Ministério Público denuncia Beto Richa por corrupção passiva e fraude a licitação
- 26/09/2018
O Ministério Público Estadual
apresentou hoje denúncia contra treze pessoas acusadas de envolvimento no
esquema investigado na operação Rádio Patrulha, que apura suspeitas de fraude
em obras de estradas rurais no Paraná. A lista de indiciados inclui o
ex-governador e candidato ao Senado, Beto Richa (PSDB), seu irmão, o ex-secretário
da Infraestrutura, José Pepe Richa (PSDB), e o ex-chefe de gabinete de Richa,
Deonilson Roldo, acusados de corrupção passiva e fraude à licitação. O MP
indiciou ainda o primo do ex-governador, Luiz Abi, os empresários Joel
Malucelli e Celso Frare, o ex-secretário de Cerimonial, Ezequias Moreira, e o
ex-secretário de Assuntos Estratégicos, Edson Casagrande.
A denúncia (veja a íntegra) é
baseada nas delações do ex-diretor do Departamento de Estradas de Rodagem
(DER/PR), Nelson Leal Júnior e do ex-deputado estadual Tony Garcia. Ambos
apontaram a existência de um esquema para fraudar licitações do programa em
troca de propina para o grupo político do ex-governador. Richa chego a ser
preso na semana passada, junto com a mulher, Fernanda Richa, pelo Gaeco, mas
ambos acabaram sendo soltos quatro dias depois por decisão do ministro do
Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes. O tucano nega as acusações.
Fernanda e o contador da família
Richa, Dirceu Pupo, investigados por lavagem de dinheiro, ainda não foram denunciados.
O MP afirma que serão instaurados novos procedimentos relacionados aos dois.
"Relativamente aos crimes de organização criminosa, obstrução de justiça,
lavagem de dinheiro, peculato e outros crimes licitatórios, considerando a
necessidade de realização de novas diligências, o Ministério Público informa
que serão instaurados procedimentos investigatórios criminais autônomos, razão
pela qual, por ora, deixa de denunciar os investigados Fernanda Bernardi Vieira
Richa e Dirceu Pupo Ferre", diz o documento.
A denúncia
De acordo com a denúncia, no
segundo semestre de 2011, os empresários Joel Malucelli e Celso Frare, junto
com Tony Garcia, prometeram a Beto Richa, José Pepe Richa, Deonilson Roldo,
Ezequias Moreira e Aldair Petry, além de Luiz Abi, “vantagem indevida” na forma
de pagamento de propina para que eles manipulassem a licitação para contratação
de empresas para o “fornecimento de equipamentos e veículos novos, mediante
locação para atuação na adequação e melhorias de estradas rurais municipais”.
Segundo o MP, as empresas favorecidas seriam a Ouro Verde Transpor e Locação, a
Cotrans, e a J. Malucelli Equipamentos.
Richa, seu irmão Pepe, Deonilson,
Ezequias e Aldair Petry, na condição de agentes públicos, e "em
conluio" com o primo do ex-governador, Luiz Abi, teriam concordado com o
esquema e praticado “diversos atos de ofício” para direcionar a licitação.
Segundo os promotores, logo após as eleições de 2010, em que Richa foi eleito,
ficou acertado que as empresas, e não o Estado, adquiririam o maquinário para
as patrulhas rurais, alugando o equipamento para o Estado. “Em contrapartida,
pagariam ao Governador e a seu grupo uma porcentagem do que recebessem do
Estado”, aponta a denúncia.
O acordo também previa de
Malucelli dividiria os contratos com a Cotrans e a Ouro Verde, “pagando, em
contrapartida, vantagem ilícita aos agentes públicos envolvidos” e repassando parte
dos mesmos a Tony Garcia.
Eminência parda
Luiz Abi, primo do ex-governador
mesmo não ocupando cargo público, segundo o MP, “era, na verdade, uma das
figuras mais importantes na cúpula do Poder Executivo Estadual, exercendo forte
influência nas decisões de Estado”, comandado, à época, por Richa, e aderiu ao
projeto apresentado pelos empresários Osni Pacheco e Celso Frare, “tendo,
inclusive, procurado esse último, reforçando a necessidade de pagamento da
vantagem indevida prometida”.
Conhecimento
Ainda de acordo com o MP, Richa
tinha toda a ciência dessa negociação, informado por Tony Garcia, seu amigo, e
“convalidou todo o arranjo criminoso, inclusive o aceite da promessa de
vantagem indevida, autorizando, em seguida, a abertura de concorrência pública
para a contratação das empresas, no valor máximo de R$ 72 milhões”, em despacho
dede 28 de novembro de 2011.
“O denunciado CARLOS ALBERTO
RICHA, então Governador do Estado do Paraná, e principal destinatário final das
vantagens indevidas prometidas pelos empresários, plenamente ciente das
tratativas e reuniões realizadas, não apenas convalidou todo o arranjo
criminoso, como também dispensava ordens para garantir que os pagamentos
ilícitos por parte dos empresários fossem, de fato, efetivados”, aponta o MP na
denúncia.
