12 projetos que ameaçam implodir as contas públicas do Brasil nos próximos anos
- 15/07/2018
Em meio a uma das maiores crises fiscais que o país já
enfrentou, o Congresso aprovou nesta semana uma série de projetos que agradam a
parlamentares e aliados, mas oneram os cofres da União. São medidas que
aumentam os gastos públicos e reduzem a arrecadação ao perdoar dívidas e
multas, e conceder benefícios tributários a diversos setores.
O Congresso correu para votar diversos projetos porque
entrará em férias na próxima semana. A Câmara dos Deputados e o Senado terão
recesso a partir de 18 de julho e voltarão a trabalhar em 1.º de agosto. A
força-tarefa para votar projetos que já estavam em tramitação começou no início
da semana e seguiu até a madrugada desta quinta-feira (12), quando foi aprovada
a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2019.
O problema é que a maioria dos projetos já aprovados ou que
estão em debate com chances de aprovação agrava ainda mais a dívida bruta do
governo geral, que já está em 77% do Produto Interno Bruto (PIB), o maior
percentual da série histórica. Por isso, são chamados de “pautas-bomba”. A
dívida bruta do governo é um dos principais indicadores para avaliação de
solvência por agências de risco, ou seja, para analisar a capacidade que o
governo tem de cumprir seus compromissos.
Caso todo os projetos sejam aprovados e entrem em vigor, a
estimativa de impacto fiscal é de mais de R$ 100 bilhões para os próximos anos.
Para efeito de comparação, somente para custeio básico da máquina pública, como
água, telefone, energia e aluguel de imóveis, o governo gasta cerca de R$ 45
bilhões por ano.
Hoje, mais de 90% dos gastos da União são obrigatórios.
Entre os gastos obrigatórios estão folha de pagamento do funcionalismo e da
Previdência. Somente o que sobra vai para investimentos, políticas públicas e programas
sociais, por exemplo.
Governo refaz as contas para fechar o Orçamento
Enquanto a “pauta-bomba” avança no Congresso, o governo
tenta uma compensação, com medidas que aumentam receita e reduzem gastos na
tentativa de, pelo menos, fechar as contas de 2019. O ministro da Fazenda,
Eduardo Guardia, já fez apelos aos presidentes da Câmara e do Senado para
segurar as votações da chamada “farra fiscal”. Até esta quinta-feira (12), não
teve muito sucesso na sua empreitada.
A situação é delicada para a equipe econômica. Diante de um
governo fragilizado e às vésperas das eleições, o trabalho é praticamente de
enxugar gelo: a cada medida que manda para o Congresso, o resultado, depois das
modificações dos parlamentares, é mais gastos e renúncias.
A área econômica tem até o final de agosto para fechar o
Orçamento do ano que vem e já avisou que vai propor novamente o adiamento do
reajuste dos servidores em 2019 e a tributação dos fundos exclusivos para
clientes de alta renda. A primeira medida poderia economizar de R$ 6 bilhões
(servidores civis) a R$ 11 bilhões (se incluir os militares). Já a tributação
dos fundos renderia outros R$ 6 bilhões só para a União.
Confira os principais projetos da pauta-bomba do Congresso e
o estágio de tramitação
1) Compensação da União aos Estados pela desoneração do ICSM
à exportação
Impacto: R$ 39 bilhões ao ano
Projeto: obriga a União a transferir, todos os anos, R$ 39
bilhões a estados e Distrito Federal como uma compensação pela não incidência
de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) sobre as
exportações de bens primários semielaborados e operações entre entes da
federação que são destinadas à industrialização e comercialização.
Tramitação: aprovado em comissão mista, segue para
apreciação nos plenários da Câmara e Senado
2) Benefício para transportadoras e caminhoneiros autônomos
Impacto: R$ 27 bilhões até 2020
Projeto: o texto prevê que as transportadoras possam retirar
da base de cálculo de impostos uma parcela dos seus custos operacionais, como
pedágio. As empresas e caminhoneiros autônomos que aderirem a um plano de
renovação de frota serão isentos de PIS/ Cofins e IPI na compra de caminhões. O
valor pago em pedágios pelas empresas ainda poderia ser abatido do Imposto de
Renda. Há, ainda, a possibilidade de anistia de multas emitidas por evasão de
fiscalização.
