Demanda por leite materno sobe e número de doadoras cai durante a pandemia
- 20/05/2020
Maio é o mês das mães. E depois do dia delas, propriamente, uma das datas mais marcantes e importantes do quinto mês do ano celebra-se agora, com a Semana Nacional de Doação do Leite Humano. E o momento, inclusive, não poderia ser mais oportuno. Isso porque, em decorrência de todos os reflexos causados pela crise do coronavírus, o número de doadoras registrou queda no Paraná, ao mesmo tempo em que aumentou a demanda por leite materno.
De acordo com a médica Juliana Paratella André Roveda, coordenadora técnica da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Neonatal do Hospital Universitário Evangélico Mackenzie, dois pontos ajudam a explicar o aumento da demanda, que foi de aproximadamente 30%.
O primeiro deles é que, em decorrência da Covid-19, foi necessária a imposição de restrições no acesso das mâes à UTI, para reduzir o risco de contágio. Dessa forma, elas não conseguem amamentar adequadamente seus filhos (aqueles que já conseguem mamar, claro), o que se traduz em necessidade de maior utilização de leite do Banco de Leite do Hospital.
Além disso, a Maternidade Bairro Novo, da Prefeitura de Curitiba, transferiu temporariamente o atendimento para outras maternidades para poder atender pacientes de baixa complexidade com suspeita de Covid-19. Dessa forma, os partos e consultas que estavam agendados para lá foram transferidos para o Evangélico Mackenzie. “Se temos mais nascimentos, também temos mais bebês indo para a UTI. E esse excedente de bebês que tem nascido também aumentou a demanda sobre o nosso banco de leite”, explica a especialista.
Ao mesmo tempo em que a demanda cresceu entre 30 e 40%, contudo, o número de doadoras também acabou caindo. Em fevereiro, por exemplo, havia 171 mães contribuindo para com o Banco de Leite. Na ocasião, 44 bebês estavam recebendo esse alimento. Em abril, já eram 112 doadoras e 72 receptores, o que significa que o número de doadoras caiu 52,7% ao mesmo tempo em que o número de bebês precisando de leite materno cresceu 63,6%.
“É importante as mães entenderem sua importância nesse momento. Todos estamos expostos a uma ansiedade absurda e isso diminui muito a produção de leite. Mas quem sabe da importância de seu leite bloqueou essas coisas e continuou produzindo. É a vontade de ajudar, e nesse momento cada um ajuda como pode”, afirma Juliana Roveda. “Leite materno é vida. E quando falamos em prematuros, isso pode ser colocado num exponencial”, complementa.
Doadoras aumentam produção e ajudam a equilibrar situação
Se a demanda aumentou e o número de doadoras caiu, a boa notícia, por outro lado, é que aquelas mães que continuaram doando leite conseguiram aumentar sua produção, equilibrando, ao menos por enquanto, a situação no Banco de Leite. Em fevereiro, por exemplo, haviam sido 146,1 litros. Em abril, chegou-se a 174,5 litros.
Até aqui, a maior doadora no ano é Bhedlyn Sena, que já contribuiu com 15,27 litros para o Banco de Leite. O bebê dela nasceu prematuro extremo, com apenas 25 semanas de gestação, e hoje completa 100 dias que está no hospital – a expectativa é que em breve ele receba alta, faltando apenas o bebê aprender a mamar no peito, já que ficou muito tempo com a sonda e não tem ritmo de mamada.
A ideia de começar a doar, conta ela, veio de funcionárias do hospital. Como não poderia amamentar o filho ainda e nutria a esperança de vir a fazê-lo um dia, ela resolveu continuar estimulando a produção, algo que também recomenda outras mães a fazer. “Sempre falo pras mães doarem. Isso faz bem para você, estimulando para continuar tendo produção. Assim, quando seu filho ganhar alta, quem sabe você consegue amamentar ele. Além disso, você está ajudando um monte de crianças.”
Outra doadora é Elizangela Aparecida de Campos. Ela é supervisora de engenharia do Hospital e mãe de Davi, que está com oito meses de vida. Ela conta que começou a doar em março seu leite. “É uma via de mão dupla. Eu doando leite ajudo outros bebês e o meu corpo continua produzindo leite para eu poder amamentar em casa. Se eu ficar o dia inteiro sem doar, meu corpo vai diminuindo a produção. Doando, estimulo a produzir mais e continuo amamentando meu filho”.
Ministério da Saúde lança campanha de sensibilização
O Ministério da Saúde lançou, ontem, data em que comemora-se o Dia Mundial de Doação de Leite Humano, campanha para sensibilizar e mobilizar as doações de leite materno, mesmo durante a pandemia da Covid-19.
O ministério alerta que com os cuidados necessários, tanto da doadora quanto dos Bancos de Leite, é possível manter a rotina de doação. Com o slogan “Doe leite materno. Nessa corrente pela vida, cada gota faz a diferença”, a campanha tem o objetivo de estimular doações durante todo o ano. De janeiro a abril deste ano, houve redução de 5% no número de doadoras em relação ao mesmo período de 2019.
Neste ano, diante do momento de emergência pública que o país enfrenta, até o momento, por conta do coronavírus, a orientação do Ministério da Saúde é que mulheres saudáveis continuem doando leite, mesmo que o pote não esteja cheio. Cada pote de leite humano pode ajudar até 10 recém-nascidos. É importante tomar alguns cuidados, como: somente doar se estiver saudável, verificar nos postos de coleta e bancos de leite humano a necessidade de agendamento para evitar aglomerações e seguir as orientações para coleta segura. Caso a mulher tenha sintomas de gripe ou morar com alguém que apresente esses sintomas, deverá suspender a doação nesse período.
O Brasil possui a maior e mais complexa rede do mundo. A Rede Global de Bancos de Leite Humano (RBLH) é uma iniciativa do Ministério da Saúde, por meio do Instituto Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz). São 224 Bancos de Leite Humano e, ainda, 217 postos de coleta, além da coleta domiciliar em alguns estados. As possíveis doadoras podem obter mais informações pelo site saude.gov.br/doacaodeleite ou pelo telefone 136.
Médica explica a importância para o bebê
Coordenadora técnica da UTI Neonatal do Hospital Universitário Evangélico Mackenzie, a médica Juliana Roveda explica que o leite materno é fundamental para qualquer bebê, mas mais ainda para os prematuros. Isso porque os bebês prematuros tem, primeiramente, dificuldade para digestão, devido ao fato de também terem um intestino prematuro.
Além disso, há o risco de infecção numa UTI, e o leite materno garante parte da defesa do bebê, reforçando o sistema imunológico do mesmo – algo que nem mesmo os melhores leites produzidos pela indústria é capaz de fazer.
RÁPIDA:
BANCOS DE LEITE E PONTOS DE COLETA
Com inf, Rodolfo Luis Kowalski | Fotos: Franklin de Freitas
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