Sob pressão, STF terá reunião informal para discutir 2ª instância
- 21/03/2018
A pressão para que o Supremo Tribunal Federal (STF) volte a
decidir sobre a prisão a partir da condenação em segunda instância aumentou nos
últimos dias e será o tema de uma reunião entre os onze ministros da Corte, que
será realizada nesta terça-feira, 20. Informal, a conversa foi convocada pelo
decano (ministro que está há mais tempo no tribunal) Celso de Mello.
Na pauta, as ações, petições e falas públicas e nos
bastidores de ministros e entidades que se multiplicaram nos últimos dias com a
mesma intenção: que o Supremo reverta seu atual entendimento e dificulte a
execução provisória das penas após a condenação em segunda instância, o que
interessa – e muito – ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e a
outros investigados e condenados na Operação Lava Jato.
Alinhados, a presidente do STF, Cármen Lúcia, e o relator da
Lava Jato na Corte, Edson Fachin, têm negado sucessivamente colocar o tema em
votação, optando por “jogar a bola” um para o outro, sem sair do lugar. A
presidente tem nas mãos as ações apresentadas pela Ordem dos Advogados do
Brasil (OAB) e pelo Partido Ecológico Nacional (PEN), que estão liberadas para
julgamento desde dezembro, pelo ministro Marco Aurélio Mello, mas não incluiu
os processos na pauta de abril, que foi divulgada por ela antecipadamente.
Já a Fachin cabe pedir a votação, no plenário ou na Segunda
Turma (da qual faz parte) do habeas corpus preventivo apresentado pelo
ex-presidente, que pede ao Supremo que, de antemão, impeça o juiz Sergio Moro
de mandá-lo cumprir sua pena, de doze anos e um mês de prisão, caso seus
recursos na segunda instância, no Tribunal Regional Federal (TRF4), não
prosperem, como deve acontecer.
Os dois, no entanto, já deixaram claro que não estão
dispostos a ceder às pressões dos colegas porque sabem que, uma vez o tema
levado à votação, a chance de o STF mudar seu entendimento é, de fato, muito
grande. A esperança parece ser a pressão contrária de quem alega que uma
alteração no entendimento adotado desde 2016 constituiria uma séria ameaça à
Operação Lava Jato. Às 22h de segunda-feira, 19, a hashtag #ResistaCarmenLucia
era a segunda mais compartilhada do mundo no Twitter.
Moro
Mais cedo, Moro, ao determinar que o empreiteiro Gerson
Almada, ex-diretor da Engevix, volte à cadeia, falou sobre os “rumores” de que
o Supremo debateria a questão e nominou os seis ministros que podem votar pela
mudança, que julga “desastrosa” para as investigações. Para o juiz, estes magistrados serão os cinco
que foram contra a prisão em segunda instância na última decisão, em 2016
(Marco Aurélio, Celso de Mello, Rosa Weber, Ricardo Lewandowski e Dias Toffoli)
mais Gilmar Mendes, que foi a favor e já disse que mudou de ideia.
Estava na mão do ministro um habeas corpus coletivo
apresentado por um grupo de advogados no Ceará em um sentido ainda mais amplo:
se concedido, permitiria a liberdade de todas as pessoas que, no país, estão
nessa situação. Gilmar decidiu negá-lo na noite desta segunda, por considerar
que ser contrário à prisão provisória não significa negar que há casos em que
ela seja justificável.
A forma como abordou o tema em entrevista deixou claro que a
posição no encontro com os colegas deve ser de cobrança. Ele criticou a
“omissão” de Cármen Lúcia em se posicionar e em colocar o Supremo para dar uma
nova resposta sobre o tema. “O que é grave para o Judiciário e não pode ocorrer
é não julgar, ter um pedido e não julgar”, afirmou Gilmar.
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