Pacheco propõe marco regulatório para IA escrito por especialistas
- 05/05/2023
O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), protocolou
na noite de ontem (5) um projeto de lei para estabelecer um marco regulatório
sobre o uso da tecnologia de inteligência artificial (IA) no país. O texto foi
elaborado por juristas e professores especialistas em direito civil e digital.
Um dos principais pontos do texto é a previsão de
responsabilização do fornecedor ou operador do sistema de inteligência
artificial, na medida de sua participação em eventual dano causado. No caso de
IAs cuja aplicação envolva alto risco, essa responsabilidade será objetiva,
isto é: independerá da comprovação de culpa ou dolo (intenção consciente).
No caso de sistema com risco abaixo de alto, o fornecedor ou
operador do sistema terá sua culpa presumida, cabendo a ele comprovar que não é
culpado, ficando a vítima do dano dispensada de provar tal culpa.
O texto não prevê sanções penais, mas traz descrito quais
seriam as obrigações da autoridade competente por fiscalizar o cumprimento das
regras, dentre as quais está aplicar sanção administrativa em caso de infração
às regras, incluindo multa de até R$ 50 milhões para pessoas física e de até 2%
do faturamento no caso de pessoa jurídica.
Embora haja a descrição das atribuições dessa autoridade
competente, não há especificação de qual seria o órgão responsável, somente que
este deverá ser designado pelo Poder Executivo.
Há doze princípios que devem ser observados na aplicação da
IA no país, diz o PL, entre os quais: participação humana no ciclo da
inteligência artificial e supervisão humana efetiva; não discriminação;
justiça, equidade e inclusão; transparência, explicabilidade, inteligibilidade
e auditabilidade; entre outros.
Outro princípio é o da "prevenção, precaução e
mitigação de riscos sistêmicos derivados de usos intencionais ou não
intencionais e de efeitos não previstos de sistemas de inteligência
artificial".
Gradação de risco
Todo o projeto é baseado na ideia de gradação de riscos na
aplicação da IA - de baixo e moderado a alto e extremo. Nesses dois últimos
casos, são estabelecidas regras mais rígidas de governança para utilização da
tecnologia, incluindo a elaboração de mecanismos de intervenção humana e
desativação.
Além do uso em veículos autônomos e da operação de
infraestrutura estratégica – como sistema de transmissão de energia –, entre as
atividades de alto risco na aplicação de IA, o texto coloca o recrutamento e a
avaliação de empregados, a avaliação de critérios para acesso a serviços
públicos e privados e avaliação de crédito, aplicações na área de saúde e
sistema biométricos de identificação.
O entendimento é o de que, nesses casos, o uso de sistemas
de IA possa acarretar discriminação direta, indireta, ilegal ou abusiva, em
decorrência de informações pessoais como cor da pele, orientação sexual ou
origem geográfica.
“Além de adotar definições sobre discriminação direta e
indireta – incorporando, assim, definições da Convenção Interamericana contra o
Racismo, promulgada em 2022 –, o texto tem como ponto de atenção grupos (hiper)
vulneráveis tanto para a qualificação do que venha a ser um sistema de alto
risco como para o reforço de determinados direitos”, diz a justificativa do projeto.
O texto coloca limites para a utilização de sistemas de IA
na segurança pública para identificação biométrica em espaços públicos, por
exemplo, como as câmeras de reconhecimento facial. Nesse caso, a utilização da
tecnologia é considerada de risco extremo e só será permitida mediante
aprovação de lei federal específica e de autorização judicial em três casos:
Busca de suspeitos de crimes com pena máxima superior a dois
anos de prisão;
Busca de vítimas de crimes e desaparecidas; e
Crimes em flagrante.
A íntegra do projeto de lei, que substitui outras três
iniciativas anteriores, pode ser acessada no portal do Senado Federal.
Elaboração
O texto foi elaborado por uma comissão de 17 pessoas, entre
advogados, professores de direito e de tecnologia, bem como um perito criminal
da Polícia Federal e um consultor legislativo, além do apoio de diversos
servidores. Os trabalhos foram coordenados pelo ministro Ricardo Villas Bôas
Cuevas, do Superior Tribunal de Justiça (STJ).
Ao longo de 2022, o grupo promoveu quatro audiências
públicas e um seminário internacional, além de 12 painéis temáticos, e disse
ter ouvido mais de 60 especialistas de diversas áreas sobre os diferentes
aspectos do tema. Também foi encomendado estudo sobre as regulamentações em 30
países que já adotam algum tipo de regra. O texto agora deve seguir para
análise pelas comissões temáticas do Senado.
Com Inf: EBC | Foto: Lula Marques
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