Tramitação: aprovado na Câmara, segue para o Senado
3) Refis para dívidas do Funrural
Impacto: R$ 13 bilhões ainda em 2018
Projeto: prevê o parcelamento tributário (Refis) das dívidas
do agronegócio com o Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural (Funrural).
Tramitação: o projeto foi aprovado na Câmara e no Senado.
4) Refis do Simples
Impacto: R$ 7,8 bilhões por ano
Projeto: prevê o parcelamento tributário de dívidas (Refis)
das pequenas e médias empresas que recolhem impostos pelo Simples Nacional, o
regime tributário diferenciado para pequenos negócios que faturam até R$ 4,8
milhões.
Tramitação: o projeto foi aprovado na Câmara e no Senado
5) Revogação do benefício para refrigerantes
Impacto: R$ 1,78 bilhão ao ano
Projeto: o Senado reverteu a medida do governo que reduziu a
alíquota de IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) sobre concentrados de
refrigerantes de 20% para 4%. Quanto menor a alíquota, menos créditos fiscais
para abater outros impostos são gerados pelo setor.
Tramitação: o Senado reverteu a medida, e agora o projeto
segue para a Câmara.
6) Manutenção do reajuste salarial a servidores
Impacto: R$ 8 bilhões
Projeto: o relatório da LDO (Lei de Diretrizes
Orçamentárias) previa que o reajuste dos servidores não fosse concedido no ano
que vem. Mas esse ponto foi derrubado no Congresso. Os parlamentares derrubaram
trechos que vedavam a aprovação de reajustes a servidores públicos e que
obrigavam o próximo governo a cortar 5% das despesas com custeio administrativo
no ano que vem.
Tramitação: a vedação ao Reajuste foi derrubada pelo
Congresso
7) Reinclusão de empresas no Simples
Impacto: não estimado
Projeto: Senado aprovou por unanimidade um projeto que
permite que empresas excluídas do Simples Nacional por dívidas tributárias .
Matéria já tinha sido aprovada pela Câmara
Tramitação: aprovada na Câmara e no Senado. Segue para
sanção
8) Permissão para venda direta de etanol
Impacto: R$ 2,4 bilhões ao ano
Projeto: suspende parte da Resolução 43/09, da Agência
Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) para liberar a venda
direta de etanol pelos produtores aos postos. Adoção pode gerar perdas
tributárias de até R$ 2,4 bilhões ao ano.
Tramitação: aprovada no Senado. Segue para a Câmara
9) Renovação Sudene e Sudam e inclusão Sudeco
Impacto: R$ 9,3 bilhões até 2020
Projeto: prorroga incentivos fiscais para empresas
instaladas nas áreas de atuação das superintendências do Desenvolvimento da
Amazônia (Sudam) e do Nordeste (Sudene). Ela também concede o mesmo benefício a
empresas instaladas na Superintendência de Desenvolvimento do Centro-Oeste
(Sudeco).
Tramitação: na Câmara
10) Criação de novos municípios
Impacto: não estimado
Projeto: estabelece regras para criação de municípios no
Brasil. Até 300 novos municípios podem vir a ser criados com a medida.
Tramitação: na Câmara.
11) Tesouro deve financiar juros de precatórios de Estados e
municípios
Impacto: não calculado
Projeto: quando o Congresso aprovou uma emenda
constitucional no final do ano passado, incluiu um artigo que obriga a União a
subsidiar o pagamento de precatórios de Estados e municípios.
Tramitação: A emenda foi aprovada pelo Congresso; a equipe
econômica avalia como acomodará essa despesa
12) Reajuste para agentes comunitários de saúde
Impacto: não estimado
Projeto: Congresso aprovou o reajuste do piso salarial para
agentes comunitários de saúde. Pela proposta, que segue para sanção
presidencial, o piso passa de R$ 1.014 para R$ 1.500 até 2021.
Tramitação: o projeto foi aprovado pelo Congresso
Gazeta do Povo
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