Violência aumenta em cidades fronteiriças com menor investimento
- 15/08/2018
Relatório preliminar do Instituto
de Desenvolvimento Econômico e Social de Fronteiras (Idesf) aponta que os
municípios fronteiriços que mais sofrem com a violência são aqueles que
apresentam a pior estrutura educacional e de saúde e menos oportunidades de
emprego formais.
“Há uma correlação direta entre a
crescente violência nas localidades e o abandono escolar, a falta de
qualificação profissional e oportunidades para os jovens”, disse à Agência
Brasil o presidente do instituto, Luciano Stremel Barros.
Segundo Barros, os índices de
homicídios são “alarmantes” nas fronteiras com o Paraguai, entre Foz do Iguaçu
(PR) e Porto Murtinho (MS). Os dados mostram que só em Foz do Iguaçu, em 2016,
foram registrados 99 assassinatos, o que equivale a uma taxa de mortalidade por
violência de 37,5 vítimas por grupo de 100 mil habitantes.
Proporcionalmente, Paranhos (MS)
aparece como a mais violenta entre 32 “cidades-gêmeas” avaliadas, aquelas que
ficam lado a lado na fronteira de países diferentes. Embora tenha registrado
oficialmente 15 homicídios ao longo de 2016, o município sul-mato-grossense –
que tem pouco mais de 13 mil habitantes – é o que tem a taxa de letalidade mais
alta, com 109,7 assassinatos por 100 mil habitantes.
O segundo colocado em violência é
Coronel Sapucaia (MS), com uma taxa de 67 homicídios por grupo. O número de assassinatos
cresceu 150% entre 2013, quando foram registrados seis homicídios, e 2016, que
teve 15 ocorrências. A taxa de letalidade passou de 45,72 por grupo de 100 mil
habitantes para 109,7 mortes violentas por grupo.
No mesmo período, a situação de
Coronel Sapucaia melhorou, caindo de 14 assassinatos em 2013 (ou 95,84
homicídios por 100 mil habitantes) para 10 ocorrências (67 x 100.000).
Atlas da violência
Relatório preliminar obtido pela
Agência Brasil mostra que o número de homicídios nas cidades fronteiriças é
inferior ao registrado em Queimados (RJ), apontado como o município mais
violento do país no último Atlas da Violência, do Instituto de Pesquisa
Econômica e Aplicada (Ipea). Na pesquisa, o município aparece com taxa de 134,9 homicídios e mortes violentas
por 100 mil habitantes.
De acordo com a publicação do
Ipea, em 2016, Paranhos chegou a uma taxa de 109,7 homicídios para cada grupo
de 100 mil moradores. Em Coronel Sapucaia ocorreram 73,7 homicídios por cada
grupo de 100 mil habitantes. No caso de Foz do Iguaçu, os números dos dois
institutos coincidem.
“A realidade das fronteiras é
esta. Sofremos com isso, e tanto as autoridades estaduais quanto as federais já
estão cientes. É um grande desafio para todos”, disse o secretário municipal de
Paranhos, Aldinar Ramos Dias, informando que, em geral, as vítimas não moram na
cidade. “Assassinato de moradores é algo muito raro.” Segundo ele, muitos homicídios
não são esclarecidos.
Enfrentamento
O diagnóstico final do Instituto
de Desenvolvimento Econômico e Social de Fronteiras sobre a situação nas
cidades fronteiriças deve ser divulgado na próxima semana. Além de um retrato
sobre segurança pública, o documento trará conclusões sobre quatro eixos que o
instituto considera fundamentais para o desenvolvimento socioeconômico da faixa
de fronteira: educação, saúde, emprego/ renda e finanças.
“Voltamos a alertar que, se não
houver uma estratégia política integrada para a fronteira, o problema tende a
se agravar, com reflexos para todo o país”, afirmou o presidente do instituto,
Luciano Stremel Barros. Ele chamou a atenção para o crescente poder das
organizações "transfronteiriças", como o contrabando que cruza as
fronteiras, "alimentando a violência e ajudando a armar as facções
criminosas".
Procurado pela reportagem, a
assessoria do governo do Mato Grosso do Sul disse que a violência em Paranhos,
Coronel Sapucaia e Ponta Porã é resultado da disputa entre as facções
criminosas brasileira que se instalaram em municípios paraguaios próximos, e
que o estado vem reforçando a presença das forças de segurança pública,
suprindo o que classifica como “ausência das forças federais” na região.
Um primeiro resultado é a maior
apreensão de drogas, que, em 2017, cresceu 42% em comparação ao ano anterior,
saltando de 300 toneladas para 427,5 toneladas. Ao mesmo tempo, o governo
sul-mato-grossense garante estar implantado programas sociais para atender a
população com acesso aos serviços de educação, saúde e geração de emprego e
renda.
Vigilância
O ministro da Segurança Pública,
Raul Jungmann disse, ontem (13) que o governo federal está deslocando cerca de
250 agentes da Força Nacional para reforçar a vigilância das fronteiras, além
de ampliar o número de policiais federais na região. Nova ação conjunta com a
Força Aérea Brasileira (FAB) deve ser desencadeada nos próximos dias.
“Serão ações conjuntas que
incluirão o monitoramento de pequenas aeronaves”, afirmou o ministro,
defendendo a liberação de mais recursos para o desenvolvimento do Sistema
Integrado de Monitoramento de Fronteiras (Sisfron).
Fonte: Agência Brasil
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