Governo vai lançar programa de reforma agrária este mês, diz ministro
- 15/05/2023
O governo federal anunciará, ainda este mês, a retomada de
uma série de ações com vistas a promover a redistribuição de terras
improdutivas. O anúncio foi feito neste sábado (13) pelo ministro do
Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira, em uma feira
que o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) realiza em São Paulo.
“Agora em maio, o presidente Lula vai anunciar o programa de
reforma agrária. A reforma agrária vai voltar para o Brasil. [Vamos] distribuir
terras e recuperar terras que estejam improdutivas, destinando-as à reforma
agrária”, disse Teixeira, acrescentando que, além de distribuir terras, o
governo fornecerá crédito e assistência técnica aos assentados, estimulando a
formação de cooperativas e agroindústrias.
Acompanhado por representantes de vários órgãos federais e
por lideranças de movimentos sociais, o ministro elogiou a atuação do MST,
afirmando que o movimento “produz comida saudável e igualdade social” em um
país que, segundo ele, deixou de colher alimentos para a população a fim de
produzir commodities agrícolas vendidas a outros países.
“Diminuiu a produção de arroz, feijão, mandioca, hortaliças,
legumes e de frutas”, elencou Teixeira, que atribui ao movimento sem-terra a
expertise [competência] em produzir alimentos sem o uso de agrotóxicos que
podem contribuir para a segurança alimentar nacional.
Desigualdade
“O MST será muito importante para diminuir a desigualdade
social no país e para incluir o povo na terra, produzindo comida em um país que
perdeu terras para a produção de alimentos [em um contexto em que] ampliou a
produção de soja e de milho”, ressaltou o ministro do Desenvolvimento Agrário,
acrescentando que, ao mesmo tempo em que o governo federal planeja estimular os
pequenos produtores agrícolas, não vai mexer com o agronegócio. “Isso é bom e não
vamos mexer nisso.”
Paulo Teixeira também voltou a criticar a criação, pela
Câmara dos Deputados, de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para
investigar o MST e as invasões de terras no país.
“Querem investigar o MST? Querem criar uma CPI para isso?
Acho que vão achar coisas interessantes. Vão ver que, ali [nos acampamentos e
assentamentos do movimento], tem suco de uva que não tem trabalho escravo. Vão
encontrar produtos que não têm agrotóxicos. Vão encontrar soja não
transgênica”, afirmou, referindo-se a alguns dos produtos produzidos pelo MST,
maior produtor de arroz orgânico da América Latina, segundo o Instituto
Riograndense de Arroz (Irga), autarquia subordinada à secretaria estadual de
Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural do Rio Grande do Sul.
Juros altos
À defesa do MST, Teixeira acrescentou uma crítica ao
presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto - a quem membros do governo,
entre eles o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva, atribuem a
responsabilidade pela manutenção da taxa de juros. Atualmente, a taxa de juros
básicos da economia, a Selic, está em 13,75%.
“Se [quem quer investigar o MST] quiser descobrir um homem
que está criando uma balbúrdia, uma baderna neste país, eles vão achar o
Roberto Campos Neto, que está fazendo o maior juro da face da terra e levando
muitos brasileiros à extrema pobreza e à miséria”, opinou.
Principal alvo das críticas à manutenção da elevada taxa de
juros - feitas não só por membros do governo federal, mas também de muitos
economistas e entidades como a Confederação Nacional da Indústria (CNI) -
Campos Neto tem justificado a política de juros implementada pelo Banco Central
alegando que a definição da taxa não se limita à inflação, incluindo elementos
que, na avaliação dele, ainda requerem cautela, como a dívida bruta do governo.
“É a dívida alta que faz os juros serem altos”, disse o
presidente do BC no último dia 25, ao participar de uma audiência pública na
Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, onde defendeu que os critérios
técnicos prevalecem em relação a políticos nas decisões do BC.
Simbolismo
Membro da coordenação nacional do MST, Débora Nunes destacou
que a quarta edição da feira nacional simboliza um novo momento na luta pela
reforma agrária no Brasil. “Em determinado momento, o MST, que caminha para
[completar] 40 anos, compreendeu que a reforma agrária clássica não mais
aconteceria no nosso país pelo nível e estágio de desenvolvimento do capital na
agricultura”, comentou Débora, explicando que isso exigiu do MST “a capacidade
de se reinventar”, propondo a distribuição de terras improdutivas a
trabalhadores rurais como resposta a problemas que afetam toda a sociedade.
“A não realização da reforma agrária produziu uma série de
problemas estruturais para o povo brasileiro, vivenciados no campo e nas
cidades. O modelo hegemônico de capital na agricultura, expresso no
agronegócio, se reproduz nos moldes do que foi o Brasil colônia, no tripé da
formação do latifúndio. Somos o país que mais concentra terras no mundo,
coexistindo com mais de 4 milhões de sem-terra", afirmou.
Além do latifúndio, diz Débora Nunes, "esse modelo se
estruturou na produção de monoculturas, priorizando a produção de commodities
para exportação que, na maioria das vezes, vai servir de ração na Europa e nos
países desenvolvidos, sem levar em conta a necessidade de produção de comida e
de alimentos saudáveis para os brasileiros". "E há ainda um terceiro
aspecto, que é o trabalho escravo”, ponderou Débora, afirmando que os
trabalhadores que integram o MST se propõem a produzir alimentos saudáveis por
meio da agroecologia, preservando os recursos naturais e a biodiversidade do
campo. “Nossa proposta de reforma agrária popular compreende que precisamos
zelar, preservar, os bens comuns para podermos seguir existindo neste
planeta."
EBC | Foto: Ascom/MDA
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