Lula critica países por corte de ajuda humanitária à Palestina
- 19/02/2024
O presidente da República, Luís Inácio Lula da Silva,
criticou neste domingo (18) os cortes na ajuda humanitária à Palestina
anunciado nas últimas semanas por diversos países. Em viagem à Etiópia, o líder
brasileiro voltou a classificar como "genocídio" as ações militares
perpetradas por Israel na Faixa de Gaza.
"Não é uma guerra entre soldados e soldados. É uma
guerra entre um exército altamente preparado e mulheres e crianças",
lamentou Lula. O presidente garantiu que o Brasil fará novo aporte de recursos
para ações humanitárias na região.
Mais de 10 países - entre eles Estados Unidos, Reino Unido,
Canadá, Itália, Suíça, Irlanda e Austrália - chegaram a suspender repasses para
a Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA,
na sigla em inglês). A entidade, ligada à Organização das Nações Unidas (ONU),
é a maior responsável por ações humanitárias implementadas na Faixa de Gaza.
Os cortes foram anunciados após Israel denunciar o
envolvimento de alguns funcionários da entidade nos ataques realizados pelo
grupo palestino Hamas no sul do país, em outubro do ano passado. O governo
israelense também defendeu que a UNRWA fosse extinta e substituída por outras
agências.
Por sua vez, a entidade anunciou o afastamento dos acusados,
mas criticou a suspensão dos repasses financeiros. O chefe da UNRWA, Phillipe
Lazzarine, pontuou que as alegações envolvem um grupo pequeno de funcionários.
Ele também destacou que as vidas das pessoas na Faixa de Gaza dependem das
contribuições internacionais, sem as quais diversas comunidades ficarão
desamparadas. "A UNRWA é a espinha dorsal da resposta humanitária e a
tábua de salvação de milhões de refugiados em toda a região", escreveu nas
redes.
Ações
Entre os serviços sociais desenvolvidos pela entidade estão
a construção e administração de escolas, abrigos para desalojados e clínicas
médicas. Ela também é responsável por distribuição de alimentos. Além disso, a
UNRWA é um importante contratante de mão de obra em uma região que conta com
boa parte da população desempregada.
"Quando eu vejo países ricos anunciarem que estão
parando de dar contribuição para a questão humanitária aos palestinos, eu fico
imaginando qual é o tamanho da consciência política dessa gente e qual é o
tamanho do coração solidário dessa gente que não está vendo que na Faixa de
Gaza não está acontecendo uma guerra, mas um genocídio. Se tem algum erro
dentro de uma instituição que recolhe dinheiro, puna-se quem errou. Mas não
suspenda ajuda humanitária para um povo que está há tantas décadas tentando
construir o seu Estado", criticou Lula.
O presidente brasileiro disse que os valores do novo aporte
brasileiro ao UNRWA ainda serão definidos. Ele cobrou que as lideranças
mundiais assumam um comportamento responsável em relação ao ser humano. "O
que está acontecendo na Faixa da Gaza com o povo palestino não existiu em
nenhum momento histórico. Aliás existiu quando Hitler resolveu matar os judeus.
E você vai deixar de ter ajuda humanitária? Quem vai ajudar a reconstruir
aquelas casas que foram destruídas? Quem vai devolver a vida das crianças que
morreram sem saber porque estavam morrendo?", questionou.
Na quinta-feira (15), após a Irlanda anunciar a retomada das
contribuições, o chefe da UNRWA, Phillipe Lazzarine, agradeceu o país pelas
redes sociais. Ele conclamou outras nações a seguirem pelo mesmo caminho.
"Quatro meses em uma guerra brutal. O custo para os
civis é inimaginável. 5% da população de Gaza já sofreu mortes, ferimentos ou
separação. 17 mil crianças arrancadas dos pais. A fome se aproxima. A ajuda
desesperadamente necessária não está indo para Gaza. Uma ação urgente é crucial
para travar este crescente desastre humanitário. Não há substituto para o papel
do UNRWA na ausência de uma solução política genuína. Afirmar o contrário não
só coloca em risco a vida de pessoas desesperadas, mas também compromete as
possibilidades de uma transição bem sucedida", escreveu.
Estado Palestino
Lula disse que além de garantir nova contribuição
humanitária, o Brasil vai defender na ONU que o Estado palestino seja
reconhecido definitivamente como Estado pleno e soberano. O presidente
brasileiro também voltou a se posicionar a favor de uma reforma na ONU,
ampliando as participações no Conselho de Segurança e extinguindo o direito de
veto mantido por Estados Unidos, Rússia, China, França e Reino Unido.
"O que acontece no mundo hoje é falta de instância de
deliberação. Nós não temos governança. Eu digo todo dia: a invasão do Iraque
não passou pelo Conselho de Segurança da ONU. A invasão da Líbia, a invasão da
Ucrânia e a chacina de Gaza também não passaram. Aliás, as decisões tomadas
pela ONU não foram cumpridas. Nós estamos esperando para humanizar o ser
humano. O Brasil está solidário ao povo palestino. O Brasil condenou o Hamas e
não pode deixar de condenar o que o exército de Israel está fazendo", finalizou.
Com Inf: EBC | Foto: Ricardo Stuckert / PR
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