Senado aprova MP que restringe ajudas financeiras do ICMS
- 21/12/2023
Por 48 votos a favor e 22 contra, o plenário do Senado
aprovou, no fim da tarde desta quarta-feira (20), a Medida Provisória (MP)
1.185, que restringe a dedução de incentivos fiscais estaduais do Imposto de
Renda Pessoa Jurídica (IRPJ) e da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido
(CSLL). Sem alterações em relação ao texto aprovado pela Câmara dos Deputados,
o texto segue para sanção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A MP representa a principal aposta do governo para obter R$
168 bilhões extras e tentar zerar o déficit primário zero em 2024. Logo após a
cerimônia de promulgação da reforma tributária, o ministro da Fazenda, Fernando
Haddad, disse a jornalistas que a aprovação é essencial para que o governo
consiga reequilibrar o Orçamento no próximo ano.
Com potencial de arrecadação em R$ 35 bilhões no próximo
ano, a medida corrige uma distorção provocada pela derrubada de um veto a um
jabuti (emenda não relacionada ao tema de uma proposta) de uma lei de 2017.
Naquele ano, uma lei autorizou que as empresas usassem
incentivos fiscais do Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços
(ICMS) para deduzirem gastos com custeio e investimento. Em abril, o Superior
Tribunal de Justiça (STJ) decidiu que a subvenção (ajuda financeira) só pode
ser usada para deduzir gastos de investimentos.
No fim de agosto, o governo editou a MP para regulamentar a
decisão judicial e limitar a dedução de IRPJ e de CSLL aos gastos das empresas
com investimentos, como modernização do parque produtivo e compra de
equipamentos. Com a regulamentação antecipada, o governo pode iniciar a
cobrança sem a necessidade de esperar o julgamento de recursos no Superior
Tribunal Federal (STF).
Mudanças
A Câmara aprovou a MP com todas as mudanças inseridas pelo
relator, deputado Luiz Fernando Faria (PSD-MG), na comissão especial. Em troca
de restringir a ajuda financeira do ICMS, o Congresso aceitou incluir um
mecanismo de transação tributária, semelhante ao existente desde 2020, para que
as empresas renegociem, com até 80% de desconto, o passivo de R$ 90 bilhões
acumulado desde 2017, caso dividam o valor em 12 meses. Para prazos maiores, o
desconto ficará entre 50% e 35%.
A estimativa de R$ 35 bilhões está mantida porque a cobrança
incidirá sobre as futuras receitas, com a renegociação abrangendo apenas o
valor que deixou de ser pago nos últimos seis anos.
A maneira de concessão do incentivo mudou. Até agora, o
benefício era abatido diretamente da base de cálculo do IPPJ e da CSLL. Com a
MP, a empresa continuará a pagar os tributos normalmente, sendo reembolsada
dois anos depois em 25% do IRPJ, caso comprove ter usado o incentivo para
investimentos.
O relator também reduziu pela metade o prazo para que a
Receita Federal reembolse as empresas que utilizarem a subvenção do ICMS
corretamente, para abater investimentos. O intervalo caiu de 48 para 24 meses.
O parlamentar também permitiu que empresas de comércio e de sérvios usem as
ajudas financeiras estaduais para investimentos.
Além disso, a Receita passará a receber os pedidos assim que
as receitas da subvenção forem reconhecidas, não no ano seguinte. Com a
mudança, os créditos tributários (descontos no pagamento de tributos) poderão
ser usados durante a execução da obra ou do investimento, não após a conclusão
do empreendimento, como previa o texto original da MP.
JCP
A principal mudança aprovada foi a manutenção parcial dos
juros sobre capital próprio (JCP). Por meio desse mecanismo, as empresas abatem
do IRPJ e da CSLL parte dos lucros distribuídos aos acionistas.
No fim de agosto, o governo havia enviado outra medida
provisória propondo a extinção do mecanismo, sob o argumento de que o mecanismo
está defasado porque grandes empresas têm usado a ferramenta para buscarem
brechas na lei e pagarem menos tributos. Com a mudança, a Câmara dos Deputados
incluiu uma solução intermediária, que restringirá abusos no uso do mecanismo
pelas empresas.
O fim do JCP aumentaria a arrecadação em R$ 10,5 bilhões no
próximo ano. Nesta quinta-feira, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse
que o governo editará medidas administrativas para aumentar a arrecadação, sem
a necessidade de passar pelo Congresso, para compensar a manutenção parcial do
JCP.
Com Inf: EBC | Foto: Lula Marques/ Agência Brasil
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