Congresso articula gasto extra de R$ 5 bi para o próximo presidente.
- 26/08/2018
Em período eleitoral, o Congresso
pode deixar mais uma bomba fiscal para o próximo presidente. Deputados e
senadores, liderados pelo presidente da Casa, Eunício Oliveira (MDB-CE),
articulam a derrubada do veto que impede a alta do piso salarial de agentes de
saúde em 53%.
O impacto no Orçamento ficará
próximo a R$ 5 bilhões em três anos, diz o governo.
Em julho, ao aprovar uma medida
provisória enviada pelo presidente Michel Temer para reformular as carreiras de
agentes comunitários de saúde e agentes de combate às endemias, o Congresso
incluiu no texto o reajuste do piso salarial dessas carreiras.
O projeto prevê elevação gradual
do piso, dos atuais R$ 1.014 para R$ 1.550 em 2021.
Temer sancionou a proposta, mas
vetou o trecho que permitia os reajustes. Entre os argumentos, afirmou que o
aumento da remuneração é iniciativa reservada ao presidente e que o dispositivo
fere a Lei de Responsabilidade Fiscal.
Agora, cabe aos parlamentares, em
sessão conjunta, a decisão de manter o veto ou reincluir dispositivo na lei e
permitir os reajustes.
Em vídeo de campanha divulgado
nas redes sociais, Eunício reclama que a área econômica do governo afirmou não
ter recursos para pagar o novo valor do piso salarial.
"Estou eu aqui de novo,
pronto para ir a Brasília, fazer uma reunião do Congresso Nacional, que sou eu
que presido, para derrubar um veto do presidente", disse.
À reportagem ele afirmou que
tentaria marcar uma sessão nesta semana. É mais provável, porém, que a reunião
seja agendada para a primeira semana de setembro, quando já está previsto
esforço concentrado para votação de projetos na Câmara e no Senado.
A elevação do piso atinge 355 mil
agentes. Pelos cálculos do Ministério do Planejamento, se o número de
profissionais não aumentar, o impacto fiscal será de R$ 1 bilhão em 2019, R$
1,6 bilhão em 2020 e R$ 2,2 bilhões em 2021.
Embora sejam contratados pelos
municípios, 95% do valor do piso desses servidores é bancado pelo governo federal.
Ainda assim, a Confederação
Nacional de Municípios, que reúne prefeitos de todo o país, é contra o
reajuste. O presidente da entidade, Glademir Aroldi, argumenta que o ônus para
as prefeituras também é alto, já que elas são responsáveis por complementar os
salários e pagar encargos, benefícios e treinamentos.
Aroldi diz que o aumento vai
gerar pressão por reajustes de outras categorias e fazer com que municípios
estourem o limite de gastos com pessoal.
Lideranças partidárias consideram
que são altas as chances de derrubada do veto. Entre os fatores, está o apelo
popular da proposta, em um momento em que mais de 70% dos parlamentares tentam
a reeleição. Se confirmada, a sessão será a única do Congresso durante o
período de campanha eleitoral.
Outro indicativo é o fato de os
deputados e senadores já terem derrubado, em abril deste ano, veto de Temer a
um projeto que flexibilizava a carga horária dessas mesmas carreiras.
"Quando Eunício marcar a sessão, estaremos lá. A oposição está
mobilizada", disse o líder da minoria no Congresso, deputado Décio Lima
(PT-SC).
Mesmo entre aliados do
presidente, o sentimento é que a derrubada do veto é praticamente inevitável.
Na Câmara, por exemplo, 228 dos 513 deputados compõem a Frente Parlamentar em
Defesa dos Agentes Comunitários de Saúde e dos Agentes de Combate às Endemias.
A maior parte deles é de siglas da base.
Para a líder do MDB no Senado,
Simone Tebet (MS), mesmo que o reajuste infrinja a lei, é provável que o veto
seja derrubado. "Se for para analisar o veto em setembro, é muito difícil
alguém ter coragem de votar contra. O que aconteceria? Derrubaria o veto e
deixaria para a Justiça analisar a constitucionalidade."
Relator do projeto, o senador
Cássio Cunha Lima (PSDB-PB), responsável pela inclusão do reajuste no texto,
disse que a proposta foi construída em conjunto com o líder do governo no
Congresso, deputado André Moura (PSC-SE), sem contestação. André Moura e sua
assessoria não responderam à reportagem.
FOLHAPRESS
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