.
Humberto Costa explicou que a legislação prevê que negros
são todas as pessoas que se declaram pretas ou pardos, conforme definição do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE).
“As pessoas que estão chateadas com essa possibilidade de
serem consideradas negras, são negras”, disse o relator, acrescentando que a
discussão se trata de “uma concepção preconceituosa”.
“Mas vamos fazer, porque o que interessa hoje é que a gente
aprove essa definição”, concluiu, aceitando a mudança de redação.
Oposição
Parte dos senadores se opôs à matéria, principalmente sob o
argumento de que as cotas deveriam ser apenas sociais, baseadas no nível de
renda, e não com base na raça.
“Essa discussão de etnia eu acho que ela vai pelo lado
errado, porque todos nós somos frutos da miscigenação. A discussão, na minha
opinião, tinha que ser socioeconômica”, defendeu o senador Carlos Portinho
(PL-RJ).
O senador Fabiano Contarato (PT-ES) argumentou, por sua vez,
que a população negra sofre preconceitos e discriminações que a população não
negra não sofre, o que justificaria a política pública de cotas raciais.
“[É cômodo] porque você não é julgado pela sua cor da pele.
Porque ninguém atravessa a rua quando um homem branco atravessa a rua, mas seja
um homem preto para você ver que, diuturnamente, as pessoas atravessam a rua
para sequer cruzar com o homem negro. Essa é a realidade desse país desigual”,
afirmou.
EBC | Foto: Lula Marques/ Agência Brasil
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