Combinação
Entre o segundo semestre de 2011
e julho de 2012, o grupo teria agido para fraudar a licitação através de
combinação de preços para direcionar a concorrência “às empresas conluiadas, as
quais pagariam, em contrapartida, vantagem ilícita aos agentes públicos
envolvidos”. Os promotores apontam que uma das reuniões aconteceu no próprio
prédio do Departamento de Estradas de Rodagem (DER/PR), responsável pelo
programa, articulada por José Pepe Richa, então secretário da Infraestrutra. O
grupo teria agido ainda para afastar outras empresas da concorrência, mas a
Terra Brasil Terraplanagem acabou teria “furado” o acordo, apresentando
propostas mais baixas que a Ouro Verde e a J. Malucelli. Os envolvidos teriam
então descoberto que a Terra Brasil tinha como proprietário o então secretário
de Assuntos Estratégicos do governo Richa, Edson Casagrande, tendo outras
pessoas como “testas de ferro” para poder participar da licitação. Casagrande
teria depois aderido ao esquema. No final, a Cotrans, a Ouro Verde, a J.
Malucelli e a Terra Brasil dividiram os lotes do contrato. Em 5 de julho de
2012, Beto Richa assinou despacho homologando o resultado da licitação, “com
conhecimento pleno de todos os ajustes realizados” e os contratos foram
assinados em seguida.
Valor da propina
Em dezembro de 2012, na sede da
Cotrans em Curitiba, Celso Frare, Osni Pacheco e Tony Garcia terial combinado
que a propina paga aos agentes públicos seria de 8% a 10% dos valores dos
contratos. José Pepe Filho teria participado da reunião e recebido a proposta
de que o repasse dos 8% “teria como principal destinatário final” Beto Richa,
então governador. Os empresários prometeram, ainda, que “em setembro ou agosto,
antes da campanha” de 2014 fariam mais um “acerto”.
Os pagamentos
Segundo a denúncia, os pagamentos
teriam sido feitos na sede da Cotrans. Luiz Abi, primo do governador, seria o
principal operador financeiro do grupo, contando ainda com a colaboração de
Deonilson Roldo e Ezequias Moreira. De acordo com os promotores, o total de
pagamentos feitos pelo Estado às empresas foi de R$ 101 milhões. O valor total
das propinas recebido pelos envolvidos chegaria a R$ 8,1 milhões.
O MP relata pagamentos feitos por
volta de outubro de 2013 alguns dias após serem pagas as faturas para a Ouro
Verde, entre eles a entrega de R$ 200 mil em dinheiro por Celso Frare a José
Pepe Richa “acondicionados em envelopes de papel”. Três meses depois, O mesmo
Celso Frare teria chamado Pepe Richa em sua casa em Curitiba, e entregado
outros R$ 70 mil em dinheiro, e filmado parte da entrega. O vídeo faz parte da
denúncia. Em setembro de 2014, Frare teria entregue outros R$ 220 mil a Tony
Garcia, que em razão de desentendimentos com Luiz Abi, foi orientado a procurar
Ezequias Moreira, então secretário do Cerimonial do governo Richa, que também se
recusou a receber o dinheiro. Segundo o MP, o próprio Ezequias confirmou o
episódio em seu depoimento ao Gaeco. Garcia então levou o dinheira ao próprio
Beto Richa no apartamento do ex-governador.
Defesa
Em nota, a defesa de Beto Richa
disse que a denúncia do Ministério Público, "assim como a prisão
temporária decretada no dia 11 de setembro, é baseada única e exclusivamente em
termos de depoimento de colaborador premiado já conhecido do Poder Judiciário
paranaense, sem qualquer base em provas de suas falaciosas alegações".
"Ainda mais grave, sem a mínima diligência investigativa por parte do
próprio MPE-PR ou da Polícia Civil para fins de verificar as ilações feitas
pelo delator", diz o texto.
Denunciados:
Beto Richa – corrupção passiva e
fraude a licitação
Pepe Richa – corrupção passiva e
fraude a licitação
Deonilson Roldo – corrupção
passiva e fraude a licitação
Ezequias Moreira – corrupção
passiva e fraude a licitação
Aldair Petry – corrupção passiva
e fraude a licitação
Luiz Abi – corrupção passiva
Celso Frare – corrupção ativa e
fraude a licitação
Joel Malucelli – corrupção ativa
e fraude a licitação
Edson Casagrande – fraude a
licitação e corrupção ativa
Túlio Bandeira – fraude a
licitação e corrupção ativa
André Felipe Bandeira – fraude a
licitação e corrupção ativa
Emerson Savanhago – fraude a
licitação
Robison Savanhago – fraude a licitação
Bem Paraná
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