Lula veta tese do marco temporal em lei aprovada pelo Congresso
- 23/10/2023
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu vetar
parcialmente o projeto de lei (PL) que estabelece que os povos indígenas só têm
direito às terras que ocupavam ou reivindicavam até 5 de outubro de 1988, data
da promulgação da atual Constituição Federal. Essa tese é conhecida como marco
temporal. O anúncio foi feito em coletiva à imprensa pelos ministros Alexandre
Padilha (Relações Institucionais), Sônia Guajajara (Povos Indígenas) e Jorge
Messias (Advocacia Geral da União), no fim da tarde desta sexta-feira (20), no
Palácio da Alvorada, residência oficial.
A sanção com vetos será publicada em edição extra do Diário
Oficial da União (DOU) porque esta sexta-feira é o último dia do prazo que o
presidente da República tinha para se manifestar.
O Projeto de Lei (PL) 2.903/2023 foi aprovado pelo Congresso
Nacional no dia 27 de setembro. Uma semana antes da aprovação no Legislativo, o
Supremo Tribunal Federal (STF) tinha invalidado a tese do marco temporal. Os
ministros da Corte, entretanto, definiram indenização para ocupantes de boa-fé.
Na ocasião, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), negou que a
aprovação do projeto foi para afrontar o STF.
“O presidente Lula, hoje [20], data de sanção do PL que
trata do marco temporal, decidiu por vetar o marco temporal, respeitando
integralmente a Constituição brasileira, inclusive as decisões recentes do STF
sobre constitucionalidade sobre esse tema”, afirmou Padilha.
Questionada sobre a expectativa do movimento indígena, que
cobrava um veto total ao PL, a ministra Sônia Guajajara disse que os pontos não
vetados não prejudicam a política indigenista. "O que ficou ali é o que
está em algum dispositivo legal, que não vai alterar em nada ao que já temos
garantido na Constituição Federal, e agora na última decisão do STF. Estamos
totalmente abertos ao diálogo com o movimento indígena, para esclarecer e
construir, como também com o próprio Congresso Nacional".
Entre os artigos mantidos no texto, estão os que, segundo
Alexandre Padilha, “reforçam a transparência de todo o processo de estudo, de
declaração, de demarcação, que reforçam a participação efetiva de estados e
municípios ao longo de todo o processo, que regulamentam o acesso à área
indígena, de servidores que estão prestando serviços importantes para essa
população. E o início do artigo que valida a importância de atividades
econômicas e produtivas nessa Terra Indígena, desenvolvidas pela comunidade
indígena”, afirmou.
As razões e justificativas dos vetos serão informadas no
texto a ser publicado no DOU, o que deve ocorrer ainda nesta sexta.
Além do marco temporal, já considerado inconstitucional pelo
STF, a possibilidade do pagamento de indenização prévia às demarcações foi
vetada, segundo explicou o advogado-geral da União, Jorge Messias. A
possibilidade de revisão de demarcações já realizadas, cultivo de transgênicos,
garimpo e construção de rodovias em terras indígenas sem autorização das
comunidades indígenas foram outros pontos vetados, segundo informaram os
ministros. Messias disse que a sanção parcial respeitou a separação dos Três
Poderes e defendeu a decisão tomada.
“O presidente Lula muito claramente atendeu aquilo que foi
decidido pelo STF e vetou outros dois blocos de artigo que contrariavam a
política indigenista, e um outro bloco que gerava insegurança jurídica para a
aplicação do processo demarcatório”, destacou.
Análise de vetos
Com a sanção parcial do projeto pelo presidente Lula, os
vetos voltam para ser analisados pelos parlamentares em sessão do Congresso
Nacional, que ocorre com a participação de deputados e senadores.
O veto é a discordância do Presidente da República com determinado
projeto de lei aprovado pelas Casas Legislativas do Congresso Nacional. A
Constituição determina que ele seja apreciado pelos parlamentares em sessão
conjunta, sendo necessária a maioria absoluta dos votos de deputados federais
(pelo menos 257) e de senadores (pelo menos 41) para a sua rejeição.
Com Inf: EBC | Foto: Antônio Cruz/Agência Brasil
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