Temer faz aceno aos militares: Presidente nomeia general para pasta da Defesa

  • 27/02/2018

Nunca em quase 30 anos de redemocratização os militares tiveram tanto protagonismo como agora. Primeiro, foi a nomeação de um general como interventor federal na área de segurança no Rio de Janeiro. Nesta segunda-feira, ao efetivar a criação do Ministério de Segurança Pública, o presidente Michel Temer(MDB) fez mais um movimento no tabuleiro político para fortalecer as Forças Armadas, o que deve interferir na iminente sucessão no comando do Exército. Com o deslocamento de Raul Jungmann para a nova pasta, a vaga na Defesa ficou com o general Joaquim Silva e Luna.
É a primeira vez, desde 1999, que um militar assume o Ministério da Defesa. Foi o então presidente FHC (PSDB) quem extinguiu as pastas do Exército, da Aeronáutica e da Marinha e concentrou as três em uma só. Era o simbolismo final para afastar qualquer eco da ditadura militar (1964-1985): o comando político civil das três forças. Ao nomear Luna para a função, ainda que interinamente, Temer rompe com essa tradição e prestigia os militares, que com a intervenção federal no Rio de Janeiro assumiram, ainda que não de todo confortáveis e exigindo mudanças legais, a linha de frente do combate à criminalidade organizada.
Se a intervenção federal é lida como uma tentativa do presidente de elevar o seu prestígio junto ao eleitorado mais conservador e lançar a sua candidatura para a reeleição neste ano, segundo afirmam  aliados e opositores, a aliança de Temer com os militares vem sendo cultivada há mais tempo. Desde que assumiu a presidência da República, em maio 2016, Temer, com velhas ligações com a área de segurança - ele foi secretário da área em São Paulo no anos 80, tem buscado essa proximidade. Nos últimos dois anos, o emedebista participou de ao menos dez encontros com comandantes das Forças Armadas. Neste ano, essa aproximação se intensificou. Só nos dois primeiros meses de 2018, foram quatro reuniões oficiais, conforme consta de sua agenda pública divulgada pelo Palácio do Planalto. Na semana passada, pela primeira vez desde a redemocratização, um presidente visitou o Ministério da Defesa.
Toda essa costura acontece às vésperas da mudança de comando no Exército, a força com maior contingente - 215 mil pessoas. No próximo mês, o atual comandante da força terrestre, o general Eduardo Villas Bôas, entrará para a reserva – ou seja, ele se aposentará. Dois de seus possíveis sucessores, no entanto, ocupam cargos chaves para a gestão federal e, possivelmente, não deixarão suas cadeiras vazias. O general Sérgio Etchegoyen, ministro do Gabinete de Segurança Institucional, era um dos favoritos para substituir Villas Bôas. Etchegoyen tem cada vez mais prestígio com o presidente - ultimamente tem sido requisitado quase todos os finais de semana para participar de encontros reservados com Temer - e é da ala que defende o papel ativo dos militares na segurança pública se preciso. O outro cotado é justamente o novo ministro da Defesa, general Luna. Ele já foi chefe do Estado maior do Exército (o número dois da corporação) e, até domingo passado, era o secretário-executivo da pasta que agora comanda.O próprio general Villas Bôas, ativo no debate da intervenção e dono de uma conta no Twitter com 80.000 seguidores, tem papel relevante em sua sucessão. Acometido com uma doença degenerativa que interfere em sua locomoção, o general não ouviu as sugestões para se afastar das funções. Decidiu ficar no cargo até este março, quando quatro de seus potenciais sucessores já terão entrado para a reserva. Villas Bôas quis evitar que militares com visões distintas da dele assumissem a função. Dessa forma, ele impediu que chegassem ao topo da carreira os generais Hamilton Mourão (um defensor da intervenção militar no país), João Camilo Pires de Campos, Juarez Aparecido de Paula e Theophilo Gaspar de Oliveira. Dado esse quadro, ventila-se que o favorito para comandar a tropa é Fernando Azevedo e Silva, ex-autoridade pública olímpica e chefe do Estado-Maior.

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