Discurso em defesa da regulação de redes sociais converge com PL das Fake News
- 10/01/2024
Em discurso proferido nessa segunda-feira (8) durante a
cerimônia Democracia Inabalada, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral
(TSE) e relator no Supremo Tribunal Federal (STF) das investigações sobre
os atos golpistas de 8 de janeiro de 2023, ministro Alexandre de Moraes,
defendeu a regulamentação das redes sociais, em convergência com o projeto de
lei conhecido como PL das Fake News. Já aprovada no Senado, a proposta (PL
2.630/2020) agora aguarda análise pela Câmara dos Deputados.
Para o ministro, há necessidade urgente “de neutralizar um
dos grandes perigos modernos à democracia: a instrumentalização das redes
sociais pelo novo populismo digital extremista”:
— As recentes inovações em tecnologia da informação e acesso
universal às redes sociais, com o agigantamento das plataformas (big techs),
amplificado em especial com o uso de inteligência artificial (IA),
potencializaram a desinformação premeditada e fraudulenta, com a amplificação
dos discursos de ódio e antidemocráticos. A ausência de regulamentação e a
inexistente responsabilização das redes sociais, somadas à falta de
transparência na utilização da inteligência artificial e dos algoritmos,
tornaram os usuários suscetíveis à demagogia e à manipulação política,
possibilitando a livre atuação no novo populismo digital extremista e de seus
aspirantes a ditadores — disse Moraes na cerimônia no Congresso.
O ministro enfatizou ainda que “os novos populistas digitais
extremistas” instrumentalizaram as redes sociais que, “buscando o lucro, nada
fizeram para impedir”.
— Pelo contrário, criaram mecanismos de monetização e, para
atingir seus objetivos, aproveitaram-se da total inércia das instituições
democráticas e organizaram sua máquina de desinformação, com a criação de suas
“milícias digitais”, que vêm atuando sem restrições nas redes sociais, por
ausência de regulamentação — afirmou o ministro.
O PL das Fake News, de autoria do senador Alessandro Vieira
(MDB-SE), foi aprovado no Plenário do Senado em junho de 2020 na forma de
substitutivo do senador Angelo Coronel (PSD-BA). A matéria chegou a ser pautada
em maio do ano passado para votação pelo Plenário da Câmara, mas foi retirada
de pauta pelo presidente da Casa à época, a pedido do relator do projeto,
deputado Orlando Silva (PCdoB-SP).
A proposição cria a Lei Brasileira de Liberdade,
Responsabilidade e Transparência na Internet, com normas para as redes sociais
e serviços de mensagem como WhatsApp e Telegram. Evitar
notícias falsas que possam causar danos individuais ou coletivos e à democracia
é um dos principais objetivos da proposição.
Em entrevista à TV Senado após a cerimônia Democracia
Inabalada, o senador Alessandro enfatizou que se trata de uma proposta urgente,
diante de “um grande volume de informação sem transparência, prejudicando a
democracia, mas também a saúde mental de crianças e adolescentes, o patrimônio
das pessoas”.
— É uma regulamentação da ferramenta, não do conteúdo, que
segue livre como reza a Constituição, vedando o anonimato, vedando contas
falsas, vedando impulsionamento não declarado. Com essa regulamentação, você
reduz muitos danos causados pelas redes sociais. O mais importante é ter a
responsabilização das plataformas pelo conteúdo que elas fazem circular com o
maior vigor. Não dá para deixar mais as empresas na situação de absoluta
impunidade.
Pontos do projeto
Entre as principais imposições do projeto — que serão
aplicadas às redes sociais e aplicativos de mensagens com pelo menos 2 milhões
de usuários — estão regras para coibir contas falsas e robôs (veja quadro
abaixo). Os provedores terão ainda que limitar o número de contas vinculadas a
um mesmo usuário.
As plataformas deverão facilitar o rastreamento do envio de
mensagens em massa e garantir a exclusão imediata de conteúdos inadequados,
como os de teor racista ou que ameacem crianças e adolescentes. A proposta traz
ainda especificações para o servidor público, perfis e órgãos públicos.
Redes e aplicativos estrangeiros que ofereçam seus serviços
ao público brasileiro também precisarão responder à lei. Os provedores menores
deverão usar a norma como parâmetro para o combate à desinformação e para dar
transparência sobre conteúdos pagos.
O projeto aborda uma série de exigências para os
aplicativos de mensagens, como a limitação do número de envios de uma mesma
mensagem e o número de membros por grupo. Além disso, elas devem verificar se o
usuário autorizou sua inclusão no grupo ou na lista de transmissão, além de
desabilitar a autorização automática para inclusão em grupos e em listas de
transmissões.
Propaganda (conteúdos pagos) e propaganda eleitoral também têm especificações para a conduta. Entre as responsabilidades das plataformas, estão permitir às autoridades brasileiras o acesso remoto aos seus bancos de dados para atender ordens judiciais e ter sede e representante legal no Brasil. Quando a legislação for descumprida, as plataformas poderão ser multadas em 10% do faturamento do grupo no Brasil e/ou ter suas atividades suspensas.
Com Inf: Agência Senado | Jefferson Rudy/Agência Senado
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