Processamento de plasma pela rede privada está em pauta no Senado
- 19/09/2023
Está em discussão no Senado Federal uma proposta que permite
o processamento de plasma humano pela iniciativa privada para desenvolvimento
de novas tecnologias e produção de medicamentos. A proposta de emenda à
Constituição (PEC) 10/2022 estava na pauta da Comissão de Constituição e
Justiça da última quarta-feira (13), mas foi retirada de pauta a pedido da
relatora, senadora Daniella Ribeiro (PSD-PB), que solicitou mais tempo para
construir uma proposta de consenso com senadores e com o governo.
A votação da PEC já foi adiada sete vezes na comissão, por
ser considerada polêmica. A relatora havia incluído no projeto original a
proposta de pagamento ao doador em troca da coleta do plasma, o que gerou
reações contrárias de diversos senadores e também de órgãos públicos. Não há
uma nova data para a análise da proposta na CCJ.
O plasma é parte líquida do sangue, resultante do processo
de fracionamento do sangue total, obtido de doadores voluntários dos serviços
de hemoterapia. Ele pode ser usado para a produção de medicamentos
hemoderivados, como albumina, imunoglobulina e fatores de coagulação, que são
utilizados por pessoas com doenças como a hemofilia.
No relatório, Daniella Ribeiro argumenta que a legislação
brasileira está defasada em relação à coleta de plasma. “Precisamos
urgentemente coletar plasma, estruturar uma rede apropriada para isso e
produzir medicamentos derivados do plasma no país”, diz. A senadora cita um
relatório do Tribunal de Contas da União (TCU) que aponta o desperdício de
quase 600 mil litros de plasma sanguíneo que não foram viabilizados para a
produção de hemoderivados.
O autor da proposta, senador Nelsinho Trad (PSD-MS), diz
tratar-se de "um aprimoramento no texto da Constituição Federal, no
intuito de possibilitar a atualização da legislação brasileira no que diz
respeito à coleta e ao processamento de plasma sanguíneo".
Para a Empresa Brasileira de Hemoderivados e Biotecnologia
(Hemobrás), a PEC representa um risco à operacionalização da indústria pública,
devido à dificuldade de obtenção de plasma para o fracionamento. “Hoje existe
um controle muito forte, o Brasil tem condição de fornecer à população plasma
de alta qualidade para a indústria, reconhecido internacionalmente. E a
Hemobrás tem condições de fracionar todo o plasma brasileiro”, argumenta o
presidente da empresa, Antonio Lucena.
A Hemobrás é uma empresa pública vinculada ao Ministério da
Saúde, que tem como função social garantir aos pacientes do Sistema Único de
Saúde (SUS) o fornecimento de medicamentos derivados do sangue ou obtidos por
meio de engenharia genética, com produção nacional.
O Ministério Público Federal (MPF) e o Ministério Público
junto ao Tribunal de Contas da União emitiram nota técnica questionando
aspectos da PEC. “A solução para os hemoderivados no Brasil não passa por
estimular a doação do plasma por meio da remuneração ou oferta de benefícios
financeiros de qualquer natureza, sob pena de se desvirtuar o caráter altruísta
e solidário desse ato, que, uma vez condicionado à prestação de vantagem
econômica, afasta os ideais do pensamento coletivo e do compromisso com a cidadania,
imprescindíveis para garantir isenção e segurança”, diz a nota.
Com Inf: EBC | Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil
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