Mudança climática põe em risco o reinado brasileiro no agronegócio
- 19/09/2018
O Brasil já é o terceiro maior
exportador agrícola do mundo. Mas as mudanças climáticas podem representar um
desafio real para a expansão produtora do País e gerar uma contração das vendas
externas até 2050.
Os dados são da FAO, que, nesta
segunda-feira (17), apresentou seu informe anual sobre a produção de
commodities. No levantamento, o Brasil terminou o ano de 2016 com uma fatia de
5,7% do mercado global, abaixo apenas dos Estados Unidos, com 11%, e Europa,
com 41%, segundo reportagem do Estadão.
No início do século, o Brasil era
superado por Canadá e Austrália, somando apenas 3,2% das exportações mundiais e
disputando posição com a China, com 3%. De acordo com a FAO, o valor adicionado
da agricultura por trabalhador também dobrou entre 2000 e 2015. No início do
século, ele era de US$ 4,5 mil, chegando a US$ 11,1 mil em 2015.
A expansão não se limitou ao
Brasil. De acordo com a entidade liderada pelo brasileiro José Graziano da
Silva, os países emergentes já representavam 20,1% do mercado agrícola global
em 2015, contra apenas 9,4% em 2000. Além de Brasil e China, Indonésia e Índia
foram os principais motores dessa expansão. Dos dez primeiros exportadores
hoje, quatro são economias em desenvolvimento. Enquanto isso, o porcentual do
mercado dominado por EUA, União Europeia, Austrália e Canadá foi reduzido em
dez pontos porcentuais.
Se o Brasil ganhou espaço entre
os exportadores, desapareceu da lista dos 20 maiores importadores de alimentos.
Em 2000, o Brasil era o 13º maior importador, com 0,9% do mercado mundial. Em
2016, a lista dos 20 primeiros colocados já não traz o mercado brasileiro.
O mercado mundial, enquanto isso,
triplicou. O comércio agrícola, que movimentava US$ 570 bilhões em 2000, passou
a registrar um fluxo de US$ 1,6 trilhão em 2016. A expansão econômica da China e a demanda por
biocombustíveis foram os principais fatores desse crescimento.
CLIMA PREOCUPA
Mas se a expansão foi clara nos
15 primeiros anos do século, os cenários até 2050 para o Brasil vão depender do
impacto das mudanças climáticas no planeta. De acordo com a FAO, o mundo terá
de dobrar sua produção agrícola nos próximos 30 anos.
Mas o impacto das mudanças
climáticas pode representar desafios reais para a produção brasileira, que
poderia inclusive sofrer uma queda. "Mudanças climáticas vão afetar a
agricultura global de forma desigual, melhorando as condições de produção em
alguns locais. Mas afetando outros e criando "vencedores" e
"perdedores", indicou o informe da FAO.
Os países em baixas latitudes
seriam aqueles que mais sofreriam. Já regiões com climas temperados poderiam
ver uma maior produção agrícola, diante da elevação de temperatura.
No caso do Brasil, a previsão é
de que, se nada for feito no mercado global, suas exportações seriam afetadas
negativamente e haveria até uma leve queda no volume vendido. O mesmo ocorreria
com o restante da América do Sul e países africanos. Já Europa, EUA e Canadá registrariam
fortes desempenhos.
As exportações brasileiras para
África e Índia aumentariam. Mas haveria também incremento de importações vindas
da América do Norte e Europa. Já as vendas brasileiras para a Europa e China -
seus dois principais mercados - poderiam ser reduzidas em mais de US$ 1 bilhão
cada.
O temor da FAO é que as mudanças
climáticas aprofundem a disparidade entre países ricos e emergentes, já que a
produção agrícola poderia ser afetada. "Precisamos garantir que a evolução
e a expansão do comércio agrícola funcionem para eliminar a fome e a
desnutrição", disse José Graziano da Silva.
Para ele, o comércio internacional tem o potencial de estabilizar os mercados e realocar alimentos de regiões com superávit para aqueles com déficit. Caso as mudanças climáticas fossem acompanhadas, até 2050, pela abertura dos mercados, o Brasil seria o país que veria uma das maiores expansões do comércio agrícola.
Fonte: Cana Rural/Foto: CNA
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