STF julga ação sobre rendimento do FGTS nesta quinta (20); veja o que pode mudar
- 20/04/2023
O Supremo Tribunal Federal (STF) julga nesta quinta-feira
(20) ação que deve definir a taxa de correção do Fundo de Garantia do Tempo de
Serviço (FGTS). A matéria pode resultar em ganhos significativos aos
trabalhadores com carteira assinada.
O julgamento pode determinar que os valores nas contas do
FGTS deveriam ter sido corrigidos sempre pela inflação e não pela Taxa
Referencial (TR), como ocorre desde 1991.
Caso houvesse correção pelo Índice Nacional de Preços ao
Consumidor (INPC) entre 1999 e 2023, o ganho aos trabalhadores chegaria a R$
720 bilhões, segundo estimativa do Instituto Fundo de Garantia, voltado a
evitar perdas no FGTS por seus associados.
Pela legislação, o FGTS rende 3% mais TR (hoje em 0,15%) ao
ano. Para o advogado João Badari, as condições atuais fazem o fundo se
assemelhar a “uma poupança que não rende”.
“A TR está há praticamente dez anos perto de zero, deixando
o valor depositado cada vez mais desvalorizado”, explica. “Não dá para ter um
valor da conta fundiária sendo corrigido por um índice que não acompanha a
inflação. É como se fosse uma poupança que não rende”, completa.
Expectativa é de decisão favorável a trabalhadores
A expectativa da comunidade jurídica é que o STF decida pela
inconstitucionalidade da TR para a correção do saldo do FGTS. Então, seria
estabelecido outro índice inflacionário para a correção, como o INPC ou o
Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
Em 2020, o Supremo considerou inconstitucional aplicar a TR
para correção de débitos trabalhistas. Pelo entendimento dos ministros, o
Índice de Preços ao Consumidor Amplo Especial (IPCA-E) deveria ser aplicado na
fase pré-judicial, e a Selic, na fase de citação judicial.
Na análise de Badari, esse precedente abre espaço para que a
ação ganhe força e deslanche.
A Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 5090 —
apresentada pelo Solidariedade — aponta que a TR “não é um índice capaz de
espelhar a inflação”. “Permitir a utilização da TR para fins de atualização
monetária equipara-se a violar o direito de propriedade dos titulares das
contas vinculadas do FGTS”, aponta.
Caso o STF decida pela aplicação de algum índice
inflacionário, todos os cidadãos que tiveram carteira assinada desde 1999
teriam direito à revisão do saldo do FGTS. Contudo, pode haver modulação para
amenizar o impacto sobre os cofres da União.
Segundo o advogado e economista Alessandro Azzoni, a
estimativa é de que o reajuste traria impacto maior que R$ 400 bilhões nos
cofres do governo.
“O problema não é só esse impacto. Bem ou mal, o governo já
coloca previsões das ações em curso no Orçamento do ano. A questão é que se
trata de um dinheiro barato ao governo, que fica parado por muito tempo e
financia até habitações populares, e a correção pela inflação encarece, já que
o governo também perde uma fonte de recursos”, indica o especialista.
Julgamento se estende nos últimos anos
O julgamento tem relevância tanto para os trabalhadores
quanto para o próprio Judiciário, que, ao menos nos últimos 10 anos, viu-se
inundado com centenas de milhares de ações individuais e coletivas
reivindicando a correção do saldo do FGTS por algum índice inflacionário.
Desde 2019, o andamento dos processos está suspenso por
decisão do ministro Luís Roberto Barroso, relator do assunto no STF. Ele tomou
a decisão depois que o Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu, em 2018,
unificar o entendimento e manter a TR como índice de correção do FGTS, em
decisão desfavorável aos trabalhadores.
Isso criou o risco de que as ações sobre o assunto fossem
indeferidas em massa antes de o Supremo se debruçar sobre o tema, razão pela
qual o relator determinou a suspensão nacional de todos os processos, em
qualquer instância, até a decisão definitiva do plenário do STF.
Esta é a quarta vez que a ADI sobre o assunto entra na pauta
de julgamentos do plenário do Supremo. As outras foram em 2019, 2020 e 2021. Em
todas as ocasiões, houve uma corrida para a abertura de ações individuais e
coletivas, na expectativa de se beneficiar de uma possível decisão favorável
aos trabalhadores.
CNN
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